Servos do “reich” do MPLA

O Governo angolano substituiu a responsável do sector da saúde da embaixada de Angola em Portugal, a qual tem merecido fortes críticas dos doentes que se queixam de passar fome e de terem sido abandonados pelo seu país. É, aliás, uma situação recorrente e que há muito só não envergonha o Governo porque isso é coisa que o MPLA não tem.

A exoneração de Rosa da Silva de Almeida, e a nomeação de João José Bastos dos Santos para o cargo de responsável deste sector, foram formalizadas através de dois despachos do ministro das Relações Exteriores de Angola, Téte António. Rosa da Silva de Almeida tinha sido nomeada para estas funções em Junho de 2017.

O sector da Saúde da Embaixada de Angola em Portugal tem sido alvo de várias críticas, há vários anos, dos doentes angolanos que se encontram em Portugal a fazer tratamentos.

Já no dia 2 de Agosto de 2016, sob o título “Doentes angolanos em Lisboa passam fome”, o Folha 8 escreveu que quase 200 angolanos que estavam em Portugal para tratamento médico reclamavam da falta de transferência de subsídios do Governo e que por falta de pagamento, as pensões onde estavam albergados decidiram cortar nas refeições.

“Cerca de duas centenas de doentes angolanos, com junta médica para tratamento em Portugal, enfrentam sérias dificuldades devido aos atrasos nas transferências dos subsídios e ajudas de custo a cargo do Governo de Angola”, lê-se nesse texto do F8 em que se acrescentava: “João Catembe (nome fictício) está há sensivelmente cinco anos em Lisboa. Veio doente para Portugal em Fevereiro de 2011, por meio de Junta Médica, por causa de um problema renal. Continua por isso a fazer hemodiálise. Com pouco mais de 300 euros de subsídio, confessa que enfrenta muitas dificuldades. “Continuamos com os valores de 20 anos atrás. De maneira que com 300 euros, hoje em dia, ninguém consegue fazer nada. O Governo diz que não tem dinheiro para [nos] pagar; quer dizer, eles assumiram-nos aqui em Portugal e agora dizem que não têm dinheiro. As pessoas estão à deriva”, desabafa Catembe.

Várias dezenas de doentes realizaram nos últimos meses duas manifestações em frente à Embaixada de Angola em Lisboa, contra o atraso no pagamento dos apoios para esta estadia em Portugal por motivos de doença e que tem o aval (seja lá o que isso for) do Governo de João Lourenço.

Vitorino Leonardo, secretário-geral da Associação dos Doentes Angolanos em Portugal (ADAP), disse esta quinta-feira que já tomou conhecimento desta substituição e que espera agora que o apoio aos compatriotas se torne uma realidade, até porque estes doentes atravessam “problemas sérios”.

“Ainda não fomos contactados, mas queremos ser recebidos pelo senhor embaixador e pelo novo responsável da saúde da embaixada. Eles precisam tomar conhecimento das situações muito graves por que passam estes doentes em Portugal”, referiu.

Das duas uma. Se o embaixador não sabe o que se passa, o melhor mesmo é ir pescar bagres para o deserto do Namibe. Se sabe (e sabe!) e nada fez o melhor mesmo é ir para o deserto do Namibe…

De acordo com Vitorino Leonardo, são cerca de 600 os doentes angolanos em Portugal, 150 dos quais a viver em duas pensões em Lisboa que há mês e meio deixaram de fornecer a única refeição que estes cidadãos tomavam, devido ao atraso nos pagamentos dos subsídios da parte do Governo angolano.

Por essa razão, a ADAP promoveu uma manifestação na segunda-feira, frente a esta embaixada, durante a qual cerca de 30 doentes gritaram que estão a passar fome e que devido a esta carência alimentar o seu estado de saúde está a agravar-se.

Também o Governo, neste caso, deveria mandar o ministro Téte António acompanhar o embaixador em Lisboa na excursão piscatória ao deserto do Namibe, obviamente com estadia garantida (por serem membros da elite do MPLA) no ex-Campo de Concentração de S. Nicolau.

Registe-se, contudo, a coerência das políticas sociais do governo do MPLA que, por serem de excelente qualidade, fazem com esteja no Poder há 45 anos. Apesar de estes angolanos que estão em Lisboa estarem doentes, não podem querer ter mais direitos, ou privilégios, do que os que estão em Angola.

Se, por cá, há cada vez mais angolanos a aprenderem a viver sem… comer, porque razão os que estão em Portugal haveriam de… comer?

Folha 8 com Lusa
Foto: Lusa/Tiago Petinga

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