Europa deplora massacre de Cafunfo

A delegação da União Europeia em Angola escreveu ao ministro da Justiça e dos Direitos Humanos do MPLA a deplorar os incidentes de Cafunfo e a solicitar-lhe uma reunião para “abordar a questão directamente”, revelou um porta-voz comunitário.

“A delegação da União Europeia em Luanda, em nome da UE e dos Chefes de Missão, endereçou uma carta ao ministro da Justiça e dos Direitos Humanos de Angola a deplorar os acontecimentos, recordando a importância das normas internacionais em matéria de direitos humanos, e a solicitar uma reunião para abordar a questão directamente com o ministro”, revelou o porta-voz.

O mesmo porta-voz assinalou ainda que “a UE mantém um diálogo regular sobre direitos humanos com as autoridades angolanas, e a violência policial encontra-se entre os tópicos discutidos”.

A vila mineira de Cafunfo foi palco de incidentes entre a polícia e populares no passado dia 30 de Janeiro, de que resultaram um número indeterminado de mortos e feridos, estando sob um forte dispositivo das forças de segurança desde essa altura.

Nesse dia, segundo a polícia do MPLA (eufemisticamente designada como Polícia angolana), cerca de 300 pessoas ligadas ao Movimento do Protectorado Português Lunda Tchokwe (MPPLT), que há anos defende a autonomia daquela região, tentaram invadir uma esquadra policial, obrigando as forças de ordem a defender-se, provocando seis mortes

A versão policial é contrariada pelos dirigentes do MPPLT, partidos políticos na oposição, Igreja Católica e sociedade civil local, que alegam que se tratou de uma tentativa de manifestação, previamente comunicada às autoridades, e que os manifestantes estavam desarmados.

Na passada terça-feira, deputados da UNITA, da CASA-CE e do PRS, que integram a oposição política que o MPLA ainda (não se sabe por quanto tempo) permite, anunciaram que os incidentes de Cafunfo resultaram em 23 mortos, 21 feridos e 10 pessoas desaparecidas, afirmando que as forças policiais “dispararam indiscriminadamente contra os cidadãos”.

Na quarta-feira a UNITA reviu estes números, ao divulgar um relatório dos cinco deputados daquele partido que se deslocaram a Cafunfo, mas que foram impedidos pelas forças de ordem e segurança de entrar na vila mineira, referindo que pelo menos 28 pessoas morreram de forma “bárbara, hedionda e fria” e 18 ficaram feridas.

No documento, que contraria a versão de acto de rebelião e fala em protesto com 93 manifestantes, os deputados da UNITA pediram “responsabilidades aos actores do massacre”.

Mentir, mentir sempre, aconselhou Hitler

Em Novembro de 2015, o então embaixador itinerante de José Eduardo dos Santos, Luvualu de Carvalho (hoje embaixador do MPLA de João Lourenço na Guiné Equatorial), disse que os 15 activistas detidos desde Junho desse ano em Luanda queriam provocar uma intervenção da NATO em Angola que conduzisse ao derrube do Presidente José Eduardo dos Santos.

Na altura, questionada pela Lusa sobre a possibilidade de um eventual contacto da Aliança Atlântica com Luanda no sentido do esclarecimento da situação provocada pelas declarações de Luvualu de Carvalho, uma fonte da NATO respondeu que “desconhece” a existência de um qualquer “esforço” nesse sentido.

“A NATO, ao contrário da União Europeia, não tem representantes diplomáticos nos vários países do mundo, sendo que Angola não é um país-membro”, da organização, acrescentou a fonte da Aliança Atlântica.

Socorrendo-se das afirmações feitas na altura em Luanda pelo então ministro do Interior do regime, Ângelo Veiga Tavares, o embaixador itinerante repetiu que os activistas pretendiam realizar uma marcha até ao Palácio Presidencial, “levando com que fossem quebradas as regras de segurança (…) para que a guarda presidencial ou a polícia presente reagisse, matasse crianças, matasse senhoras e matasse idosos para provocar a comoção internacional e justificar então uma intervenção vergonhosa”.

“É isto que se procurava. Que a Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO) ou alguns países que dela fazem parte fizessem um ataque a Angola, para que se verifique o horror que se verifica agora na Líbia ou se verificou e verifica na Tunísia”, acentuou o diplomata itinerante.

Pânico e delírio no covil

Em Novembro de 2015, o então ministro do Interior, Ângelo Veiga Tavares, entendia como “prudente” a detenção dos 15 activistas angolanos, para não permitir o desenvolvimento de planos apoiados por forças estrangeiras para a desestabilização do país, que previam “mortes”. Estava já a, premonitoriamente, a “ver” o que se passaria em Janeiro de 2021.

Ângelo Veiga Tavares, que falava no dia 4 de Novembro de 2015, em Luanda, em conferência de imprensa sobre o plano das comemorações dos 40 anos da independência, referia-se ao grupo dos 15 que estavam detidos desde Junho, acusados de prepararem uma rebelião e um atentado contra o Presidente da República.

Apontou, a título de exemplo, que o Governo convidou em 2014 uma cidadã europeia (italiana) a abandonar o país, porque esta se reunira com aquele grupo, supostamente dando indicações para que nas manifestações de contestação ao regime deveriam ser provocados confrontos com a polícia, gerando entre 20 a 25 mortos.

