A agência de notação Moody’s considera que a principal questão sobre a evolução do “rating” de Angola é a questão de saber se o Governo vai conseguir refinanciar a dívida de curto prazo e as necessidades de financiamento. Fiado, precisa-se!
“Estamos agora a focar-nos no que víamos antes da pandemia, que é saber se o Governo conseguirá refinanciar a dívida de curto prazo e reduzir as necessidades de financiamento, dando assim mais flexibilidade às opções”, diz a directora do grupo de análise do risco soberano na agência de notação financeira Moody’s.
Em declarações à Lusa, Marie Diron explicou que as duas descidas de “rating” levadas a cabo no ano passado resultaram do aumento do rácio da dívida face ao Produto Interno Bruto (PIB), na sequência da pandemia de Covid-19, e vincou que a depreciação da moeda foi importante para a evolução das contas públicas.
“Descemos de B3 para Caa1 na altura em que moeda estava significativamente pressionada devido à liberalização da moeda, o que se traduziu automaticamente num fardo de dívida mais elevado, à volta de 100% do PIB, e durante a pandemia e o choque petrolífero, em 2020, vimos um período de esforços do Governo para reestruturar a dívida e pagar dívida de curto prazo, reduzindo as necessidades de financiamento”, lembrou Marie Diron.
“A descida dos preços do petróleo tornaram este exercício mais difícil, mas agora com a recuperação dos preços do petróleo há mais espaço orçamental, e antevemos que o orçamento deste ano seja equilibrado, com um alívio da pressão sobre a moeda”, salientou a analista.
A Moody’s analisa 28 países em África, que vão de A3, do Botsuana, até ao Ca, da Zâmbia, havendo uma concentração de opinião sobre a qualidade do crédito mais no limite inferior da escala, “reflectindo os constrangimentos devido aos baixos níveis de rendimento que dificultam a resiliência a choques, constrangimentos orçamentais e de dívida, que já estava a subir mesmo antes da pandemia”, disse Marie Diron, notando que dois terços das perspectivas de evolução dos “ratings” estão estáveis.
“Isto indica que a nossa opinião sobre a qualidade do crédito soberano está bem posicionada para um período de recuperação muito gradual e desigual, com os governos a precisarem de tempo para recuperarem a base de receitas”, concluiu a analista.
O que dizia a Moody’s em Março de 2019
Para a agência financeira Moody’s, o “perfil de crédito de Angola reflecte uma “baixa força económica” com “perspectivas económicas modestas”, acrescentando os peritos (que, é claro, se esqueceram de ouvir os seus homólogos do… MPLA) que a solidez financeira é “muito baixa”. Tudo normal e na santa paz (e sabedoria) de quem nos “governa” desde 1975.
Assim, a Moody’s considerou que o “rating” atribuído a Angola (B3) é adequado devido à forte subida do endividamento durante a queda dos preços do petróleo e às “modestas” perspectivas de evolução da economia.
O perfil de crédito de Angola reflecte uma “baixa” força económica, com perspectivas económicas modestas a médio prazo e níveis relativamente baixos de riqueza numa economia petrolífera caracterizada pelos baixos níveis de diversificação e competitividade”, lia-se numa nota da Moody’s. então revelada (Março de 2019).
Na análise, que pretendia averiguar se os “ratings” atribuídos a vários países e bancos africanos estava adequada não só aos pares, mas também às condições da economia, os peritos da Moody’s lembravam que a solidez financeira era “muito baixa’, “em parte devido ao rápido crescimento da dívida durante o choque petrolífero, excedendo 75% do PIB (Produto Interno Bruto) em 2018″.
A força institucional “muito baixa’, afirmavam, “é indicativa da fraca capacidade das autoridades no que diz respeito à eficácia do governo e à capacidade para implementar políticas”.
Essa não! Fraca capacidade das autoridades? Será que os peritos da Moody’s não levam em linha de conta a análise do Presidente da República de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa?
A permeabilidade a um evento de risco, por seu turno, era “moderada”, essencialmente devido aos riscos de falta de liquidez, que foram “potenciados pelo alto nível de endividamento” nos últimos anos.
Estávamos em Dezembro de 2015. Um estudo da Moody’s dizia que o sistema financeiro angolano era (era?) o mais vulnerável em África, considerando 32 países analisados.
No estudo ao sistema financeiro de Angola, a Moody’s considerava que o cenário em cinco das seis alíneas analisadas iria degradar-se em 2016: o ambiente das operações, o risco dos activos, o lucro, o financiamento e a liquidez, e o apoio do Governo. A única alínea que não deveria piorar era a que analisava o capital, que a Moody’s previa que se manteria estável em 2016.
“Os crescentes riscos de crédito vão ser equilibrados contra lucros resilientes, almofadas de capital sólidas e financiamento baseado nos depósitos”, escreveu a agência de notação financeira no relatório ‘Banking – Africa 2016’.
“Os sistemas bancários mais vulneráveis são Angola, Nigéria e o Gana”, acrescentava o documento, onde se lia que, numa perspectiva global, “o abrandamento do crescimento económico, a depreciação da moeda e a saída de capitais – mais aguda nos bancos em países exportadores de matérias-primas; a gestão de risco e a capacidade de supervisão ainda em desenvolvimento; e a cobertura modesta das perdas num contexto de enquadramento legal fraco” eram as principais razões para a subida dos riscos na qualidade dos activos.
No relatório que elegeu Marrocos e o Egipto como os países com o sistema financeiro mais resistente, os peritos da Moody’s afirmavam esperar um aumento dos depósitos entre 10 a 12%, no geral, mas sublinham que “o crescimento do crédito na Nigéria e Angola vai desacelerar significativamente, para baixo do crescimento do Produto Interno Bruto”.
Folha 8 com Lusa