Os (e)ternos (di)amantes

A Procuradoria-Geral da República (PGR) do Bengo abriu um processo com vista ao “apuramento de factos que indiciem actos de gestão danosa”, disse hoje o porta-voz do órgão judicial angolano. É perigoso semear massango e colher diamantes…

“O processo está na fase inicial, já foram realizadas algumas diligências, ouvidas algumas pessoas para que se possa determinar o autor ou autores desses actos”, afirmou Álvaro João, sublinhando que as investigações não estão, por enquanto, direccionadas a uma pessoa concreta e ninguém foi constituído arguido até agora.

Ou seja, a PGR ainda não faz a mínima ideia do que se passa, razão pela qual – o que é uma brilhante estratégia intestinal – quer “apurar factos que indiciem actos”. Não tendo factos e indícios, optou por reivindicar o seu momento de ribalta, pondo os seus peritos a divulgar que está a trabalhar em qualquer coisa.

Também a governação no Cuanza Sul está a ser investigada depois de denúncias surgidas nas redes sociais, tendo sido já abertos dois inquéritos “que correm os trâmites legais e estão na fase conclusiva”, declarou a mesma fonte.

“Se se determinar que houve algum dano ao património público, os autores serão responsabilizados criminalmente”, salientou Álvaro João, prometendo mais desenvolvimentos nos próximos dias.

Excelente. A PGR garante que se houver chuva vai chover e que, se assim for, quem andar à chuva poderá molhar-se. Caso contrário, todavia, não obstante, se não chover não haverá chuva.

O porta-voz da PGR lembrou que este organismo (sucursal do MPLA) tem entre as suas atribuições a competência de fiscalizar as acções de responsabilidade financeira dos órgãos públicos. E para mostrar serviço, nada como subverter a mais emblemática regra de um Estado de Direito (que a PGR também não sabe o que é) e determinar que, até prova em contrário, todos somos culpados.

A PGR, depois de uma letargia de décadas, descobriu que alguns meios de comunicação social deram destaque a alegadas práticas de má gestão envolvendo a governação das províncias do Bengo e do Cuanza Sul.

Alguns desses mesmos meios andam há décadas a destacar a má governação de todo o país. No entanto, a PGR nunca se preocupou com isso. Compreensivelmente, acrescente-se. É que as investigações, para além de trabalho, exigem profissionais que saibam contar até 12 sem terem de se descalçar. E esta é uma espécie rara.

No domingo, o inspector-geral das Finanças do Cuanza Sul, Rodrigues Eduardo, que iria prestar declarações no âmbito do processo que envolve o governador daquela província, Job Capapinha, foi assassinado em Luanda com um tiro à queima-roupa, segundo o Novo Jornal. Mais exactamente, explicará um dia destes a PGR, o inspector-geral não respeitou um stop e acabou por chocar contra uma bala deixada em livre circulação pela UNITA. Se calhar uma investigação mais exaustiva revelará que a bala andava pela capital desde a administração colonial dos portugueses.

A PGR no Cuanza Sul confirmou, recentemente, ter instaurado um inquérito sobre a suposta sobrefacturação no aluguer de duas viaturas para os vice-governadores provinciais, avaliadas em mais de 191 mil kwanzas (295 euros) por dia, para um período de um ano.

Segundo fontes da PGR, citadas pelo Novo Jornal, o contrato foi assinado Job Capapinha, e por uma empresa constituída em Dezembro de 2018, propriedade de um mauritano, para aluguer de viaturas.

Desta forma a PGR não está a ajudar a diversificar a economia. Um dia destes ainda vão investigar os governadores, ex-governadores, putativos governadores, ex-ministros, actuais ministros, putativos ministros que ao longo dos últimos 45 anos tem conseguido plantar mandioca e colher automóveis, semear massango e colher diamantes, produzir quissângua e comprar limpa-neves.

Os técnicos do MPLA/Estado que estão a assessorar a PGR/MPLA/Estado são do melhor que há a nível interno e externo. É pena, contudo, que muitos deles (mais uma vez por culpa de Jonas Savimbi ou dos colonialistas portugueses) tenham o cérebro (parte pensante; centro das capacidades intelectuais, inteligência) no intestino grosso (canal que vai do ceco ao ânus) e que por isso só produz esterco (merda, em português corrente).

Folha 8 com Lusa

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