ALGUÉM DISSE AO PAPA QUE HAVIA POBRES EM ANGOLA?

O Papa Francisco defende que deve ser dada novamente voz aos mais necessitados, durante uma visita à cidade de São Francisco de Assis, em Itália, a propósito do Dia Mundial dos Pobres, que se celebra amanhã, domingo. Em Angola não vale a pena celebrar porque, afinal, o país só tem 20 milhões de pobres…

“É hora de os pobres se manifestarem, porque as suas reivindicações não foram ouvidas durante muito tempo. É hora de abrir os olhos para a desigualdade em que vivem tantas famílias. É hora de arregaçar as mangas para restaurar a dignidade através da criação de emprego”, sublinhou o chefe da Igreja Católica.

Criticando “a injustiça de certas medidas económicas” e “a hipocrisia de quem quer enriquecer de forma desproporcional”, o Papa pediu um “exame de consciência”. Nada disto se aplica ao reino do MPLA, partido que em 46 anos de poder continua a trabalhar para os poucos que têm milhões, esquecendo os milhões que têm pouco ou… nada.

“Hoje, somos todos iguais, não há grandes nem pequenos. Aquece o coração. Espero que leve alguns a sobreviver”, disse à agência France-Presse.

Antes de regressar ao Vaticano, Francisco convidou as pessoas “a indignarem-se com a realidade das crianças famintas, reduzidas à escravidão”, e pediu “o fim da violência contra as mulheres, para que sejam respeitadas e não tratadas como mercadoria”.

“Mas, afinal, existem pobres em Angola?”, pergunta o Presidente

Segundo o “Vatican News”, em Dezembro de 2020 o então presidente da Conferência Episcopal de Angola e São Tomé (CEAST), D. Filomeno do Nascimento Viera Dias, terá dito que “o foco no pobre permanece uma prioridade da igreja”.

“O foco no pobre permanece uma prioridade, devemos pensar juntos o que podemos fazer por eles, de forma organizada, sistematizada e programada, cada um pense qual o lugar do pobre na sua vida e no seu carisma e como se comprometer com ele, não de modo ocasional, circunstancial, mas ordinário e inciso”, disse Filomeno do Nascimento Viera Dias.

Recorrendo-se da Encíclica Fratelli Tutti, do Papa Francisco, D. Filomeno do Nascimento Viera Dias disse que a caridade é acompanhar uma pessoa que sofre.

“Outro sonho neste nosso peregrinar de família é a pastoral vocacional, muito espero que a pastoral vocacional seja transversal a toda a vida diocesana e merece o mesmo enfoque que as outras pastorais”, afirmou, por outro lado o pastor da Igreja Católica em Luanda.

Em Março de 2020, o porta-voz da Conferência Episcopal de Angola e São Tomé afirmou que o país estava “numa penúria” há 7 anos, mas garantiu que “brevemente ou a seu tempo” as autoridades competentes vão responder. E enquanto não respondem, e não respondem há 46 anos, muitos angolanos vão confirmar que não lhes foi possível viver sem comer. Isto porque, entretanto, morreram.

Os bispos católicos angolanos anunciaram na altura que o Presidente João Lourenço (não se sabe se na qualidade de líder do MPLA ou de Titular do Poder Executivo) assegurou que “em breve” seriam conhecidos os resultados do processo de repatriamento de capitais ilícitos, considerando que Angola está num contexto de “penúria e muita delicadeza”. É claro que a penúria não é generalizada. Membros do Governo e bispos não sabem o que é uma situação de grande pobreza, de indigência, de falta do que é necessário (penúria).

“O contexto sociopolítico do país é, de facto, de muita delicadeza. Quando há pobreza, há crise, todo mundo pede, todo mundo chora, mas as repostas tornam-se muito difíceis, porque não estamos na abundância do passado, mas estamos numa penúria que já nos leva há mais de sete anos”, afirmou o porta-voz da Conferência Episcopal de Angola e São Tomé (CEAST), Belmiro Chissengueti.