“Por isso é que em alguns casos, a polícia prefere não permitir que tais manifestações atinjam um nível de confronto para atingir esse fim. Portanto, essa cidadã europeia foi convidada a abandonar o país”, frisou.

Segundo o então ministro, também em alguns círculos diplomáticos, alguns cidadãos com esse estatuto instigavam esses jovens “e coincidentemente sempre na mesma perspectiva”.

“Haver confrontos para permitir – era o termo que utilizavam – a intervenção do Ocidente e, por caricato que pareça, a cifra era sempre a mesma, entre 20 e 25 mortos”, acrescentou.

“Portanto, o que se estava a passar não era aquela habitual tentativa de simples manifestação, era coisa bem diferente, era coisa bastante ousada. Ou seja, no meu entendimento, havia sim alguém por trás a arregimentar e a aproveitar o estado de alma desses jovens para fins diferentes daqueles que estão mais desenvolvidos do ponto de vista democrático”, acusou o ministro.

Ainda sobre as investigações, Ângelo Veiga Tavares disse que em finais de 2013 transmitiu à UNITA, o maior partido da oposição que o MPLA ainda permite, que alguns núcleos daquela força política estavam, naquela altura, a procurar localizar a casa dos ministros da Defesa e do Interior, do chefe do Serviço de Inteligência, do Comandante Geral da Polícia Nacional e do Chefe de Estado-Maior General das Forças Armadas.

O então titular da pasta do Interior frisou ainda que havia também informações sobre a preparação de alguma desordem na capital angolana, com a ocupação de novas centralidades habitacionais, a destruição de viaturas e de multibancos.

“Nós, confrontados com esses dados que tínhamos do passado, com essa ingerência de fora, que perspectivava que se criasse condições de confronto e mortes para que houvesse intervenção do ocidente, achamos prudente ter algumas atitudes que permitissem cortar e não permitir o desenvolvimento de acções dessa natureza”, afirmou o ministro.

O ministro sublinhou que as autoridades angolanas não têm “o prazer de prender quem quer que seja”, realçando que o processo de paz em Angola ainda “não está totalmente consolidado”, por isso há necessidade de algumas cautelas na abordagem de certos assuntos.

Novamente sobre a ingerência externa nos assuntos de Angola, e sem concretizar (acusar sem provar está no ADN do regime), Ângelo Veiga Tavares frisou a necessidade de os angolanos preservarem “um ganho muito importante”, que foi terem conseguido alcançar a paz “metendo de fora os estrangeiros”.

“Hoje, há a tentativa e o agrado do estrangeiro, porque estamos a abrir outra vez uma brecha para que esses estrangeiros venham determinar e voltar ao passado de desentendimento”, realçou.

Admitindo “problemas por resolver” no país, sublinhou que o tempo é dos políticos resolverem internamente.

“Porque há uma tendência muito grande de dar espaços muito bem desejados por alguns estrangeiros, para desvirtuarem e criarem situações de muitas dificuldades, que podem ser muito graves e trazer-nos consequências muito perigosas”, concluiu.

Ângelo Veiga Tavares foi, apesar de tudo, modesto no enquadramento. Esqueceu-se de dizer que foi descoberto (tal como agora em Cafunfo) em poder dos jovens diverso material bélico, altamente letal, a saber: 12 esferográficas BIC (azuis), um lápis de carvão (vermelho), três blocos de papel (brancos) e um livro sobre como derrubar de forma pacífica as ditaduras.

Sabe-se, igualmente, que a Polícia Nacional do regime descobriu que os jovens activistas tinham mísseis escondidos nas lapiseiras, Kalashnikovs camufladas nos telemóveis e outro armamento pesado e letal disfarçado nos blocos de apontamentos. São, reconheça-se, provas mais do que suficientes para provar que estavam a preparar um golpe de Estado.

Folha 8 com Lusa

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One Thought to “Europa deplora massacre de Cafunfo”

  1. Observador

    Quem suporta o mpla ? A UNIAO EUROPEIA e pilar do mpla, ha bem pouco mesmo a tall UE sabendo de multiplos processos de CORRUPCAO que lesam o estado angolano ,e os ASSALTANTES ou CORRUPTOS sao bem conhecidos e refuguados nos seus COVIS nos ESTADOS DA UNIAO EUROPEIA eles a UE faz de conta que nao estao a ver e os criminosos fazem o bell prazer o solo europeu.
    A UE que deixe de HIPOCRESIA ,o dinheiro que o GANG ANGOLNO rouba esta deposited nos bancos de paises da UE.
    E dizem q nao telegram a savage. de dinheiro sujo e o dinheiro limp esta aonde,?
    Esta reuniao ou encontra nao ira resulta em nada ,
    Em 1992 houve massacre e logo que CABECILHA do DURAO BARRODO cabriu a boca , a UE approved as mentiras que ACENDERAM a Guerra que terminated em 2002. Ai o DURAO BARROSO vomo presidente da UE e como padrinho do mpla o homem recebeu ou foi bem page para proteger estes VAMPIROS CORRUPTOS .

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