(Filan)tropia da família real

“Trinta toneladas de bens diversos seguiram via aérea, esta terça-feira, (13), para a província do Cunene, para acudir às populações daquela região do Sul do país vítimas da seca, uma iniciativa do Presidente da República, João Lourenço”, afirma o Jornal de Angola.

Não. Não é uma iniciativa do Governo. É uma iniciativa do Presidente da República. Na verdade, para além o servilismo canino do JA, é uma das muitas formas possíveis: Presidente do MPLA, Titular do Poder Executivo, Presidente da República, DDT (Dono Disto Tudo), “Escolhido de Deus (II)”, rei etc. etc..

Em toda a Lusofonia (ainda alguém sabe o que isso é?), os que têm, pelo menos, três refeições por dia têm razões para cantar e rir. E por isso vão comendo, cantando e rindo. E os milhões que nem um prato de pirão têm? Só em Angola, mesmo considerando a balofa filantropia de João Lourenço, são cerca de 20 milhões…

A malária continua a matar as crianças angolanas, sobretudo as que pertencem a essa “etnia” que o MPLA/Estado/regime considera angolanos de segunda. Ou será de terceira? O que vale, dirá o governo de João Lourenço, é que esta doença que mais mata no nosso país não atinge todas as regiões. É verdade. O MPLA tem “ilhas” privadas e privativas onde a malária não entra. E se entrar há sempre um avião pronto a deslocar para os EUA, Espanha, Portugal ou… Dubai.

Em todo o Mundo, mais 800 milhões de pessoas sentem todos os dias, a todas as horas, o que é a fome. Quase todas nasceram com fome, sobreviveram com fome e morrem com fome. Neste caso, como noutros, Angola também não deixa os seus créditos por fomes alheias.

Muitos delas pertencem à Lusofonia, apesar de os responsáveis por essa aberração chamada Comunidade dos Países de Língua Portuguesa continuarem a ter (pelo menos) três lautas refeições por dia. O contributo lusófono para esta dramática cifra é relevante, pese a passividade e indiferença criminosa dos países que (des)integram a CPLP.

Mais do que o peixe, os milhões de famintos da Lusofonia precisam de aprender a pescar. Mas quem é que os pode ensinar? Se calhar poderia ser o Estado. No nosso caso, o MPLA que é o Estado há 45 anos. Mas este não o faz porque a mandioca, ou farelo, não se… pescam.

Em todo o Mundo, 1,1 mil milhões de pessoas não têm acesso a água potável; 2,5 mil milhões não têm saneamento básico; 30 mil morrem diariamente devido ao consumo de água imprópria. Esta é, igualmente, uma realidade da Lusofonia e conta com um grande contributo angolano. Seja como for, os responsáveis da CPLP continuam a beber da melhor água… no mínimo.

O argumento da guerra (sobretudo em Angola e Moçambique, mas não só) serviu às mil maravilhas para que esse elefante branco que dá pelo nome de CPLP, enquanto organização que congrega os países lusófonos, dissesse que só podia – quando podia – mandar algum peixe. Para ensinar a pescar era imprescindível a paz. E agora?

Segundo declarações de José Eduardo dos Santos, que “só” esteve no poder 38 anos sem nunca ter sido nominalmente eleito, existia a esperança de que “a vontade política que norteia a CPLP, bem como as excelentes relações entre os seus membros dêem lugar a programas concretos que fomentem o crescimento económico, a erradicação da pobreza e a integração social, para que a médio/largo prazo pudéssemos estar todos no mesmo patamar de desenvolvimento”.

E acrescentou: “Deve-se, por isso, pensar muito seriamente na criação de facilidades financeiras para a promoção recíproca do investimento e da cooperação económica”.

Todos estão de acordo. Só que… continua a não fazer sentido pedir aos pobres dos países ricos para dar aos ricos dos países pobres. Ou será que continua? Pelos vistos os doadores estão de acordo. E, é claro, os reais beneficiados (no caso de Angola, os ricos de um país rico) também alinham. Pudera!