Em declarações, no Palácio Presidencial, em Luanda, após os prelados católicos serem recebidos, em audiência, por João Lourenço, o bispo Belmiro Chissengueti deu conta que o repatriamento de capitais ilícitos foi um dos pontos abordados.

Sobre o assunto, o também bispo de Cabinda fez saber que João Lourenço garantiu aos bispos da CEAST, presentes no encontro, que “brevemente ou a seu tempo” as autoridades competentes empenhadas nesse processo, nomeadamente a Procuradoria-Geral da República e o Ministério das Finanças, “darão a informação pontual a respeito disso”.

O “difícil” quadro socioeconómico do país, “agravado com a queda do preço do petróleo”, o suporte quase exclusivo da economia angolana, também constitui preocupação dos bispos católicos apresentada ao Presidente angolano. “De maneira que temos de tomar consciência de tempos de bastante austeridade e dificuldade e que exigirão a compreensão e colaboração de todos”, sustentou.

Será que os dirigentes da Igreja Católica (do Governo não vale a pena falar) vão abdicar de alguma das – pelo menos três – refeições que têm por dia para compartilhar com aqueles, também angolanos, que foram gerados com fome, nasceram com fome e que vão morrer com… fome?

Para o porta-voz da CEAST, no quadro de “muita dificuldade” que o país vive, atenção especial deve ser dada “às franjas mais vulneráveis da população para que não sejam muito atingidas” pelo flagelo. “Vimos também a questão da ordem social que é necessário ajudar a garantir e também outras opções que o Estado deve tomar para que se possa salvaguardar a paz e a reconciliação nacional”, acrescentou.

Há quem afirme que são cada vez mais as vozes que dentro do MPLA – fora já sabemos que é verdade – estão a mostrar o seu descontentamento com as políticas do “querido líder”. Será? É que a resposta aos contestatários (serão fraccionistas?) passa por acusações de corrupção, confisco de bens etc. e, também no MPLA, quem tem cu tem medo.

Talvez estejam, aos poucos, a ver que sua majestade o novo rei, João Lourenço, não tardará (mais pela razão da força do que pela força da razão) a recorrer aos ensinamentos do seu guru e herói mundial, António Agostinho Neto, não perdendo tempo com julgamentos.

Parece-nos, contudo, que essas afirmações, suposições ou desejos sobre uma eventual revolta são apenas treta. Treta que por ser congénita no MPLA mostra como os seus dirigentes são muito fortes com os fracos. Dizem-nos que o nepotismo do actual “escolhido de Deus” atingiu um descaramento tal que há altos dirigentes que ameaçam bater com a porta e sair. João Lourenço não acredita. Ele conhece bem quão cobardes são os seus pares. Por alguma razão ele próprio, enquanto vice-presidente do MPLA e ministro da Defesa, “amputou” a coluna vertebral para estar sempre de acordo com José Eduardo dos Santos.

De facto é difícil acreditar que existam dirigentes que digam que querem sair, que pedem para sair. Isto porque só pede ou ameaça sair quem, afinal, quer ficar. Quem quer de facto sair… sai.

Esta nossa convicção e modo de vida (que, reconhecemos, apenas servem para nos colocar na linha de fogo), reforça a ideia de que na primeira fila do teatro da vida política dos angolanos, mas não só, está a subserviência, a bajulação e o eunuquismo colectivo e/ou individual.

E essas “qualidades” do MPLA estão na primeira fila, na ribalta, porque querem ser vistas. A competência, a independência, a luta por causas, o estar na política par servir e não para se servir, essa está (quando, apesar de estar em vias de extinção, ainda aparece) lá atrás porque – modesta como sempre – apenas quer ver. E, hoje, apenas ver não chega. É preciso agir, enfrentar, dar a cara. Tê-los no sítio.

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