Amém Presidente!

O Presidente angolano (João Lourenço), bem como o Presidente do MPLA (João Lourenço) e o Titular do Poder Executivo (João Lourenço) “disseram” hoje que um país não se constrói em dez anos, tempo de mandato permitido constitucionalmente, e que vem cumprindo as suas promessas eleitorais. Deve ser verdade. Se o MPLA está no Poder há quase 46 anos e ainda não conseguiu…

Por Orlando Castro (*)

João Lourenço, que falava à imprensa no final da cerimónia de inauguração do Polo de Desenvolvimento Industrial de Saurimo, na província da Lunda Sul, referiu que se trata de “um processo” e se considerar que o seu dever foi cumprido “já não há mais nada a fazer”. Pois é. Não bastou ver roubar, participar no roubo e beneficiar do roubo. Uma chatice, portanto.

“Ficaríamos por aqui e a intenção não é ficarmos por aqui. O dever vem sendo cumprido, a intenção é replicar esse centro para outros pontos do país, não ficarmos apenas pela cidade de Saurimo”, realçou. Acreditamos. É, aliás, a razão pela qual o MPLA pretende chegar aos 100 anos de governação ininterrupta. E já só faltam 54 anos.

O chefe de Estado angolano (não nominalmente eleito), que completou esta semana quatro anos como cabeça-de-lista do MPLA às eleições e, por essa via ascendeu a Presidente, reforçou que “não importa o que o Presidente pode fazer”, porque “não se constrói um país em dez anos”. Nem em 46, a fazer fé no desempenho do MPLA.

“É o máximo que a Constituição lhe permite, um país não se constrói em dez anos, cada um deve fazer a sua parte e passar o testemunho a quem o vier substituir. Significa dizer que há coisas que fazemos e vamos inaugurar, o que está a acontecer agora, por exemplo, há coisas que vamos começar e será outro cidadão angolano a inaugurá-las e não importa quem seja a pessoa, o importante é que o executivo possa trabalhar para o desenvolvimento do nosso país”, salientou.

João Lourenço, que se deslocou desde quinta-feira às províncias diamantíferas da Lunda Sul e Lunda Norte, realçou que o processo de electrificação do leste do país está em curso, destacando a obra do aproveitamento hidroeléctrico de Luachimo, que está próximo de ficar concluído.

Segundo o chefe de Estado, este empreendimento, que visitou quinta-feira, deverá ficar concluído no próximo ano, apesar de alguns atrasos, sobretudo de ordem financeira.

“Mas vamos encontrar a solução para a remoção deste constrangimento, de forma a que efectivamente esse importante empreendimento para a província da Lunda Norte fique realizado”, frisou.

“Por outro lado, estamos também a trabalhar no sentido de interligar os vários sistemas eléctricos, o sistema norte ao sistema leste, para trazer energia das fontes de produção, de Laúca, de Caculo-Cabaça, quando ficar pronta, com linhas de transporte de energia, para os pontos que são essencialmente pontos de consumo, porque não têm capacidade de produção de energia em quantidade suficiente”, acrescentou.

No que se refere à educação, João Lourenço garantiu que o Governo também está atento a essa questão, no sentido de levar “o ensino superior de qualidade para todos os cantos do país”. É um bocado difícil levar, seja para que cantos for, o que não existe no país (“ensino de qualidade”). Mas se o nosso (isto é como quem diz) dono da verdade garante que é possível…

“Está dentro dos nossos planos e, à medida que vamos conseguindo recursos financeiros necessários para o cumprimento deste desejo, vamos fazê-lo. Portanto, queremos um país desenvolvido, não diria por igual, mas sem discriminação. Ontem dizia ao bispo da Lunda Norte que o executivo não tem filhos e enteados, só tem filhos. Tem que trabalhar, tem que tratar a todos por igual, ninguém se deve sentir discriminado, porque efectivamente não existe essa intenção de discriminar nenhum povo, de discriminar nenhuma região do nosso país”, afirmou.

