Contentores básicos substituem cestas básicas

Angola registou uma redução de cerca de 100 milhões de dólares (81,8 milhões de euros) na importação de produtos da cesta básica e outros bens essenciais em Dezembro de 2020, face ao período homólogo. Grande parte da procura da cesta básica foi substituída pela crescente adopção, por parte dos consumidores, do novo sistema de self-service – os caixotes do lixo.

A informação consta dos dados relativos à importação de produtos da cesta básica, em Dezembro de 2020, hoje apresentados na reunião do Conselho de Direcção do Ministério da Indústria e Comércio e divulgados pelo organismo.

De acordo com os dados, em Dezembro de 2019, o Governo desembolsou 250 milhões de dólares (204,5 milhões de euros) para as importações, enquanto, no mesmo mês de 2020, gastou 152 milhões de dólares (124,3 milhões de euros).

No quadro comparativo, destaca-se a redução na importação do açúcar, que passou de 2,1 milhões de toneladas, em 2019, ao custo de 17,6 milhões de dólares (14,3 milhões de euros), para 1.472 toneladas, ao custo de 831.121 dólares (679.868 euros).

A importação de arroz corrente, de 136.985 toneladas, no valor de 37,2 milhões de dólares (30,4 milhões de euros), em 2019, passou, em 2020, para 59.505 toneladas, no valor de 10,5 milhões de dólares (8,5 milhões de euros).

Sobre o valor desembolsado para a importação do arroz corrente, a directora nacional do Comércio Externo, Augusta Fortes, citada numa nota informativa do Ministério da Indústria e Comércio, referiu que se justifica, à semelhança do valor gasto com a importação de óleo de palma, porque serve de matéria-prima para alguma indústria, nomeadamente a cervejeira e de produção de leite condensado.

Em 2019, Angola importou 46.820 toneladas de óleo de palma, por mais de 22 milhões de dólares (17,9 milhões de euros), enquanto em 2020, foram importadas 264.863 toneladas, no valor de 21,7 milhões de dólares (17,7 milhões de euros).

Relativamente ao frango, registou-se uma redução em 2020, comparativamente ao período homólogo, com a importação, em 2019, de 46.385 toneladas, por 51,5 milhões de dólares (42,1 milhões de euros), para 32.447 toneladas, por mais de 25 milhões de dólares (20,4 milhões de euros).

Citado igualmente na nota, o ministro da Indústria e Comércio, Victor Fernandes, sublinhou a redução considerável relativamente aos restantes produtos que compõem a cesta básica, comparativamente a igual período de 2019.

Victor Fernandes considerou que “os números reflectem as muitas oportunidades que o mercado ainda oferece para investimentos, sobretudo na indústria transformadora”.

Para Victor Fernandes, existe ainda uma margem suficiente para se investir na produção local de óleo alimentar e óleo de palma, que pode ser aproveitada pelos investidores.

As razões do Presidente João Lourenço

«Ao aproximar-se o fim do ano de 2020, tomei a iniciativa de realizar uma cerimónia de homenagem aos produtores de bens essenciais de amplo consumo que integram a cesta básica e não só, produtores que durante o ano enfrentaram a profunda crise económica que se regista no nosso país desde o ano de 2014 e que foi agravada, este ano, pela pandemia da Covid-19 e que ainda perdura em todo o mundo, não obstante existir uma luz ao fundo do túnel para o seu controlo durante o próximo ano, por meio da vacinação de prevenção contra esta terrível doença», afirmou, o mês passado, João Lourenço.

Na cerimónia de homenagem aos produtores nacionais de bens essenciais, e ao fim de 45 anos de governos do MPLA, o Presidente disse que “o Executivo angolano concluiu da necessidade de apostar seriamente na diversificação da economia nacional, através do aumento da produção interna de bens e de serviços, como único caminho para a redução das importações, o aumento das exportações e consequente aumento da arrecadação de divisas”.

