Em vias de extinção em 2012, a declinar em 2021

Em 25 de Abril de… 2012, a malária estava em vias de extinção, segundo o órgão oficial do MPLA (Jornal de Angola), em 2021 o surto de malária que Angola registou, nos últimos meses, com quatro milhões de casos e acima de 5.000 óbitos, “está a declinar”, anunciou hoje o secretário de Estado para a Saúde Pública, Franco Mufinda.

O governante angolano falava à imprensa à margem do seminário sobre o Mapeamento de Riscos com Impacto na Saúde Pública, que hoje arrancou em Luanda e decorre até quinta-feira, com o apoio da Organização Mundial da Saúde (OMS).

Franco Mufinda disse que o país registou um surto epidémico de malária em todo o país, que afectou com maior gravidade crianças.

“Mas estamos a conseguir dar resposta à malária. Estamos a falar de quatro milhões de casos e pouco mais de 5.000 óbitos”, referiu o governante, salientando que diariamente tem sido analisada a situação epidemiológica com os gabinetes provinciais de saúde, que partilham informação sobre a situação no terreno.

Segundo o secretário de Estado para a Saúde Pública, apesar da atenção à pandemia da Covid-19, o Governo conseguiu já realizar a aquisição de medicamentos que está a distribuir às unidades sanitárias, bem como testes rápidos para testar e tratar.

“Isso ajuda-nos muito neste momento a termos menos casos graves e a evitar mais óbitos”, disse o governante, lembrando que a situação foi grave no Huambo, Benguela e também em Luanda.

“Nos finais de semana e ao longo da semana estamos nos hospitais para medir a sensibilidade, orientando os colegas, pondo os meios [à disposição], para reduzir cada vez mais o impacto negativo da malária. A tendência é o declinar do processo, os casos baixaram muito”, afirmou.

“Recordo-me que quando fui ao Huambo encontrei uma sobrelotação do hospital, acima da capacidade, por aí 150%, hoje, de 300 doentes internados [no passado], estamos a falar de 56, isso para trazer uma imagem do que está a acontecer nas unidades”, acrescentou.

Além do Huambo, Luanda também já reduziu muito a sobrelotação, prosseguiu Franco Mufinda, indicando que “sítios onde havia duas crianças ou até três a partilharem a mesma cama, hoje há camas vazias, isso é a expressão de que a resposta que se está a dar está a surtir efeito”.

Angola registou, entre Janeiro e Maio de 2021, 3.799.458 casos de malária e 5.573 óbitos, representando um acréscimo de casos, mas uma redução de mortes face ao período homólogo, segundo a ministra da Saúde angolana.

Sílvia Lutucuta apresentou no dia 17 de Junho os dados numa conferência de imprensa em Luanda, notando que a malária tem sofrido um ligeiro (segundo os dados oficiais que, contudo, estão muito longe da realidade) incremento no número de casos nos últimos três anos, com ligeiro decréscimo do número de óbitos.

Os casos reportados este ano, com uma taxa de letalidade de 0,1%, significam mais 322.717 casos e menos 102 óbitos relativamente aos primeiros cinco meses de 2020.

Entre Janeiro e Março de 2021, face ao mesmo período de 2020, a situação da malária foi de baixa intensidade e, a partir de Abril, após a época chuvosa houve um aumento superior ao registado no mesmo período de 2020, adiantou a governante.

A malária é a principal causa de morte do país, afectando mais as mulheres grávidas e as crianças com menos de 5 anos, em termos de mortalidade. No caso das famílias vulneráveis, a anemia severa e a malnutrição são complicações frequentemente associadas à malária, provocando maior número de óbitos.

Por esta altura, continuou Sílvia Lutucuta, as províncias mais afectadas são Luanda, Lunda Norte, Malanje, Uíje, Bié, Benguela, Huambo e Huíla onde tem havido uma procura elevada da população, aumentando a pressão assistencial nas unidades sanitárias, mais visível no atendimento pediátrico.

Além da malária, que é endémica, é de grande preocupação (é uma afirmação que tem 45 anos de vigência) para o executivo angolano, actualmente, a dengue, que ocorre em muitos casos associada à chikungunya ou catolotolo, à leptospirose e à Covid-19.

Ao contrário do que diz Sílvia Lutucuta, as principais medidas para combater estas doenças era ter governos competentes e sérios. Como não tem, a ministra fala de eliminação dos focos criadores de mosquitos, através de acções enérgicas de saneamento ambiental e combate químico, através do uso de insecticida nas áreas infestadas, bem como sensibilização da população para a mudança de comportamentos ambientais, de forma a tratar as causas e não as consequências.

O Ministério da Saúde (Minsa) está a reforçar (diz o mesmo há 45 anos) as suas orientações metodológicas, cabendo às províncias e municípios a sua operacionalização. Está também a implementar um plano de contingência multissectorial de resposta à malária, bem como um plano emergencial relativo às arboviroses, a reforçar a vigilância e a busca de casos, bem como a logística para o tratamento de casos e melhoria de fluxos para atendimento de doentes.

Foi iniciada em Benguela, Luanda e Huambo, a criação de unidades-satélite para tratamento de malária e dengue, sobretudo nas unidades pediátricas, disse ainda a responsável do ministério.

A malária, doença que tem ceifado a vida de milhares de pessoas e que constitui uma emblemática demonstração da incompetência governativa do MPLA nos últimos 45 anos, pode ser eliminada em Angola até 2030, admitiu em Luanda o coordenador nacional do Programa de Luta Contra a Malária, José Martins, numa mesa-redonda inserida nas Primeiras Jornadas Multidisciplinares do Hospital Geral de Luanda.

Para além de ser a principal causa de morte em Angola, a malária é igualmente a responsável pela maior taxa de absentismo escolar e profissional. A doença representa cerca de 35% da demanda de cuidados curativos, 20% de internamentos hospitalares, 40% das mortes perinatais e 25% de mortalidade materna.

O quadro epidemiológico de Angola é caracterizado por doenças transmissíveis e parasitárias, com destaque para as grandes endemias como a malária, o HIV/SIDA e a tuberculose, juntando-se as doenças tropicais negligenciadas, como tripanossomose humana africana. O norte do país continua a ser mais afectado devido às suas características geográficas, sendo as regiões mais endémicas as províncias de Cabinda, Zaire, Uíge, Cuanza Norte e Sul, Malange, e as Lundas Norte e Sul.

Folha 8 com Lusa

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