Quem quiser que acredite. E há quem acredita. Aliás, os angolanos são tão boas pessoas que até acreditam que, por decreto, o Presidente consegue fazer com que os jacarés sejam vegetarianos.

As duas províncias vêm reivindicando há vários anos maior autonomia e benefícios da produção de diamantes para os habitantes locais, o que tem originado algumas vezes protestos populares.

Falta quase para… pouco

Quatro anos de governação e para chegarmos ao paraíso já só falta quase para pouco. Quando o Presidente da República esteve em Nova Iorque (EUA) reconheceu que “são legítimas as reclamações de alguns sectores da sociedade que não viram ainda concretizados as suas expectativas de vida”.

Com a sua oratória mais de brilhantina do que brilhante, afirmou que em dois anos não se fazem “milagres” e “o que não se fez em 44 anos, ninguém pode esperar que se faça em dois. Seria ingenuidade”. É verdade. Nem mesmo em três anos. Nem mesmo em quatro. Nem mesmo em 46 anos de independência.

Foi com gosto que registamos a concordância de João Lourenço (nós compreendemos, Presidente, que tenha omitido o nosso nome) com as teses defendidas pelo Folha 8 quando, por diversas vezes, escreveu que para fazer o que não foi feito em 46 anos o MPLA precisa de estar no Poder mais 54 anos.

O Presidente da República, tal como o Folha 8, defendeu uma “efectiva e proporcional punição” daqueles que cometem crimes de corrupção, referindo que “não basta apregoar aos quatro ventos o combate à corrupção, é necessário a existência de uma efectiva e proporcional punição.”

João Lourenço, o mais alto magistrado do país, tenta convencer-nos que é diferente, que com ele tudo será diferente, que tem as mãos limpas. Acreditamos. E porque acreditamos tomamos a liberdade de perguntar por onde andou nas últimas décadas o general João Lourenço? Claro. Claro. Só cá chegou em… 2017.

Segundo os nossos dados, nunca é por de mais dizê-lo, existem dois cidadãos com o mesmo nome: João Manuel Gonçalves Lourenço. Um sempre foi um homem do sistema, do regime. 1984 – 1987: 1º Secretário do Comité Provincial do MPLA e Governador Provincial do Moxico; 1987 – 1990: 1º Secretário do Comité Provincial do MPLA e Governador Provincial de Benguela; 1984 – 1992: Deputado na Assembleia do Povo; 1990 – 1992: Chefe da Direcção Politica Nacional das FAPLA; 1992 – 1997: Secretário da Informação do MPLA; 1993 – 1998: Presidente do Grupo Parlamentar do MPLA; 1998 – 2003: Secretário-geral do MPLA; 1998 – 2003: Presidente da Comissão Constitucional; Membro da Comissão Permanente; Presidente da Bancada Parlamentar; 2003 – 2014: 1º Vice-presidente da Assembleia Nacional.

O outro é o actual Presidente do MPLA, Titular do Poder Executivo e Presidente da República, que chegou a Angola há pouco mais de quatro anos com a nobre, emblemática e divina missão de nos levar (nunca é por de mais dizê-lo) para o paraíso.

Além disso, os angolanos gostariam de conhecer a declaração de rendimentos do “primeiro” João Lourenço, bem como do seu património, incluindo rendimentos brutos, descrição dos elementos do seu activo patrimonial, existentes no país ou no estrangeiro, designadamente do património imobiliário, de quotas, acções ou outras partes sociais do capital de sociedades civis ou comerciais, carteiras de títulos, contas bancárias a prazo, aplicações financeiras equivalentes.

Gostariam de conhecer a descrição do seu passivo, designadamente em relação ao Estado, a instituições de crédito e a quaisquer empresas, públicas ou privadas, no país ou no estrangeiro.

Gostariam de conhecer a declaração de cargos sociais que exerce ou tenha exercido no país ou no estrangeiro, em empresas, fundações ou associações de direito público.

