Terão acabado os sapos?

Adalberto da Costa Júnior deu uma entrevista ao diário português Público onde afirma que “em Angola, o próprio Chefe de Governo incentiva a corrupção”. Pelos vistos o líder da UNITA tem bem presente o que afirmava Jonas Savimbi: “Vocês estão a dormir e o MPLA está a enganar-vos”.

Muito crítico em relação à gestão do Presidente da República (não nominalmente eleito), igualmente Presidente do MPLA (partido que está no Poder há 45 anos) e Titular do Poder Executivo, o líder da UNITA e da oposição que o MPLA ainda permite que exista, diz que “João Lourenço vai se mostrando na sua verdadeira dimensão de autoritarismo sem limite”, fazendo coisas que nem no tempo de José Eduardo dos Santos se viam.

Eleito presidente da UNITA em Novembro do ano passado, Adalberto da Costa Júnior teve tudo menos um primeiro ano normal como líder da oposição em Angola, devido às consequências da pandemia de Covid-19 que permitiu ao Governo justificar tudo o que há décadas deveria ter feito masque não fez, sendo criação das autarquias e das eleições locais apenas um exemplo.

“O elemento mais estratégico de fomento à corrupção é a contratação pública sem concursos”, disse em entrevista ao jornal Público, Adalberto da Costa Júnior, estratégia que é o “filé-mignon” da ladroagem institucional praticado pelo MPLA, partido que é dos mais ricos do mundo e o que tem mais corruptos por metro quadrado.

“E é justamente aqui que João Lourenço está a mostrar-nos que está abraçado a este incentivo, ao incentivo à corrupção. Porque não faz contratação pública com concursos, com transparência necessária”, afirmou Adalberto da Costa Júnior.

“Em Angola, hoje, combate-se os que se querem perseguir e protege-se uma série de outros corruptos de grande dimensão”, afirmou Adalberto da Costa Júnior, acrescentando que, “lamentavelmente, tem provas” que o próprio Chefe do Governo (João Lourenço) incentiva a corrupção.

O líder da UNITA explica: “O Presidente da República que tem como elemento mais importante do seu mandato, segundo ele, o combate à corrupção tem como ministro de Estado, do seu gabinete, um elemento acusado de corrupção, com evidentes indicadores de prova de corrupção, e não o sujeita, sequer, a investigação”.

Adalberto da Costa Júnior diz que não consegue entender como é que um ministro de Estado “recebe a realização da compra de bens para a polícia enquanto ministro, em violação à lei, e que o contrato tenha sido assinado pelo Presidente da República”.

Recorde-se que, no final do ano passado, Adalberto da Costa Júnior avisou que o seu partido não ia engolir sapos e que estaria na linha da frente do combate por uma Angola para os cidadãos nem que, para isso, no limite, tenha de sair às ruas. Afinal a UNITA preferiu ficar em casa…

Falando no programa Angola Fala Só da VoA, Adalberto da Costa Júnior acusou o MPLA de manter um regime partidarizado, que nunca condenou a fraude eleitoral, que mantém controlada a comunicação social pública e que divide a riqueza do país entre seus dirigentes.

“Não vamos engolir sapos, não senhor”, reiterou o líder da oposição ante uma pergunta directa de um internauta, nomeadamente sobre a fraude eleitoral que, para Adalberto da Costa Júnior, “tem sido prática do regime”, como sempre “foi denunciado pela UNITA”.

Para o líder da UNITA, o partido no poder “acostumou-se a governar na vertical, em que decide no topo e todos obedecem” e, por isso, não quer as eleições autárquicas”. “As autarquias colocam o poder na horizontal e o MPLA tem medo da horizontalidade do poder” porque “os cidadãos são ouvidos e participam na gestão” da sua região, do seu município.

Por isso, “as eleições terão de realizar-se em todo o país” e não de forma gradual como quer o MPLA e “a UNITA não abre mão disso”, reiterou o líder do principal partido da oposição que o MPLA ainda permite que exista.

Nas respostas a questões concretas colocadas por ouvintes e internautas, Adalberto da Costa Júnior considerou que “quem incutiu o extremismo em Cabinda foi o Governo”, com a sua política de desrespeito pela população e “privilegiando a repressão ao diálogo”.

“Há pouco tempo vi uma manifestação extremada de mulheres em Cabinda”, precisamente por causa das políticas do MPLA, referiu.

O presidente da UNITA disse defender uma “ampla autonomia para Cabinda, como ponto de partida” para um diálogo com todos e prometeu visitar Cabinda no início de 2020.

Justificou, a pedido de um ouvinte, o facto de não ter estado naquela província durante a campanha por “dificuldades no acesso a um lugar nos aviões na data prevista”.

Quanto às Lundas, onde dois ouvintes descreveram a “situação de desrespeito pelos direitos humanos e pobreza generalizada, com os estrangeiros a enriquecerem com as nossas riquezas”, Adalberto da Costa Júnior foi duro contra o Governo que, segundo ele, “tem violado todos os direitos humanos, abandonando a população e distribuído as riquezas dos diamantes entre os dirigentes”.

Nas grandes políticas, Adalberto da Costa Júnior apontou como prioridades a educação, saúde, agricultura, economia, “sempre em auscultação dos angolanos que têm noção da situação” do país e, “no limite sairemos às ruas”.

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