AS GALHARDIAS DO BASFOND

O subscritor (os autores são os que compraram o denunciante) da queixa-crime contra o presidente da UNITA que o MPLA destituiu, Rui Manuel Galhardo da Silva, insiste em reproduzir ordens que lhes chegam para dizer que Adalberto da Costa Júnior irá mesmo responder por tentativa de homicídio.

Segundo as instruções recebidas, Rui Galhardo diz que isso acontecerá não por conta de uma acção da Procuradoria-Geral da República (PGR), mas por uma outra intentada pelos seus mentores (embora subscrita por ele) junto da Direcção Nacional de Investigação Penal (DNIAP), que a encaminhou para o Serviço de Investigação Criminal (SIC) para averiguação.

“Um processo da PGR contra Adalberto da Costa Júnior não existe. Existe, sim, um processo do Rui Manuel Galhardo da Silva contra ele, que foi levado para a investigação. Primeiro passou pela DNIAP, porque há a questão das imunidades. Mas ele para responder no SIC não precisa de ver as imunidades levantadas. Neste caso também não se pode negar, porque senão o SIC contacta a presidência do Parlamento e o Parlamento dá-lhe ordem para ir”, insiste o assalariado Rui Galhardo, no caso aconselhado por outro assalariado do MPLA, David Mendes.

A PGR garantiu esta semana ao Novo Jornal que arquivou a queixa-crime contra Adalberto da Costa Júnior, pelo facto de esta “não ter pernas para andar”, deitando assim por terra a notícia avançada pelo jornal português Público, segundo a qual a Procuradoria-Geral da República deveria anunciar o início das investigações contra Adalberto da Costa Júnior nesta semana. No caso de Rui Galhardo, como noutros, a frase mais adequada seria “não ter patas para andar”.

Rui Galhardo insiste, entretanto, no sentido no contrário, alimentando inclusive a viva convicção de que “provavelmente ainda esta semana Adalberto da Costa Júnior seja chamado para ser ouvido e depois disso vir a ser constituído arguido”, por este não ter outra “hipótese”.

“Não tem hipótese, porque ele deu uma entrevista… e, para já, vai ter outro processo porque mentiu. Ele não entregou nenhuma arma à Polícia Nacional, até porque a polícia não recebeu arma nenhuma, porque não existiam”, disse o queixoso, explicando aquilo a que chamou de “confusão de conceitos”, em relação àquilo que diz a PGR e àquilo que estará a acontecer em função da acção por ele intentada.

“É uma questão de conceitos, no fim de contas. A PGR não tem nenhum processo contra Adalberto da Costa Júnior, mas está lá o meu processo contra ele, que é diferente. Porque a PGR pode fazer um processo contra alguém, desde que haja investigações suficientes para isso. Portanto, o processo está no SIC, depois de ter passado pela DNIAP”, assegurou “Galhardinho”, visivelmente chateado por estar a ser preterido pelo MPLA a favor de Kawiki Sampaio da Costa ou, até pelo Dr. Maçã.

“Eu já fui ouvido e agora vão passar para os acusados. Depois de ele ser ouvido e se fizer uma comparação é que há uma decisão de arguido ou não, mas eu sei que ele vai ser constituído arguido, porque ele não tem qualquer hipótese de escapar”, afirmou, “Galhardinho”, não confirmando se já entregou a ficha de inscrição no MPLA devidamente assinada. Há, aliás, quem diga que ele é membro (embora de terceira categoria) do MPLA já há muito tempo…

Sobre um alegado segundo processo contra Adalberto da Costa Júnior no qual seria ofendida a Polícia Nacional, Rui Galhardo explicou que este deverá ser consequência da afirmação do líder destituído da UNITA pelo MPLA (via Tribunal Constitucional), que teria avançado a recuperação de armamento na sua posse, no momento em que foi rodeado por militantes furiosos da UNITA, nas cerimónias de comemoração dos 55 anos do partido, em Março deste ano.

