CPLP, um bordel político

O bispo António Juliasse Sandramo, administrador da diocese de Pemba, norte de Moçambique, não tem dúvidas de que há ajudas destinadas aos deslocados em Cabo Delgado que não chegam a quem necessita e que esses apoios financeiros só servem estruturas administrativas. Enquanto isso, a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) teve mais uns canibalescos orgasmos, desta feita no bordel de Luanda.

Há quem esteja a anunciar ajudas, mas “boa parte do que deveria ajudar o outro, fica com ele, isso acontece”, referiu o bispo durante uma missa que celebrou na catedral de Pemba e que antecedeu uma visita à Rádio Sem Fronteiras, emissor da diocese.

Várias ajudas têm como destino os deslocados, “mas será que todas as ajudas [lá] chegam?”, questionou, referindo logo a seguir que “podem estar com alguém que [as] deveria fazer chegar” e que vai “aproveitar-se” da situação.

“Há várias outras coisas que são feitas em nome do bem, mas no fim acabamos [por] nos servir a nós mesmos. É o que nós vemos. Salários muito grandes em nome dos pobres” e “toda a ajuda que chega acaba numa estrutura de profissionais: aquilo que vai chegar realmente aqueles que sofrem é tão pouco”, acrescentou o bispo.

Enquanto isso, a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) teve mais uns canibalescos orgasmos, desta feita no bordel de Luanda.

O Presidente português vai doar os 30 mil euros do “Prémio José Aparecido de Oliveira”, atribuído pela CPLP, em Março passado, às vítimas do terrorismo no norte de Moçambique: “Tenciono doar o valor deste prémio à Caritas de Moçambique para que seja distribuído pelas organizações não-governamentais que em Cabo Delgado tanto fazem, e em condições tão difíceis, pela verdadeira e duradoura paz social com ilimitada devolução humanitária”, disse Marcelo Rebelo do Sousa.

D. António Juliasse diz – repita-se – que há muitas organizações que estão a receber milhões de euros de ajuda humanitária, mas só uma pequena parte desse dinheiro está a chegar aos deslocados internos. É claro que esta questão, em concreto, não interessou à CPLP que está – como se viu agora em Luanda – mais vocacionada para canibalescos orgasmos.

Angola, diz a propósito de tudo e de nada o Ti Celito (e também António Costa, Ferro Rodrigues, Rui Rio, Jerónimo de Sousa, entre outros), é um “portento de força e de futuro, à escala regional e global”, salientando que os dois países vivem um momento “motivador” após “demasiados anos de sensação de compasso de espera”.

Estará ele a falar dos nossos 20 milhões de pobres? Não. Aliás, ele nem sabe que existem pobres em Angola nem que há angolanos a morre à fome. E se ele não sabe, também a CPLP não sabe.

Em 2019, numa entrevista ao semanário económico angolano Vanguarda, Marcelo Rebelo de Sousa salientou que a visita que iria realizar na altura a Angola demonstrava que o trabalho que tem sido feito pelos dois Estados tem resultados “acima das expectativas”.

Estaria a falar no elevado índice de mortalidade das crianças angolanas? Não. Aliás, ele nem sabe que existe uma elevada mortalidade infantil em Angola, em parte por falta de comida. E se ele não sabe, também a CPLP não sabe.

“O que mais importa é que se vive um momento motivador nas relações entre Angola e Portugal, depois de anos, demasiados, de sensação de compasso de espera, de adiamento, de falta de mais próximo contacto”, sublinhou Marcelo, destacando o facto de não existirem áreas tabu entre os dois países.

Quererá isto dizer que Marcelo estaria atento (minimamente que fosse) ao facto de em Angola poucos terem muitos milhões e muitos milhões terem pouco ou… nada? Não. E se ele não sabe disso, também a CPLP não sabe.

Segundo o chefe de Estado português, o nosso Ti Celito, a referida visita de Estado simbolizava também o reconhecimento do papel da “notável” comunidade portuguesa presente no país, razão pela qual a deslocação estender-se-á também às províncias de Benguela e da Huíla, onde existe uma forte marca colonial portuguesa.

“A visita [a Benguela e à Huíla] corresponde a uma forte vontade minha de não ficar só em Luanda, mas, também, de uma proposta angolana, permitindo abarcar uma visão mais rica e variada desse portento de força e de futuro que é Angola, à escala regional e global. E, nessa realidade, não só cabe como desempenha um papel muito importante a notável comunidade portuguesa dispersa por todo o território angolano”, afirmou na altura.

Será que, por falar da comunidade lusa, Marcelo se recorda dos níveis de desenvolvimento – sobretudo em matéria de auto-suficiência alimentar – que Angola tinha na época (1973/1974) em que era colónia portuguesa? Se se recorda poderia lembrá-lo ao seu anfitrião…

Em 2019, questionado sobre que áreas se pode dar mais um salto qualitativo na cooperação bilateral, Marcelo respondeu que passam “por todas as que forem possíveis”, das sociais às culturais, das económicas às financeiras.

Sobre a Presidência de Angola da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), Marcelo indicou ter “elevadas expectativas”, sobretudo no reforço já lançado pela “intensa” liderança de Cabo Verde, um tema que disse constituir um “debate estimulante” em que “nenhuma ideia deve ser excluída”.

Em relação à liderança de João Lourenço em Angola, cuja dinâmica é vista internacionalmente como um “comboio em andamento” (embora não existam carris…), o presidente português destacou que Portugal estará sempre do lado do desenvolvimento angolano. Não está, claro, ao lados dos angolanos. O que Marcelo queria dizer é que Portugal estará sempre ao lado MPLA, desde logo porque para os dirigentes políticos lusos (a começar nele próprio) o MPLA é Angola e Angola é do MPLA.

Quanto à simpatia específica por João Lourenço (também foi assim quanto a José Eduardo dos Santos), importa não esquecer que Marcelo Rebelo de Sousa felicitou o seu homólogo pela eleição (não nominal) ainda os resultados não tinham sido divulgados…

“Onde estiver o comboio angolano, aí está Portugal. Onde estiver o comboio português, aí está Angola. Um e outro sempre em posições de destaque”, respondeu, considerando, por outro lado, “ser difícil não criar empatia” com João Lourenço e com a “primeira-dama” angolana, Ana Lourenço, cuja relação “anda paredes meias com a amizade”.

Aliás, já era assim quando João Lourenço era vice-presidente do MPLA sob a presidência de José Eduardo dos Santos e, também, quando João Lourenço era ministro da Defesa de José Eduardo dos Santos.

“Falamos muito à vontade e sobre tudo o que pode ser importante para os dois povos. Só assim nasce a total verdade na compreensão mútua. E muito tenho aprendido com o que oiço e reflicto acerca deste importante momento angolano e do fundamental impulso dado pelo senhor Presidente João Lourenço”, acrescentou Marcelo.

Bem que poderia ter corroborado o prazer que tem igualmente quando fala com o Presidente do MPLA, João Lourenço, ou com o Titular do Poder Executivo, João Lourenço…

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