Em vez de se preocupar com o povo que não pode tomar antibióticos (e não pode porque eles, quando existem, são para tomar depois de uma coisa que o povo não tem: refeições), Angola mostra-se agora mais virada para questões políticas, nas quais cabe a punição de quem seja corrupto e de quem branqueie capitais. Isto se forem pilha-galinhas. Se forem donos do aviário a coisa muda de figura. Aí gozam de impunidade garantida pela lei das leis do MPLA/Estado, cujo patrono é a mais emblemáticas figura da honorabilidade angolana – João Lourenço.

Que adiantará ter uma suposta democracia quando se tem a barriga vazia? Valerá a pena pedir, ou exigir, aos jovens manifestantes angolanos que respeitem a legalidade se o que eles querem é apenas que o povo não morra à fome?

Em 2020, a Primeira-Dama, Ana Dias Lourenço, avaliou com a ministra de Estado para a Área Social, Carolina Cerqueira, e a titular da pasta da Saúde, Sílvia Lutukuta, o quadro da pandemia da Covid-19 em Angola e o impacto nas populações mais vulneráveis.

Segundo o Jornal de Angola, na audiência, que decorreu no Palácio Presidencial, o foco foram as mulheres grávidas, no âmbito do programa “Nascer Livre para Brilhar” que tem como objectivo reduzir a transmissão vertical do VIH/Sida. Segundo Carolina Cerqueira, o encontro serviu para informar a Primeira-Dama sobre os programas de assistência às populações, com prioridade para o acompanhamento às mulheres grávidas, no sentido de serem testadas e, no caso de diagnóstico positivas, serem sujeitas a tratamento.

“Ela deu-nos conselhos muito interessantes, como o mapeamento e a estatística que devemos fazer neste momento em relação às populações vulneráveis e com necessidades especiais, que vão permitir termos dados específicos e valiosos para o trabalho e actividades futuras com as comunidades” enfatizou a ministra de Estado.

De acordo com a responsável, desde a implementação da campanha “Nascer Livre para Brilhar”, nota-se a diminuição do estigma das populações em assumirem que têm a doença e sujeitarem-se aos testes para tratamentos voluntários. Carolina Cerqueira disse que a Covid-19 permitiu identificar e pôr em evidência a vulnerabilidade das populações, em particular das famílias mais necessitadas.

Quem diria? Se não fosse a Covid-19, Carolina Cerqueira não teria a certeza da vulnerabilidade das populações. Assim, roguemos que apareçam outros vírus (para além do pai de todos eles, o MPLA) para que a ministra saiba que, por exemplo, temos 20 milhões de pobres, uma elevadíssima taxa de mortalidade infantil e que a malária continua a matar.

Segundo o JA, para inverter o quadro estava em desenvolvimento um plano multissectorial, no qual intervêm o Ministério da Família, Defesa e Antigos Combatentes e Saúde através de fornecimento de material de biossegurança e medicamentos. Várias igrejas foram chamadas a ajudar na identificação das famílias mais vulneráveis e necessitadas, para que não haja discriminação na distribuição do apoio em alimentos.

“Temos consciência da agudização da pobreza, que advém do próprio estado em que as populações deixaram de exercer qualquer tipo de actividade socialmente útil”, disse a ministra de Estado, para acrescentar que o “problema dos mercados informais, que ficaram sujeitos a determinadas regras que impedem as pessoas façam o trabalho a que estavam habituadas”.

E que tal recordar, continuar a recordar, à ministra Carolina Cerqueira, que ao contrário da esmagadora maioria dos seus colegas de governo não tem o cérebro no intestino (grosso), que esta desgraça já dura há décadas e resulta apenas da criminosa governação do MPLA?

Em relação a Luanda, Carolina Cerqueira lembrou ser uma cidade congestionada (novidade), onde o emprego não consegue abranger todas as camadas sociais (novidade), sobretudo a juventude, o que leva a que a responsabilidade social do Executivo seja acrescida, tanto do ponto de vista social como da solidariedade às populações que se encontram confinadas, cujas necessidades são inúmeras.