Finalmente os especialistas do MPLA chegaram à conclusão de que era necessário “apostar seriamente na diversificação da economia nacional”. Mais vale tarde do que nunca. É, aliás, uma descoberta digna de um prémio Nobel. É verdade que essa diversificação já era praticada pelos portugueses no tempo colonial, mas isso é algo que o complexo de inferioridade do MPLA nunca lhe permitirá reconhecer. Aliás, se os “tugas” plantavam as couves com raiz para baixo… o MPLA ordenou que fossem plantadas com a raiz para… cima.

João Lourenço explicou que o “Executivo idealizou e concebeu o programa a que entendeu chamar de Prodesi, mas a materialização desta mudança de paradigma só seria possível com actores não estatais, no caso, o empresariado privado nacional e estrangeiro”, acrescentando que, “hoje, apesar de persistirem ainda constrangimentos de vária ordem, para além dos decorrentes da Covid-19, é justo reconhecermos publicamente que o empresariado privado respondeu positivamente, tem vindo a realizar investimentos em diferentes ramos da nossa economia, com resultados satisfatórios e visíveis aos olhos de todos”.

Tão visíveis sobretudo em termos estatísticos que, convenhamos, não são prova de mais fácil acesso a esses bens (equidade social), como comprovam os 20 milhões de pobres que abastecem a sua cesta básica nos caixões de lixo. Ou seja, tendo João Lourenço quatro refeições por dia e a Maria Zungueira nenhuma, a média estatística apresentada pelos génios do Governo revela-nos que cada um deles tem duas refeições por dia…

Em Julho de 2020, o Ministério da Economia e Planeamento disse que queria desenvolver, até ao final de 2020, um guia para investidores, destacando oportunidades nas fileiras prioritárias identificadas pelo Programa de Apoio à Produção, Diversificação das Exportações e Substituição de Importações (Prodesi). O que anda a fazer, há 45 anos, o MPLA? Anda a dizer que um dia vai “melhorar o que está bem e corrigir o que está mal”.

“Em concreto, serão identificados um conjunto de oportunidades de investimento em infra-estruturas, que poderão constituir projectos de parcerias público-privadas, nas áreas de energia eléctrica, água, transportes, pescas e plataformas logísticas”, lê-se no relatório de balanço do Prodesi, então apresentado em Luanda.

A “inexistência de informação clara e precisa sobre a criação de uma empresa”, e todas as questões inerentes a cada sector, bem como a intenção de divulgar oportunidades de investimento em Angola e a “fragilidade das infra-estruturas existentes, justifica a existência de um documento com toda a informação de apoio”, refere o documento.

Pois é. Então o que é mesmo que o MPLA anda a fazer desde 1975 e João Lourenço desde 2017, como Presidente da República não nominalmente eleito, Presidente do MPLA e Titular do Poder Executivo?

O Ministério da Economia e Planeamento considera também que o país “deve continuar a apostar” na melhoria do ambiente de negócios, nos domínios da criação de empresas, pagamento de impostos, entre outros, apontando várias iniciativas nesse âmbito e reformas promovidas entre 2019 e 2020.

O estudo refere que nesse período decorreu a reorganização interna do Guiché Único do Empreendedor no modelo de Janela Única, eliminou-se o alvará comercial para as actividades de baixo risco e o requisito de registo estatístico no processo de abertura de empresas.

No domínio do registo de propriedade, o órgão ministerial assinala que foi implementada uma nova plataforma denominada SIRP (Serviço Integrado de Registo Predial) nas conservatórias de registo predial e obtenção da certidão predial online e aprovada a nova tabela de emolumentos do registo predial.

A inauguração da sala do tribunal especializada em matéria comercial, industrial e propriedade intelectual na província de Luanda consta também das acções que visam a melhoria do ambiente de negócios em Angola que, certamente, estarão 100% operacionais quando o MPLA completar 100 anos de governação ininterrupta (já só faltam 55 anos…).

