De boas intenções estão as lixeiras cheias

A empresa angolana de reciclagem de lixo eléctrico e electrónico, Net Service Angola, alertou hoje que o país “está a perder divisas, matéria-prima e até empregos” devido aos amontoados de lixo reciclável, que persistem nas ruas, sobretudo em Luanda.

Segundo o director geral da empresa Net Service Angola, António Bartolomeu, apesar de Angola começar a ter consciência de que os resíduos eléctricos e electrónicos são prejudiciais ao ambiente, ainda se perde muito quando esse tipo de lixo é deixado na rua.

“Isso preocupa muito, porque o que se perde a nível desses resíduos que ficam nos amontoados na rua, poderia ser o garante de algum lucro para as empresas”, afirmou o responsável em Luanda.

Em declarações no final da cerimónia de lançamento da “Campanha de Sensibilização do Mês da Reciclagem”, o gestor defendeu a cultura da selecção daquele lixo específico para seu posterior tratamento em benefício do país.

Para António Bartolomeu, os actuais amontoados de lixo que se verificam, sobretudo na capital angolana, poderiam ser evitados se a selecção desses resíduos partisse desde a fonte para a sua melhor reutilização.

“Se as pessoas fossem, desde a fonte, incentivadas a seleccionar o seu resíduo e contactar as empresas específicas para tratar esse tipo de resíduo evitaríamos os amontoados de resíduos”, notou.

“Não obstante, também penso que hoje com a nova proposta para a gestão dos Mulenvos (Aterro Sanitário de Luanda) vai facilitar muito, porque muitos resíduos saem das casas das pessoas contaminados e não há essa separação e então para as empresas é muito difícil”, apontou.

António Bartolomeu considerou também que “quando não se recicla esse produto [lixo eléctrico e electrónico] o país perde muita matéria-prima”, numa altura em que o nível de importação “diminuiu muito por conta das poucas divisas que existem”.

“E, portanto, com a matéria-prima produzida a nível local, se não houver essa indústria especializada para recuperar esse material, poderia ser exportado para garantirmos divisas para o país”, concluiu.

A “Campanha de Sensibilização do Mês da Reciclagem”, por ocasião do Dia Mundial da Reciclagem, que se assinala em 17 de Maio, decorre em Angola até Julho.

A campanha, denominada “Para onde vão os resíduos que todos nós produzimos”, é tutelada pela Agência Nacional de Resíduos (ANR) de Angola.

A ANR tem como objectivos estratégicos o planeamento e gestão de resíduos, englobando todas as tipologias de resíduos e as diversas origens, constituem o objectivo de políticas neste domínio do ambiente, assumindo ainda papel de relevo de carácter transversal pela incidência na preservação dos recursos naturais, e em outras estratégias ambientais, como:

Alcançar padrões aceitáveis de práticas ambientais em todas as operações de limpeza e descarte públicos; Desenvolver pessoal capaz de monitorar o meio ambiente por meio de treinamento e recrutamento apropriado; Fornecer padrões, regulamentações e conhecimentos especializados em relação à gestão dos resíduos; Participar no desenvolvimento de uma estrutura institucional e interinstitucional de poluição e controle ambiental.

Bem como, Priorizar recursos financeiros para a gestão dos resíduos numa economia severamente restrita; Atender às necessidades de recursos humanos por meio do desenvolvimento e implementação apropriada de políticas de recursos humanos; Fornecer serviço de qualidade aos contratados e ao público; Reforço da prevenção, produção de resíduos e fomentar a sua valorização por via da reutilização e reciclagem; Promoção do pleno aproveitamento do novo mercado organizado de resíduos, como forma de consolidar a valorização dos resíduos, com vantagens para os agentes económicos, bem como estimular o aproveitamento de resíduos específicos com elevado potencial de valorização.

A Agência Nacional de Resíduos, tem competências de monitorização, emissão de pareceres no planeamento, reclamações e avaliação, licenciamento e fiscalização, sendo por isso o principal regulador em Angola na área de resíduos.

A ANR trabalha em temas como, saneamento, resíduos, emergências radiológicas, ou educação ambiental, e é responsável pelo Relatório do Estado dos Resíduos de Angola. Assim, considera que um ambiente limpo e saudável é fundamental para o contínuo bem-estar e prosperidade.

O seu papel é ajudar a proteger e manter os recursos ambientais vitais do país. O ambiente é uma mistura complexa de materiais e processos que, juntos, fornecem os recursos naturais e sistemas de apoio, ou “serviços eco-sistémicos”, que sustentam toda a vida na Terra. A sociedade e a economia dependem desses serviços, e é por isso que proteger e melhorar o meio ambiente é absolutamente essencial.

O papel na protecção do meio ambiente e saúde humana é amplo, incluindo a regulamentação ambiental dos resíduos, mitigação e adaptação às mudanças climáticas, monitorização e produção de relatórios sobre o estado do nosso ambiente, conscientização sobre questões ambientais, envolvimento com o público através de projectos científicos e de acompanhamento na resolução de danos ambientais.

Como um órgão público tutelado pelo Ministério do Ambiente, o papel da ANR é garantir que o meio ambiente e a saúde humana sejam protegidos, para garantir que os recursos naturais e serviços em Angola sejam usados da melhor forma de sustentabilidade e que contribuam para o crescimento económico sustentável.

A sua missão é: Propor, desenvolver, acompanhar a gestão integrada e participada das políticas dos resíduos e desenvolvimento sustentável, bem como, garantir uma Angola limpa, no âmbito da normação, regulação, fiscalização e orientando efectivamente a gestão e tratamento resíduos por meio de limpeza pública, adesão a padrões ambientais e de saúde pública, educação ambiental pública e programas de fiscalização reforçados por tecnologia avançada, participação das comunidades e prestação de serviços por uma equipe altamente treinada e engajada.

Deve igualmente ser uma entidade de regulação na gestão de resíduos, usando modelos e tecnologias de última geração para manter um ambiente limpo e saudável, comparável aos padrões globais.

Folha 8 com Lusa

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