As novas medidas e o aumento do desemprego

Conheço várias pessoas, em Kaluquembe, cuja fonte para alimentar as suas famílias limitava-se em ir a Luanda, comprar coisas, como roupa, perfumes, cabelo, dar a kilapi e outros entregar a jovens para zungar por elas, criando, assim, uma ampla rede de comercial onde cada comia a sua medida.

Por Edu Rocha (*)

Outras, iam à Namíbia, pegavam produtos de lá e faziam a mesma coisa. Há jovens (mulheres) tralhando nesses armazéns e como o ordenado não lhes cobre a conta, às 19h, nas ruelas do Lubango, acendiam um fogareiro em frente aos seus portões para grelhar carne e vender umas birras, coadjuvadas por meninas que acabavam por tirar também alguns kwanzas para suprir as necessidades pessoais básicas, de uma jovem mulher.

Com o fechamento das fronteiras, as cercas sanitárias e o recolher obrigatório, até às 20h, essas pessoas se vem de mãos atadas, sem soluções para manter os fogões acesos. Já ficou provado que a fome e as doenças como a malária têm causado mais mortes, em Angola, do que a Covid-19. Não diria que tem havido excesso de zelo no combate às pandemias, medidas devem ser tomadas para não haver um caos.

Mas essas medidas devem ser articuladas, pensadas com inteligência para não matarmos as pessoas de fome, ao acudi-las da Covid-19. Uma constatação fazível é de as pessoas que tomam as decisões por nós, nesse país, conhecem pouco e mal a realidade do país. Idealizam soluções desfasadas das reais demandas da esmagadora maioria. Resultado: temos esse país onde diariamente morrem mais de 46 crianças por mal nutrição.

Já o disse aqui e reiterado: a meu ver, o perfil ideal de Presidente da República, em função dos nossos desafios, é muito alinhado a uma pessoa como o Padre Pio Wakussanga. É viajado (pode articular as soluções na base de realidades comparadas), conhece com profundidade a realidade penosa a que estão relegada as pessoas do interior, as mais sacrificadas, nisso tudo e, além disso, pelo que nos é dado a saber, é uma pessoa de coração de carne e sangue.

Se ele, ou uma pessoa como ele, decidisse concorrer às eleições, como cabeça-de-lista de uma lista qualquer, eu punha camisa timbrada e no dia seguinte engajava campanha para a sua eleição. Iria às rádios, TVs, debates, praças e todas formas de garantir que chegue lá. Essa malta que vive em palácios desde 75, já lá vão 45 anos, quando sai à rua é com escolta em colunas de carrões blindados de vidros fumados não sabe do que se passa desse lado da barricada.

Não tem como criar políticas públicas que reflictam a realidade da Angola pobre. Por isso nos dizem “se a carne está cara optem pelo atum”, nem sabem que uma latinha de atum sai-nos mais cara do que a tal carne, ou seja, como solução mandam-nos trocar um luxo por outro mais luxuoso, ainda. É como se soe dizer-se “quem não te conhece não saberá como te governar”. Daí que: somos doentes de fome mas nos administram anti-retrovirais. Azar o nosso!…

(*) Activista. Membro do Fórum Juvenil para Cidadania e participação. Residente no Lubango

Nota. Todos os artigos de opinião responsabilizam apenas e só o seu autor, não vinculando o Folha 8.

Artigos Relacionados

Leave a Comment