Três, dois, um… a farra

O ministro das Telecomunicações, Tecnologias de Informação e Comunicação Social, Manuel Homem, reiterou, nesta quinta-feira, a necessidade de acelerar a modernização das Edições Novembro, no quadro do processo de transformação em curso naquela instituição. Ou seja, disse o mesmo que já disseram Nuno “Carnaval” e João Melo.

Diferentes discursos só tiveram os anteriores ministros: João Filipe Martins, Boaventura Cardoso, Rui de Carvalho, Hendrick Vaal Neto, Manuel António Rebelais, Carolina Cerqueira e José Luís de Matos.

A empresa Edições Novembro – E.P. é a proprietária e produtora dos títulos Jornal de Angola, diário e generalista, Jornal dos Desportos, Jornal de Economia & Finanças, Jornal Cultura, Jornal Metropolitano Luanda, Jornal Planalto e Jornal Ventos do Sul.

Em declarações, após visitar as instalações das Edições Novembro, o ministro Manuel Homem afirmou estar consciente dos desafios que se colocam para a materialização desse pressuposto, que passa pela aquisição de meios técnicos, tecnológicos e informáticos. Competência não é coisa que seja importante numa estrutura que faz comércio jornalístico e não Jornalismo.

Na óptica do governante devem merecer especial atenção a formação de quadros, a segurança social e a reforma dos profissionais.

Ladeado pelos secretários de Estado para Tecnologia de Informação, Mário Oliveira, e para Comunicação Social, Nuno “Carnaval”, o ministro recebeu informações sobre o funcionamento e as necessidades daquela empresa do MPLA.

Já o presidente do Conselho de Administração das Edições Novembro, Victor Silva, mostrou-se expectante com a fusão dos departamentos ministeriais das Telecomunicações, Tecnologia de Informação com o da Comunicação Social, pois espera que traga vantagens do ponto de vista do plano de modernização do sector.

“Temos informações que mais de 750 mil pessoas lêem diariamente o Jornal de Angola nas plataformas digitais”, salientou, revelando uma clara modéstia. Isto porque, como toos sabemos, o Pravda têm diariamente mais de 7.500.000 leitores, isto sem contar mais uns tantos milhões que, que embora sejam analfabetos funcionais, sempre clicam no site do JA.

Victor Silva acrescentou que as Edições Novembro privilegiam a aposta no refrescamento e na formação dos seus profissionais, sendo que uma das grandes acções é uma mudança radical no Jornal dos Desportos, para voltar a ser um diário. Se calhar não seria descabido ter acrescentado, para exemplificar – junto de tão ilustres visitantes – o rigor da informação, que um diário é um jornal que se publica… todos os dias.

No dia 31 de Outubro de 2019, o então ministro da Comunicação Social, Nuno dos Anjos Caldas Albino “Carnaval”, reiterou, em Luanda, a contínua modernização dos órgãos públicos, processo que teve início com a entrada do novo governo. Na sua tomada de posse, João Lourenço defendeu a necessidade de se manter e aprofundar o exercício da liberdade de expressão e de imprensa, alcançada nos últimos anos.

Na sua intervenção durante a passagem de pastas, o então novo ministro referiu-se à continuidade da expansão do sinal da RNA em vários pontos do país, a melhoria das condições de infra-estrutura e tecnológica da ANGOP, TPA e Jornal de Angola, para que se possa conferir maior dignidade aos órgãos e seus profissionais.

Nuno dos Anjos Caldas Albino afirmou que os desafios eram enormes e alguns problemas do sector não terão a sua resolução imediata, solicitando, para o efeito, uma acção conjunta para o alcance das metas traçadas no programa do Executivo.

Aos Conselhos de Administração dos órgãos públicos e aos directores do sector pediu a máxima colaboração, zelo, dedicação, maior comprometimento e patriotismo. O pecado original mantém-se, como esperado. Não poderia faltar a alusão à fidelidade canina ao MPLA, no caso sob o enorme manto do patriotismo. João Melo não fez melhor.

