No dia 24 de Junho de 2020, o MPLA repudiou, com veemência, o jornal “Folha 8”, pela publicação de um texto (apenas na sua página do Facebook) em que – segundo o partido dirigido por João Lourenço – associou o então Presidente de Angola, António Agostinho Neto, às figuras consideradas defensoras da escravatura.
O pequeno texto que o Folha 8 publicou diz: “Vários países estão a retirar dos espaços públicos as estátuas de assassinos, ditadores e defensores da escravatura. Em Angola está a demorar muito para que isso aconteça”.
Das três “acusações” (assassinos, ditadores e defensores da escravatura) o Bureau Político do MPLA, tal como os seus sipaios, só contestou a terceira. Assim, deu como provadas e inquestionáveis as duas primeiras: Assassino e ditador.
Finalmente. Obrigado MPLA!
Vejamos, agora que a Comissão da Carteira e Ética já atribuiu as primeiras carteiras profissionais aos jornalistas angolanos, o que os paladinos do jornalismo re(i)gimental, o Jornal de Angola, escreveu sobre este assunto, em Junho de 2020, pouco importando que, ontem como hoje, entenda que obra-prima do Mestre é a mesma coisa que a prima do mestre de obras:
“Personalidades políticas e ligadas ao movimento cultural angolano lamentaram, em Luanda, a forma “leviana e irresponsável” como o jornal “Folha 8”, de William Tonet, comparou o Fundador da Nação angolana e Primeiro Presidente da República, António Agostinho Neto, a figuras ligadas ao tráfico de escravos, cujas estátuas estão a ser derrubadas em vários países”, escreveu o Jornal de Angola (do MPLA) no dia 24 de Junho de 2020.
Eis o texto então publicado: «O Jornal de Angola ouviu a antiga ministra da Cultura, Rosa Cruz e Silva, para quem Agostinho Neto manifestou-se, desde muito cedo, como defensor das ideias de justiça social e envolveu-se directamente em causas para a luta pela liberdade do seu Povo.
Como opção na sua produção literária, a poesia de Neto desempenhou um papel determinante por forma a despertar as consciências do povo, referiu a então ministra da Cultura, salientando que Agostinho Neto se revelou como um poeta destemido, fazendo da poesia uma poderosa arma para reivindicação dos direitos dos povos oprimidos.
Rosa Cruz e Silva apontou, como “verdadeiras tribunas” de Neto na luta pela emancipação dos povos oprimidos, a Casa dos Estudantes do Império, o MUD-Juvenil, o Centro de Estudos Africanos, e o Clube Marítimo Africano, acrescentando ter sido por esse facto que a polícia fascista portuguesa (PIDE) o prendeu por diversas vezes, passando por Aljube, Caxias, e Santo Antão (Cabo Verde) em prisão domiciliar.
Como prova de que as declarações do jornal “Folha 8” não passam de meras especulações, Rosa Cruz e Silva lembrou que o Fundador da Nação angolana decidiu regressar ao país em Dezembro de 1959, para prestar a sua contribuição directa na luta, juntando-se aos círculos da luta política clandestina em curso na capital, e com o seu carisma político imprimiu maior dinamismo ao Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) a braços com a onda repressiva da polícia política que se abatia contra os patriotas angolanos, em vagas sucessivas de prisões.
“Neto estava assim vocacionado a cumprir a missão de um dia libertar o seu povo e proclamar a Independência do seu país”, afirmou, recordando que depois do golpe do 25 de Abril, que derruba o sistema político fascista em Portugal, Neto entra em Luanda como um verdadeiro Messias e proclama a Independência da República Popular de Angola. E o país ganhou voz própria no concerto das Nações.
O historiador Cornélio Caley, em reacção à publicação do semanário privado, comentou nos seguintes termos: “Nunca na História de Angola Agostinho Neto aparecerá ligado às ideias de escravatura. Antes pelo contrário, ele lutou tenazmente contra a escravatura”. Para o antigo secretário de Estado da Cultura, Agostinho Neto, Homem nascido em 1922, filho de pais protestantes, infância repartida entre os Dembos, Catete, Bié e Luanda, vida estudantil no Liceu Salvador Correia, Universidade de Coimbra e Lisboa, seguido de anos de prisões de luta contra o fascismo português, foi um Líder da luta de libertação nacional de Angola, durante a qual definiu correctamente quem era o inimigo. “ Onde A. Neto terá tido influências escravocratas? Atenção juventude! Só mentes desesperadas, que procuram travar o vento com as mãos, poderão conceber ideias do género. Para eles, temos uma resposta: a luta continua!”, declarou Cornélio Caley.
O deputado do MPLA João Pinto descreve António Agostinho Neto (1922-1979) como líder nacionalista e poeta que combateu o racismo e a escravatura em consequência de ter proclamado a Independência de Angola, previamente vaticinado no seu poema o “ Içar da Bandeira”. Lembrou que Neto esteve preso em várias ocasiões por ter posições contra o sistema racista e colonial que via no homem africano um objecto e não um sujeito da vida política, social, económica e cultural.
O MPLA repudiou, com veemência, o jornal “Folha 8”, pela publicação de um texto em que associa o antigo Presidente de Angola, António Agostinho Neto, às figuras consideradas defensoras da escravatura. Em nota de repúdio, o Bureau Político do Comité Central do partido maioritário considera “leviana e irresponsável” a inclusão do Fundador da Nação entre essas figuras, cujas estátuas estão a ser removidas de espaços públicos, por manifestantes anti-racistas, nalguns países.
Para o MPLA, trata-se de uma “atitude despropositada e infame”, que “atenta contra a História e memória colectiva do Povo Angolano e revela falta de Patriotismo” do jornal. Conforme o partido no poder, António Agostinho Neto é reconhecido e respeitado, a nível nacional e internacional, “como destemido soldado da linha da frente no combate à segregação racial e da luta armada de libertação nacional”.
O MPLA sublinha que, sob a liderança de Neto, Angola se constituiu, por vontade própria, “em trincheira firme da revolução em prol dos ideais de liberdade e dignidade” dos africanos. “As obstinadas tentativas de macular a honra e o bom nome de António Agostinho Neto, Herói Nacional e Pai da Independência de Angola, enquadram-se na campanha com fins inconfessos que o jornal ‘Folha 8’ tem levado a cabo ao longo dos anos”, lê-se na nota.
O MPLA escreve que se reserva o direito de voltar a recorrer às instâncias de Justiça e à Entidade Reguladora da Comunicação Social Angolana, no sentido de fazerem cumprir, de facto e de júri, com o estabelecido nos termos da Constituição e da lei, quanto aos limites ao exercício da liberdade de imprensa e de opinião.
O Bureau Político do MPLA exorta os angolanos a pautarem a sua conduta no respeito pela convivência harmoniosa e a não pactuarem com “desvarios e modismos políticos que possam minar o ambiente de pacificação dos espíritos”. A nota lembra que, nesta altura, no âmbito da reconciliação nacional e consolidação do Estado Democrático de Direito, está em curso o processo de homenagem às vítimas dos conflitos políticos registados em Angola, entre 11 de Novembro de 1975 e 4 de Abril de 2002.»