Em Cafunfo continuam a morrer pessoas

O arcebispo de Saurimo, José Imbamba, denunciou hoje que na região de Cafunfo e em zonas de exploração diamantífera do leste de Angola “continuam a morrer pessoas”, responsabilizando os seguranças que protegem as minas, e pediu a “salvaguarda da vida”. Não mata a Polícia Nacional (do MPLA), mata a segurança (à qual o MPLA dá cobertura). É a continuação do forrobodó canibalesco dos cleptocratas.

“Em Cafunfo, ainda continuam a morrer pessoas, nas zonas de exploração diamantífera ainda continuam a morrer pessoas, portanto os seguranças das empresas que defendem as minas ainda continuam a massacrar pessoas”, afirmou o prelado católico, em entrevista à Emissora Católica de Angola.

Para o arcebispo católico, a Igreja “não se vai calar” perante actos que atentem contra a vida das pessoas, observando que a denúncia “não é manchar este ou aquele”.

“É simplesmente clamarmos pela segurança, pela vida, pelo respeito e pela garantia de um trabalho digno a todos os cidadãos”, notou.

O arcebispado de Saurimo, província da Lunda Sul, compreende as províncias eclesiásticas ou dioceses do Luena, província do Moxico, Dundo, província da Lunda Norte e Saurimo, e província da Lunda Sul, todas no leste de Angola. As províncias das “Lundas” norte e sul são as maiores produtoras de diamantes de Angola e são, ainda, aquela onde o Povo ainda vive pior do que no resto do país.

Na semana passada, dois garimpeiros foram mortos a tiro por seguranças na mina de diamantes do Cuango quando tentaram insurgir-se contra os vigilantes, segundo disse o responsável da empresa concessionária (Sociedade Mineira do Cuango), localizada na província da Lunda Norte.

A mina registou um outro incidente, no dia 21 de Abril, em que dois jovens foram atingidos a tiro nos pés, depois de reagirem com violência contra os seguranças, de acordo com Helder Carlos.

A vila mineira de Cafunfo, na Lunda Norte, foi palco de massacres, na madrugada de 30 de Janeiro passado, que resultaram em mortos e feridos, actos considerados pelas autoridades do MPLA como “uma rebelião”, mas pela sociedade local, Igreja Católica incluída, bem como para organismos internacionais (caso da Amnistia Internacional), uma “manifestação pacífica”.

Segundo a polícia do MPLA, cerca de 300 pessoas ligadas ao Movimento do Protectorado Português Lunda Tchokwe (MPPLT), que há anos defende autonomia daquela região rica em recursos minerais, tentaram invadir, uma esquadra policial de Cafunfo, e em defesa as forças de ordem e segurança atingiram mortalmente seis pessoas. A Polícia, como se sabe, multiplica o número de manifestantes e divide o número de vítimas inocentes que foram, recorde-se, várias dezenas.

Na sequência dos incidentes, o Bureau Político do MPLA (partido no poder desde 1975) emitiu um comunicado repudiando os actos e condenando alegadas interferências externas, sendo de crer que se estariam a referir também ao “estrangeiro” (na hilariante e ébria versão do regime) presidente da UNITA, Adalberto da Costa Júnior.

À rádio católica angolana, José Imbamba, também vice-presidente da Conferência Episcopal de Angola e São Tomé (CEAST), classificou o comunicado do MPLA como “triste”, considerando ter sido “feito com emoção”.

“E não espelha aquilo que estamos a viver, nós não recebemos relatórios nos gabinetes, nós vamos ao local e o problema é que continuamos com os efeitos e não gostamos de ir à causa”, apontou o arcebispo angolano.

José Imbamba criticou também a “partidarização das instituições públicas”, defendendo a sua “descentralização e desburocratização”.

A melhoria das condições socioeconómicas das populações, sobretudo serviços básicos de saúde, educação, água, energia, saneamento básico e emprego constam entre as “motivações das reivindicações” dos cidadãos no leste de Angola, segundo relatos locais. Isto, corrobore-se, 45 anos da chegada da suposta independência.

Para José Imbamba, que enaltece o regresso da sede das empresas Endiama e Fundação Brilhante, ao Dundo, o desenvolvimento “deve ser distribuído equitativamente” e “é preciso que haja polos de desenvolvimento disseminados por todo o país”.

“E sendo esta região rica por este recurso natural, então é de todo natural também que estas empresas se fizessem sentir na sua pujança a partir do solo onde exploram a riqueza que alegra todo o país”, frisou.

E o “desenvolvimento melhor”, sublinhou, “não é outro senão o desenvolvimento das pessoas, investir nas pessoas, investir na melhoria da cultura deste povo, investir em tudo aquilo que vai fazer com que a Lunda se emancipe, se desenvolva, se reencontre e contribua positivamente para o desenvolvimento harmonioso do país”.

Recorde-se, para bem do anedotário nacional e internacional (na vertente dos criminosos), que o Comandante-geral da Polícia (do MPLA), Paulo de Almeida, defendeu o uso de “meios desproporcionais” para responder efectivamente contra ameaças ao Estado. E assim sendo, disse Paulo de Almeida, a resposta da polícia no caso de Cafunfo, bem como nos massacres de 27 de Maio de 1977, foi em legítima defesa.

O comandante-geral da Polícia Nacional afirma (como aliás fez o seu primeiro presidente, Agostinho Neto, ao manda massacrar milhares de angolanos em 27 de Maio de 1977), que na defesa da soberania de um Estado não pode haver proporcionalidade, como defendem as… pessoas.

“Isso é muito bom na teoria jurídica, nós aprendemos isso no Direito. O Estado não tem proporcionalidade, você quando está a atacar a unidade, o Estado, o símbolo, está a atacar o povo“, disse Paulo de Almeida, numa conferência de imprensa destinada a supostamente esclarecer os incidentes na região do Cafunfo, onde o MPLA mostrou mais uma vez – como já fizera Agostinho Neto em 1977 – que não está para perder tempo com julgamentos, razão pela qual mata primeiro e interroga depois.

Paulo de Almeida avisou que “aqueles que tentarem invadir as esquadras ou qualquer outra instituição para tomada de poder, vão ter resposta pronta, eficiente e desproporcional da Polícia Nacional” do MPLA. Por alguma razão a Polícia é tão forte com os fracos mas bate com as patas no mataco a fugir velozmente quando o adversário é forte.

“Você está a atacar o Estado angolano (leia-se MPLA) com faca, ele responde-te com pistola, se você estiver a atacar com pistola ele responde com AKM, se você estiver a atacar com AKM, ele responde com bazuca, se você estiver a atacar com bazuca, ele responde com míssil, seja terra-terra, terra-mar ou ainda que for um intercontinental, vai dar a volta depois vai atacar”, referiu com o brilhantismo de um gorila anão (sem ofensa para este primata) o Comandante Paulo de Almeida.

Folha 8 com Lusa

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