Por sua vez, o ministro cessante, João Melo, destacou, como projectos que deverão merecer a atenção do novo ministro, a reestruturação dos órgãos da comunicação social.

João Melo, para além de agradecer o apoio dos responsáveis do sector durante o seu mandato, manifestou a disponibilidade de continuar a prestar o seu contributo ao sector.

O Governo angolano garantia com João Melo, tal como passou a garantir com “Nuno Carnaval” e agora com Manuel Homem, a “reorganização” do sector da comunicação social, para “reduzir incompatibilidades e dupla efectividade”, dizendo tratar-se de um processo “delicado” mas que vai “continuar”, apesar das divergências entre jornalistas e administrações das empresas públicas de comunicação.

Um jornalismo mais sério, baseado no patriotismo, na ética e na deontológica profissional, é também o que agora o Ministério Telecomunicações, Tecnologias de Informação e Comunicação Social pretende para Angola. A tese (adaptada do tempo de partido único para a era de único partido) foi de Celso Malavoloneke.

Convenhamos, desde logo, que só a própria existência de um ministério da Comunicação Social é reveladora da enormíssima distância a que estamos das democracias e dos Estados de Direito.

Quem é o secretário de Estado, ou o ministro (chame-se João Melo, “Nuno Carnaval”, Manuel Homem, Norberto Garcia ou… João Pinto), ou o próprio Titular do Poder Executivo para nos vir dar lições do que é um “jornalismo mais sério, baseado no patriotismo, na ética e na deontológica profissional”?

Mas afinal, para além dos leitores, ouvintes e telespectadores, bem como dos eventuais órgãos da classe, quem é que define o que é “jornalismo sério”, quem é que avalia o “patriotismo” dos jornalistas, ou a sua ética e deontologia? Ou (permitam-nos a candura da nossa ingenuidade) com outros protagonistas e roupagens diferentes, estamos a voltar (se é que já de lá saímos) ao tempo em que patriotismo, ética e deontologia eram exclusivos de MPLA?

Para alcançar tal desiderato, o Ministério da Comunicação Social iria prestar uma atenção especial na formação e qualificação dos jornalistas, para que estes estejam aptos para corresponder às expectativas do Governo.

Como se vê o gato escondeu o rabo mas deixou o corpo todo de fora. Então vamos qualificar os jornalistas para que eles, atente-se, “estejam aptos para corresponder às expectativas do Governo”? Ou seja, serão formatados para serem não jornalistas mas meros propagandistas ao serviço do Governo, não defraudando as encomendas e as “ordens superiores” que devem veicular.

Celso Malavoloneke lembrou que o Presidente da República, João Lourenço, no seu primeiro discurso de tomada de posse, orientou para que se prestasse uma atenção especial à Comunicação Social e aos jornalistas, para que, no decurso da sua actividade, pautem a sua actividade pela ética, deontologia, verdade e patriotismo. E fez bem em lembrar. É que ministros e secretários de Estado também recebem “ordens superiores” e, por isso, não se podem esquecer das louvaminhas que o Presidente exige.

Aos servidores públicos, o Chefe de Estado recomendou para estarem abertos e preparados para a crítica veiculada pelos órgãos de Comunicação Social, estabelecendo, deste modo, um novo paradigma sobre a forma de fazer jornalismo em Angola.

Sejam implementadas as teses do MPLA (seja qual for o ministro), que ao fim e ao cabo pouco diferem das anteriores, a não ser na embalagem, e os servidores públicos podem estar descansados que não haverá lugar a críticas da Comunicação Social.

Nós por cá vamos continuar a (tentar) dar voz a quem a não tem. Para nós a verdade é a melhor forma de patriotismo. E a verdade não está sujeita às “leis” do MPLA/Estado.

Vamos, em síntese, estar apenas preocupados com as pessoas a quem devemos prestar conta: os leitores. Se calhar não seremos tão patrióticos como o Governo deseja. Mesmo assim, não vamos “assassinar” João Lourenço com elogios bacocos. Continuaremos a fazer tudo para o “salvar” com as nossas críticas.

Folha 8 com Angop / Foto de Rosário dos Santos

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