Vão comer-se uns aos outros

A justiça suíça condenou um ex-administrador de uma empresa holandesa, que reside em Portugal (só podia!), por corrupção de vários quadros da petrolífera estatal angolana Sonangol, num total de 6,8 milhões de euros entre 2005 e 2008. O MPLA nunca deixou os seus créditos por corrupções alheias…

Vários dirigentes da companhia petrolífera do MPLA (Sonangol) foram subornados com centenas de milhões de dólares por parte de uma companhia holandesa envolvida em operações de apoio à exploração de petróleo no off-shore angolano, revelam documentos da procuradoria federal suíça agora divulgados,

Os documentos dizem respeito ao julgamento e condenação na Suíça de Didier Keller, da companhia holandesa SBM Offshore, que, em Agosto, foi considerado culpado de envolvimento em subornos de cerca de 6,8 milhões de dólares a entidades da Sonangol entre 2005 e 2008.

A 30 de Novembro de 2017, a VOA tinha noticiado que a SBM concordara em pagar ao Governo norte-americano 238 milhões de dólares para encerrar uma acção em tribunal envolvendo corrupção em Angola e outros países.

Na altura, não foram revelados os nomes das entidades angolanas envolvidas no esquema.

Entretanto, os documentos da procuradoria suíça agora publicados indicam que as personalidades angolanas que aceitaram pagamentos da companhia SBM Off Shore são Sianga Kivuila Samuel Abílio, antigo director executivo e membro do Conselho de Administração da Sonangol, cuja parte de pagamentos teria sido feita através da companhia Domografos Africa, Ltd., com conta num banco português, José Manuel Jesus Sardinha de Sousa, antigo director de produção da Sonangol, e a esposa Cristina Coelho de Sousa, Ruben Monteiro Costa, antigo chefe do departamento de instalações, Luís Pedro Manuel, que para além de ser um “quadro” da Sonangol pertencia também à direcção da filial Sonangol USA, e esposa Ivette Magda Brito Manuel, e Baptista Muhongo Sumbe, presidente do Conselho de Administração e director executivo (CEO) da Sonangol USA.

No caso de Baptista Muhongo Sumbe, mais de quatro milhões e 600 mil dólares foram pagos à companhia Mardrill, sediada num “paraíso fiscal” sob pretexto de que essas “comissões” iriam beneficiar a Sonangol.

Os documentos revelam que, misteriosamente neste caso, o então presidente do Conselho de Administração da Sonangol, Manuel Vicente, avisou Keller para “não ter confiança nos seus directores, sem dar outras explicações”.

Keller ignorou o aviso de Manuel Vicente e procedeu aos pagamentos de quatro prestações de mais de 920 mil dólares cada àquela companhia.

O dinheiro depositado na conta da Mardrill foi usado “para fins pessoais” de Baptista Muhongo Sume e esposa, dizem os documentos.

Todo os pagamentos foram feitos para garantir que esses directores não iriam vetar acordos assinados entre as companhias petrolíferas e a SBM para prestação de serviços. Todos esses contratos, segundo o texto da VOA, tinham que ser aprovados por “diversos níveis da hierarquia da Sonangol”.

Por razões não explicadas, grande parte dos pagamentos àquelas entidades foi feito em diversas prestações de entre 100 mil e 200 mil dólares através de bancos portugueses e suíços.

A excepção foi o pagamento feito à Mardrill em quatro prestações (938.400, 923.100, 938.400, 923.100 e 938 400 dólares) entre Dezembro de 2006 e Julho de 2008.

Estas novas revelações deverão aumentar as pressões para que as autoridades angolanas levem a cabo uma profunda investigação das contas e contratos da Sonangol, já envolvida recentemente nos escândalos do empresário Carlos São Vicente e nos negócios da empresas de Isabel dos Santos e do seu marido, financiados alegadamente com dinheiro do estado angolano.