“A gente não deve andar a mentir toda a vida. Não se pode dizer que se viu uma coisa quando não se viu. Ou não se pode dizer que fizemos uma coisa quando não a fizemos. Se ele diz que encontraram 12 armas e entregaram à polícia, esta é uma situação grave, não é?! Isto já é um outro problema. A polícia é a ofendida…”, assinalou Rui Galhardo, voltando a atirar-se contra Adalberto da Costa Júnior:

“É aquilo de meter as mãos pelos pés. É habitual nele. Eu já o conheço há muitos anos. Aliás, ele para mim é extremamente previsível”, afirmou “Galhardinho”, tendo-lhe faltado apenas dizer que já conhece ACJ do tempo em que ele ainda não tinha… nascido. Mas para lá vai.

Entretanto, como revelou o Correio Angolense, o escritório de advogados de David Mendes cobrou 5 milhões de kwanzas ao luso-angolano Rui Manuel Galhardo pela assistência que lhe presta na acção judicial que move contra o deputado Adalberto da Costa Júnior, juntando dois em um: facturar e acertar contas com ACJ.

Recorde-se que do argumento deste filme de quarta categoria, um responsável da Polícia do Uíge foi chamado expressamente a Luanda para dizer às televisões públicas do MPLA como ele teria interpretado essa “interpelação” de que Galhardo se queixa. O oficial da Polícia não disse nada que corroborasse as declarações do luso-angolano. Nenhum cidadão foi detido na sequência da dita interpelação que Rui Galhardo interpretou como “tentativa de assassinato”.

As duas principais televisões do MPLA (TPA e Zimbo) cobriram em directo a queixa que Rui Galhardo foi fazer contra Adalberto da Costa Júnior. Relembra o Correio Angolense que nunca antes de Galhardinho e nem depois da Galhardinho as televisões públicas fizeram tal exercício.

Naquele dia 13 de Março, além do queixoso, a advogada Manuela Mendes também chamou à atenção dos telespectadores pela esforçada tentativa de estabelecer um cordão de segurança em torno de Rui Galhardo. Com as mãos – e algumas vezes até quase com as pernas -, Manuela Mendes fez tudo para afastar os jornalistas que queriam saber como o queixoso “se sentia” depois de ser ouvido no SIC.

Ofegante, Manuela Mendes ainda conseguiu dizer aos jornalistas que achava “legítima” a queixa apresentada por Rui Manuel Galhardo. Tal como a irmã Rosa, Manuela trabalha no escritório de advogados que tem o nome do pai – David Mendes.

O valor dos honorários advocatícios (5 milhões de kwanzas) foi revelado pelo próprio Rui Manuel Galhardo a pessoas do seu círculo de amizades. O envolvimento do seu escritório na defesa de Rui Galhardo explica, também, o ódio de David Mendes a Adalberto da Costa Júnior.

Rui Manuel Galhardo e Adalberto da Costa Júnior trabalharam juntos na representação da UNITA em Portugal. Foi lá que começaram as suas desavenças, que se aprofundaram depois do XIII congresso da UNITA, em que a aposta de Rui Galhardo para a presidência, José Pedro Katchiungo, foi “esmagada” por Adalberto da Costa Júnior.

Rui Manuel Galhardo, tal como era a sua esfera de actuação em Portugal, encabeça uma “task force” encarregue de mobilizar prostitutas e menores de idade que atribuiriam a Adalberto da Costa Júnior práticas como estupro e pagamentos para abortos.

A queixa-crime feita por Rui Galhardo e o iminente surgimento de menores que teriam sido violentadas sexualmente são alguns do canhangulos em que Adalberto Costa Júnior tropeçará nos próximos tempos.

De acordo com o Correio Angolense, há pouco mais de uma semana, Faustino Henrique, um editor de Opinião do Jornal de Angola, aconselhou a UNITA a criar, já, um “plano B”, uma alternativa a Adalberto da Costa Júnior. Faustino Henrique acredita que “processos (judiciais) podem propositadamente ser reactivados na véspera das Eleições Gerais, em Agosto de 2022, a faltar dois, três ou cinco meses, ficando a UNITA completamente sem opção”. O editor do Jornal de Angola acredita que o “afastamento de ACJ virá ocorrer, de alguma forma”.

Desde que regressou de Portugal, onde se doutorou no “basfond” de Lisboa, não é conhecida nenhuma ocupação profissional de Rui Manuel Galhardo. Não é conhecida, mas o MPLA tem patrocinado o seu pós-doutoramento…

Folha 8 com “Isto é Notícia”

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