Isto é o essencial do ponto de vista político, moral e ético. O acessório é tudo o resto. E até agora, tanto quanto é público, João Lourenço (o “primeiro”) só deu a conhecer o… resto. Esperamos, por isso, que o outro João Lourenço ordene que seja tornada pública a declaração de rendimentos do seu homónimo, evitando assim que os angolanos (nós incluídos) sejam tentados a confundir o Diabo (o primeiro) com Deus (o segundo)…

José e João, as duas faces da mesma moeda (furada)

O Presidente da República do MPLA (se fosse de Angola teria, necessariamente, outro comportamento), João Lourenço, qualificou no dia 23 de Maio de 2018, em Luanda, José Eduardo dos Santos, famigerado “escolhido de Deus” e “arquitecto da Paz”, como exímio diplomata, “que conduziu, com mestria e saber, o processo de reconhecimento, pela comunidade internacional, do Estado angolano, fundado a 11 de Novembro de 1975”.

João Lourenço discursava na 8ª Reunião de Embaixadores de Angola no Exterior, que pretendia alicerçar uma diplomacia mais eficiente e virada para a promoção da boa imagem do país, para a captação do investimento privado estrangeiro e para a sua eleição como destino turístico.

Nesse discurso, o Chefe do Estado do MPLA enalteceu, também, o seu antecessor, em toda a sua acção, “que permitiu à Nação angolana sobreviver perante a hostilidade do regime do apartheid e dos seus aliados e afirmar-se como Nação solidária com os povos oprimidos da África austral e do resto do Mundo”.

“Quero, por isso, realçar o facto de que, ao longo de toda a nossa história, ter sido crucial o papel desempenhado por exímios diplomatas angolanos, dentre os quais quero destacar a figura do Presidente José Eduardo dos Santos”, disse o Presidente João Lourenço.

Custa a compreender a dificuldade que o mundo tem em reconhecer o papel único – como muito corrobora João Lourenço – de José Eduardo dos Santos, tanto em Angola como em África e até nos restantes continentes. Esperemos que, tão rapidamente quento possível, a Academia Sueca não se esqueça de lhe atribuir um Prémio Nobel. Qual? Tanto faz.

Ao excluírem sistematicamente o “escolhido de Deus”, o “arquitecto da Paz”, a revolta vai instalar-se no regime e as repercussões mundiais serão graves. Todos sabemos que quando regime do MPLA, sob comando do general João Lourenço, espirra o mundo apanha uma grave pneumonia. O MPLA através dos impolutos órgãos de comunicação social, vai com certeza – se acaso ela se voltar a esquecer – declarar a Academia Real Sueca “persona non grata”, prevendo-se a promulgação de um decreto, com efeitos retroactivos, em que se corta todo o tipo de relações com aquela instituição.

Todo o mundo sabe, ou devia saber, que José Eduardo dos Santos foi a figura africana do ano durante 38 anos, assim como João Lourenço já tem o mesmo estatuto há três anos.

A Academia Sueca parece, contudo, esquecer pontos fundamentais, tão assertivamente evidenciados por João Lourenço: “O Presidente José Eduardo dos Santos não governou Angola durante 38 anos. Ele foi o líder de um povo que teve de enfrentar de armas na mão a invasão de exércitos estrangeiros e os seus aliados internos”;

“José Eduardo dos Santos foi o líder militar que derrubou o regime de “apartheid”, o mesmo que tinha Nelson Mandela aprisionado. José Eduardo dos Santos só aceitou depor as armas quando a Namíbia e a África do Sul foram livres e os seus líderes puderam construir regimes livres e democráticos”.