A revista ”Valor Económico” referiu que dois antigos ministros do petróleo, Albina Assis Africano e Desidério Costa, eram accionistas da companhia Socalp “uma das duas empresas que receberam dividendos da Sonils entre 2004 e 2012 no valor de 23 milhões de dólares, mesmo sem fazerem parte da estrutura formal de accionista” dessa subsidiária da Sonangol.

Complementarmente, para que não se julgue que os dirigentes são corruptos, recorde-se quem eram – com dados de 2017 – os 59 angolanos mais ricos, riqueza essa resultante (obviamente) do árduo, honesto e impoluto trabalho de cada um deles:

Com mais de 100 milhões de USD

1 – José Eduardo dos Santos, Presidente da República
2 – Lopo do Nascimento, Deputado
3 – José Leitão, Chefe da Casa Civil
4 – Elísio de Figueiredo, Embaixador
5 – João de Matos, General
6 – Higino Carneiro, Ministro das Obras Públicas
7 – Hélder Vieira Dias (Kopelipa), General
8 – António Mosquito, Empresário
9 – Valentim Amões, Empresário
10 – Sebastião Lavrador, Bancário
11 – José Severino, Empresário
12 – Joaquim David, Ministro da Indústria
13 – Manuel Vicente, PCA da Sonangol
14 – Abílio Sianga, Admnistrador da Sonangol
15 – Mário Palhares, PCA do BAI
16 – Aguinaldo Jaime, Ministro Adjunto do primeiro-ministro
17 – França Ndalu, General na Reserva
18 – Amaro Taty, Governador do Bié
19 – Noé Baltazar, Director Delegado da ASCORP
20 – Desidério Costa, Ministro dos Petróleos

Com mais de 50 milhões e menos de 100 milhões de USD

21 – João Lourenço, Secretário-Geral do MPLA
22 – Isaac dos Anjos, Embaixador
23 – Faustino Muteka, Ministro da Administração do Território
24 – António Vandúnem, Secretário do Conselho de Ministros
25 – Dumilde Rangel, Governador de Benguela
26 – Salomão Xirimbimbi, Ministro das Pescas
27 – Jardim, Ex-Ministra das Pescas
28 -Dino Matross, 1°.Vice-Presidente da Assembleia Nacional
29 – Álvaro Carneiro, Ex-Director Adjunto da Endiama
30 – Flávio Fernandes, Ex-PCA da Multiperfil
31 – Fernando Miala, Ex-Director dos Serviços de Segurança do Estado
32 – Armindo César, Empresário
33 – Ramos da Cruz, Governador da Huila
34 – Gomes Maiato, Governador da Lunda-Norte
35 – João E. dos Santos, Governador do Moxico
36 – Gonçalves Muandumba, Governador da Lunda-Sul
37 – Aníbal Rocha, Governador de Cabinda
38 – Ludy Kissassunda, Governador do Zaire
39 – Luiz Paulino dos Santos, Ex-Governador do Bié
40 – Paulo Kassoma, Governador do Huambo
41 – Rui Santos – Empresário
42 – Mário António, Membro do BP do MPLA e Administrador da GEFI
43 – Silva Neto, Ex-Administrador da Sonangol Distribuidora
44 – Júlio Bessa, Ex-Ministro das Finanças
45 – Paixão Franco, Presidente do FDES
46 – Mello Xavier, Deputado e Empresário
47 – Kundi-Payhama, Ex-Ministro da Defesa
48 – Ismael Diogo, Presidente da FESA
49 – Maria Mambo Café, Membro do BP do MPLA
50 – Augusto Tomás, Deputado
51 – Generoso de Almeida, PCA DO BCI
52 – Luiz Faceira, General
53 – Cirilo de Sá, General
54 – Adolfo Razoilo, General
55 – Gilberto Lutukuta, Ministro da Agricultura
56 – Simão Júnior-Empresário (Grupo Chamavo e Gema)
57 – Carlos Feijó, Assessor da Presidência da República
58 – Armando da Cruz Neto, Chefe do Estado Maior das FAA
59 – Fernando Borges, Empresário.

Folha 8 com VoA

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