Um arquitecto à procura de uma voz colectiva sobre o Porto

Projecto LivingCity Porto vai tentar dar expressão artística a reflexões dos cidadãos, que começou agora a recolher. Contributos podem ser enviados até 16 de Outubro.

Por Abel Coentrão (*)

Até 16 de Outubro, procura-se quem, em 300 palavras e/ou quatro imagens consiga explicar o que é que lhe interessa/preocupa/inquieta, no quotidiano do Porto. A partir de uma selecção desses depoimentos, e de um trabalho a desenvolver com os respectivos autores, o arquitecto Orlando Gilberto-Castro pretende, no próximo ano, chegar a um manifesto colectivo sobre a cidade, expresso, artisticamente, de múltiplas formas.

Apoiado pelo programa municipal Criatório, o LivingCity Porto concretiza uma ideia para a qual Orlando Gilberto-Castro vinha tentando outras fontes de financiamento. O ponto de partida é bem claro – procurar, na sociedade portuense, e não apenas entre arquitectos e artistas – reflexões individuais que, após um trabalho de curadoria, que envolverá interacção entre os participantes, possam resultar numa “voz colectiva” sobre a cidade.

“Este projecto surge da vontade de reflectir sobre o rumo que estamos a dar ao mundo e à sociedade. Tem como objectivo conhecer entendimentos e opiniões pessoais sobre a vida no Porto, em 2020, e construir um colectivo de trabalho e reflexão sobre o assunto”, lê-se no site de divulgação do LivingCity Porto que rouba o nome a uma exposição que os Archigram, um grupo de arquitectos ingleses, realizaram nos anos 60.

Na internet há já um manifesto que funciona, para já, como um estímulo às reflexões: Captados os contributos, “cada participante irá desenvolver essas suas intenções num projecto artístico de natureza livre: pode ser um texto, um desenho, um filme, um happening, uma conversa, uma canção, uma mistura disto tudo ou qualquer outra coisa que seja pertinente para transmitir o que quer transmitir”, explica Orlando Gilberto-Castro.

Este trabalho mais individual será desenvolvido até ao final de 2020, segundo o cronograma do projecto. Depois, entre Janeiro e Março de 2021, estas propostas serão apresentadas publicamente e discutidas entre todos os participantes. “Quer-se não apenas apresentar a cidade individual de cada um, mas também habitá-la: calçarmos os sapatos do outro, ver a realidade pelos seus olhos”, escreve o arquitecto, que espera que esta fase de “partilha e reflexão conjuntas” transforme os contributos individuais, num processo de co-autoria.

O resultado final poderá ser visto, pelo público em geral, numa exposição, mas os trabalhos poderão, eventualmente ser divulgados noutros suportes, o que dependerá do tipo de abordagens que os participantes trouxerem para o projecto. No orçamento está já prevista a edição de uma publicação, impressa e de distribuição gratuita, que será o resultado de todo o processo, “um novo manifesto partilhado, ou a síntese do caminho percorrido”. “Esta será uma criação feita de raiz pelo colectivo”, afirma o autor e curador do LivingCityPorto, que considera que, nos dias que correm, fazem falta, principalmente para os cidadãos que não são artistas, espaços “para dizer, para dar conta da inquietação” com o tempo e o lugar em que vivemos.

(*) Artigo publicado hoje no jornal Público

Mais informações em http://www.livingcityporto.org/

Foto: Folha 8

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