A institucionalização do Comité Nacional de Facilitação de Comércio Externo é outra das medidas, um verdadeiro ovo de… João.

De acordo com as autoridades angolanas, a componente do acesso à electricidade, um domínio que para muitos empreendedores “ainda encarece os custos de produção”, beneficiou também de “avanços” nos últimos dois anos.

Segundo o relatório do Prodesi, “foram melhorados os procedimentos e tempos para obter uma ligação de electricidade, reduzidos os custos para obter uma nova ligação à rede eléctrica”, entre outros. Importa, contudo, enaltecer que os problemas de electricidade (45 anos depois da independência) se justificam porque o MPLA inventou a electricidade… potável.

Noutra frente, a banca comercial aprovou oito projectos ligados à produção interna de bens, avaliados em 17 mil milhões de kwanzas (25,8 milhões de euros), no âmbito do Projecto de Apoio ao Crédito (PAC).

Os oito projectos já aprovados são relativos à indústria alimentar e bebidas, indústria transformadora e pesca marítima, nomeadamente nas províncias de Luanda, Benguela e Namibe.

O Banco Angolano de Investimentos (BAI), o Banco Internacional de Crédito (BIC) e o Banco de Poupança e Crédito (BPC) foram os três bancos responsáveis pela aprovação e disponibilização do crédito a estas iniciativas.

Os dados constam do relatório de balanço do Programa de Apoio à Produção, Diversificação das Exportações e Substituição de Importações (Prodesi), divulgado pelo Ministério da Economia e Planeamento angolano.

Segundo o balanço dos dois anos de implementação do Prodesi, no primeiro semestre de 2020 foram submetidos 46 projectos à banca totalizando 90,2 mil milhões de kwanzas (137 milhões de euros).

O PAC, inserido no Prodesi, aplica-se aos projectos de investimento que contribuam, directa ou indirectamente, para a produção interna de bens, e está disponível para apoiar um conjunto de 16 tipos de operações relacionadas com os 54 produtos prioritários da cesta básica (essencialmente alimentos).

Entre os instrumentos financeiros de apoio ao Prodesi, o relatório destaca os avisos do Banco Nacional de Angola (BNA) de 2020 e uma linha de financiamento do Deutsche Bank, cujo montante está domiciliado no Banco de Desenvolvimento de Angola (BDA).

O relatório observa que o aviso nº 10/2020 do BNA aplica-se à concessão de crédito pelas instituições financeiras bancárias, para a produção de bens essenciais que apresentam défices de oferta de produção nacional, a matéria-prima e o investimento necessário à produção.

O agregado dos bancos apresentou em 31 de Dezembro de 2019 activos líquidos no valor de 5,25 bilhões de kwanzas (8 mil milhões de euros), representando 39,75% do activo total.

Ao abrigo do aviso nº 10/2020, do banco central angolano, o limite mínimo de crédito a conceder pelos bancos até final de 2020 é de 131,355 mil milhões de kwanzas (200 milhões de euros) correspondente a 2,50% do total de activos líquidos.

O Prodesi, aprovado em 20 de Julho de 2020, visa acelerar a diversificação da produção nacional e geração de riqueza de um conjunto de produtos com maior potencial de geração de valor de exportação e substituição de importações.

Alimentação e agro-indústria, recursos minerais, petróleo e gás natural, florestal, têxteis, vestuário e calçado, construção e obras públicas, tecnologias de informação e telecomunicações, saúde, educação, formação e investigação científica, turismo e lazer são os domínios do Prodesi.

Aumentar a produção e volume de vendas das fileiras prioritárias, acelerando a diversificação e potenciando as vantagens comparativas nacionais, reduzir o dispêndio de recursos cambiais com a cesta básica e aumentar e diversificar as fontes cambiais constituem alguns dos objectivos centrais do programa.

Folha 8 com Lusa

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