E nestes quatro anos já será possível, e justo, dizer que:

– Foi graças a João Lourenço que Portugal adoptou a democracia, que a escravatura foi abolida, que D. Afonso Henriques escorraçou os mouros, que Barack Obama foi eleito e que os rios passaram a correr para o mar;

– O divino carisma de João Lourenço já o tornou o mais popular político mundial, pelo menos desde que Diogo Cão por cá andou. Tão popular que bate aos pontos Nelson Mandela, Martin Luther King e até mesmo Cristiano Ronaldo ou Lionel Messi.

Também concordamos que, em alternativa e em função do que já fez nos últimos quatro anos, João Lourenço merece um Prémio Nobel que, contudo, ainda não existe. Ou seja, um Nobel que distinga quem é o principal responsável por Angola ser – entre muitas outras realidades – um dos países menos corruptos do mundo, por ser um dos países com melhores práticas democráticas, por ser um país sem assimetrias sociais, por ser o país com o menor índice de mortalidade infantil do mundo.

Escrever sobre João Lourenço abordando tanto a sua divina e nunca vista (nem mesmo pelo Vaticano) qualidade de Presidente da República como a de simples, honrado, incólume, impoluto, honorável e igualmente divino cidadão, tem tanto de fácil como de complexo. Fácil porque basta conjugar o verbo elogiar. Complexo porque não há qualificativos que cheguem…

Por outras palavras. Fácil, porque se trata de uma figura que lidera o top das mais emblemáticas virtudes da humanidade, consensualmente (desde a Coreia do Norte à Guiné Equatorial) aceite como possuidora de uma personalidade até hoje acima de qualquer outra.

Não admira, pois, que seja considerado com toda a justiça não só pai da nação do MPLA, de África, do Mundo e de tudo o mais que se vier a descobrir nos próximos séculos. Isso foi mais ou menos o que João Lourenço disse de Eduardo dos Santos, dirão os leitores. É verdade. Mas se ele disse isso do anterior Presidente, imaginem o que dirá de si próprio quando se olha ao espelho…

A complexidade de se escrever sobre João Lourenço resulta, afinal de contas, da soma dos factores que já o tornam unanimemente como a mais carismática, impoluta, honorável divina etc. etc. etc. figura da história da humanidade.

Quem com ele conviveu na infância e na juventude reconhece-lhe o mérito de, ao longo dos anos, se ter mantido fiel a si mesmo, mostrando já desde pequeno (talvez até mesmo antes de nascer) a sua faceta de futuro cidadão carismático, impoluto, honorável, divino etc. etc. etc. figura da história da humanidade.

Dizem os muitos milhões de amigos que tem espalhados por todo o universo conhecido, que sempre foi amigo dos seus amigos, que nunca esqueceu de onde veio e muito menos de onde nasceu e com quem conviveu nos bancos da escola.

Sempre disponível para ajudar quem a si recorre nas mais variadas circunstâncias, João Lourenço é o rosto da generosidade, da determinação, do carisma que caracterizam um ser impoluto, honorável, divino etc. etc. etc. figura da história da humanidade.

Mas há mais. Para além da sua faceta enquanto cidadão carismático, impoluto, honorável, divino etc. etc. etc. e figura da história da humanidade, é igualmente um homem (talvez o único) de paz e de uma só palavra, discreto a ponto de se recusar a dar ordens para que seja escolhido como vencedor do Prémio Nobel da Paz, preferindo passar os louros da sua excelsa, impoluta e honorável governação para os seus colaboradores.

A sua dedicação à família, caso a merecer estudo científico por ser único desde a pré-história, é assumida sem grande alarido, mas com uma total devoção.

Homem de uma só palavra, cidadão carismático, impoluto, honorável, divino etc. etc. etc. figura da história da humanidade, João Lourenço carrega consigo o segredo de ser amado por 99,6% dos angolanos….

Embora seja um cidadão carismático, impoluto, honorável, divino etc. etc. etc. figura da história da humanidade, dizem os seus impolutos colaboradores que é uma pessoa normal, de carne e osso.

E é aqui que reside o busílis. Assim não será eterno.

(*) Com Lusa

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