A mesma Mamãe, outros planos

A melhoria do bem-estar dos cidadãos e da qualidade de vida das famílias angolanas, a redução da pobreza e das desigualdades e a promoção do nível de desenvolvimento humano são condições essenciais para o progresso económico e social de Angola. Quem disse? Obviamente Ana Dias Lourenço.

Há 45 anos que se sabe de tudo isto, mas voltamos à política de virar o disco e tocar o mesmo. Neste caso com outros “músicos”. E assim a farra continua.

Numa mensagem aos participantes do Fórum Nacional da Mulher Rural e das Micro-finanças, realizado em Outubro de… 2018, em Luanda, Ana Dias Lourenço apresentou a sua terapêutica para melhor enquadrar a abordagem desta problemática no contexto do desenvolvimento económico e social integrado e sustentável que, presume-se, um dia chegará a Angola.

Segundo Ana Dias Lourenço, o desenvolvimento local, como forma de reduzir a pobreza no meio rural, e o empoderamento da mulher devem ser vistos como as apostas do Governo para conferir e reconhecer às mulheres rurais o seu papel na construção de uma sociedade mais justa e equilibrada. Foi em 2018.

Num país que já não é de partido único mas que continua a ser de um único partido, para falar destas questões basta consultar os manuais do MPLA, ter estômago para continuar a mentir, repetir a mesma receita com alguns novos retoques de marketing, ter o cérebro no intestino (grosso) e fazer-se de conta que o autor só ontem chegou ao país e que, por isso, nada tem a ver com o que foi anteriormente feito.

Para Ana Dias Lourenço, o investimento e as modalidades do seu financiamento concorrem para regenerar o sector agro-pecuário e conferir-lhe capacidade para fixar as populações, desenvolver a agricultura familiar e reconhecer o tremendo papel da mulher rural, em todo este contexto de adversidades, mas também de oportunidades e desafios. Ou seja? Vai tudo continuar na mesma porque, mais uma vez, o diagnóstico tem muitos anos mas a medicação usada para tratar a “doença” é feita à base de farinha (placebo) para que o doente pense que está a ser medicado.

A Primeira-Dama alertou que sem investimento, no princípio do processo de produção, e sem infra-estrutura, que confere rendibilidade ao investimento, as tendências de desequilíbrio demográfico e económico entre o interior e o litoral vão continuar a acentuar-se no futuro. Tem razão. Vão continuar a acentuar-se, tal como tem sido prática desde 1975. Mas, de facto, o importante no país não é fazer-se mas, apenas, dizer que se vai fazer.

Ana Dias Lourenço apontou a questão das micro-finanças e do associativismo como modalidades de apoio ao desenvolvimento da actividade produtiva das mulheres rurais. Novidade? Nenhuma. Mas que fica sempre bem ver alguém que, aliás, até foi ministra, dizer o óbvio, repetir o óbvio, isso fica. Não alimenta, não resolve, não cura… mas disfarça e distrai.

Segundo Ana Dias Lourenço, são as mulheres a principal força de funcionamento das economias agrárias familiares e às quais os apoios governamentais não têm sido suficientemente substantivos e sustentáveis. Pois não têm. E de quem é a culpa? Provavelmente das mulheres, neste caso, que não conseguem transformar a mandioca em lagosta e que estão sempre à espera que seja o Governo a resolver a questão. Ora o Governo tem outras prioridades, como por exemplo a construção de mais um satélite. Portanto…

Em muitos casos, de acordo com a Primeira-Dama, a mulher rural é a principal fonte do rendimento familiar, por meio do trabalho nas lavras e nas pequenas unidades de produção agrária. É verdade. Mas como a verdade não enche barriga, o melhor mesmo é elas voltarem às lavras e fazerem de conta que o problema só se resolverá quando Angola for… independente.

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