Dedos dos pés não chegam

A consultora Oxford Economics considera que a economia de Angola vai ter um crescimento negativo de 2,8% este ano devido não só à pandemia, mas também à queda dos preços do petróleo desde Março. “Não há problemas, patrão”, explicou Norberto Garcia ao Presidente João Lourenço, acrescentando que vai à TV Zimbo avisar a consultora que não deve cuspir no prato (do MPLA) em que comeu do bom e do melhor…

“Q ualquer optimismo sobre a economia poder reemergir da recessão de quatro anos em 2020 foi completamente anulado pela guerra de preços que surgiu em Março”, lê-se numa nota de análise sobre a economia de Angola.

No documento, enviado aos clientes, os analistas da Oxford Economics escrevem que “a previsão agora é de uma contracção de 2,8% em 2020, antes de uma recuperação de 0,9% em 2021”.

Ainda assim, alertam, “os riscos estão fortemente encostados ao lado negativo, já que existe uma grande incerteza sobre a duração e a severidade do impacto da pandemia da Covid-19 na procura global e sobre as preocupações sobre o excesso de oferta nos mercados petrolíferos, apesar do acordo entre os produtores”.

A Oxford Economics cortou a previsão para a evolução do preço médio do petróleo este ano em 45%, o que é “um enorme golpe para a economia de Angola, muito dependente do petróleo”.

O Ministério das Finanças de Angola cortou recentemente a previsão de evolução da economia, antevendo um crescimento negativo de 1,2% este ano, que compara com a estimativa do Fundo Monetário Internacional de quebra de 1,4% do Produto Interno Bruto.

Sobre a inflação, que em Março subiu de 18,7% no mês anterior para 19,6%, de acordo com o Instituto Nacional de Estatística de Angola (INE), a Oxford Economics antevê “que esta tendência se mantenha durante o ano, que a moeda nacional continue o caminho de depreciação e que as perturbações sobre a cadeia de abastecimento alimentar permaneçam devido às restrições impostas para controlar a propagação da Covid-19”.

A Oxford Economics estima que o kwanza perca valor, transaccionando nos 565,9 para cada dólar, o que revela uma subida face aos 508,3 do ano anterior, “devido à queda dos preços do petróleo, que baixaram 66% desde o início do ano”.

O trambolhão no preço do petróleo é um golpe devastador para a economia do MPLA, já que os hidrocarbonetos valem 96% das exportações, cerca de 33% do Produto Interno Bruto e 60% da receita governamental, e nem mesmo o apoio contemplado no programa de assistência do FMI vai ser suficiente para salvar a economia que já deveria ter sido diversificada há mais de 40 anos.

A ministra das Finanças, Vera Daves, reconheceu a dimensão do problema que o país enfrenta, justificando (e bem) a urgência de um orçamento rectificativo que contemple o preço do petróleo e, mesmo com mais um tsunami de austeridade, permita (espera-se que definitivamente) enfrentar a criminosa crise económica implementada pela incompetência do partido que nos governa desde 1975.

Com este enquadramento e como resultado de os peritos do MPLA não terem encontrado, ao longo dos últimos 45 anos, o caminho (marítimo ou terrestre) para a diversificação económica, a Oxford Economics considera que Angola vai ser obrigada a recorrer a investimentos externos, mais financiamento do FMI, emissões de dívida soberana e ajuda externa para financiar as contas públicas durante a crise económica, financeira e social concebida, parida e mantida pelo MPLA.

“Infelizmente, as autoridades encontram-se numa situação com pouca margem para estimular a economia seja através da política orçamental, seja através da política monetária”, escreveram os analistas numa nota sobre o país.

A Oxford Economics afirma que “o Governo vai ter de rever em baixa a despesa orçamental no orçamento rectificado e terá de depender dos fluxos de investimento directo estrangeiro, mais desembolsos do FMI, emissões de Eurobonds e ajuda externa para financiar o défice externo”.

Para tornar as coisas ainda piores, sempre para os mesmos – entenda-se, a pandemia global da Covid-19 veio mostrar (o que, aliás, não é novidade) que a equipa económica do governo de João Lourenço tem de se descalçar para contar até 12 e, mesmo assim, não sabe o que fazer com os dedos dos pés…

João “La Palice” Lourenço

Quando o Presidente João Lourenço nos brinda com verdades de La Palice é caso para nos congratularmos. No dia 5 de Janeiro de 2018, em Luanda, disse o que – pelos vistos – ninguém sabia, um verdadeiro “ovo de Colombo”. Ou seja, que o desenvolvimento económico e social do país só pode ser feito com a participação do empresariado privado. É obra!

O Titular do Poder Executivo falava numa audiência com empresários nacionais no Palácio Presidencial, a quem informou que o Estado tem outras responsabilidades e que compete ao sector privado da economia criar empregos e produzir bens e serviços.

Como não poderia deixar de ser, cientes de que há 45 anos que os nossos governantes preferem ser assassinados pelo elogio do que salvos pela crítica, (quase) toda a gente considera positivas as expectativas criadas por todos os Executivos, mesmo quando eles decretam que as couves devem ser plantadas com a raiz para cima.

Estávamos em Outubro de 2015. As associações representativas das várias áreas do sector privado angolano defendiam a criação de um Conselho de Concertação Económica e Empresarial para apoiar a relação entre empresários e o Estado.

A posição, subscrita por 17 associações empresariais, constava de um documento enviado aos jornalistas, após reunião, em Luanda, destes representantes do empresariado privado angolano, que se destinou a analisar o discurso sobre o estado da nação do então chefe de Estado.

Lido a 15 de Outubro na Assembleia Nacional pelo vice-Presidente, Manuel Vicente, esse discurso sobre o estado da nação ficou marcado pela endémica, pandémica, sistémica crise económica, financeira e cambial que afecta Angola, devida já então à quebra da cotação do barril de crude no mercado internacional.

“Tendo em conta a envergadura, profundidade e complexidade das tarefas em presença e não sendo possível a sua implementação e materialização, na economia real sem o empenho total e motivado do sector privado”, estas associações anunciaram agora uma proposta para a “instituição de um Conselho de Concertação Económica e Empresarial” em Angola.

O objectivo, explicaram, passava por “motivar e galvanizar os agentes económicos em apoio as diversas propostas e programas de desenvolvimento económico e social preconizado pelo Executivo”.

No discurso sobre o estado da nação foi também sublinhado pelo Executivo a então recente aprovação da nova Lei do Investimento Privado e a reestruturação da área do Governo que executa a política do investimento privado.

“As diligências feitas apontam para o reforço do dinamismo e da eficiência dos seus serviços e para uma previsão do aumento da captação do investimento privado estrangeiro de aproximadamente 10 mil milhões de dólares nos próximos dois anos”, frisou Manuel Vicente, falando ao país em representação de José Eduardo dos Santos, na altura ausente do Parlamento devido a uma “indisposição”.

“Este montante, acrescido ao que for possível obter dos investidores angolanos, permitirá acelerar a diversificação da economia no sector não petrolífero, bem como o crescimento económico e o emprego em cifras que podem ultrapassar os 300 mil postos de trabalho”, disse ainda.

A revelação de que a linha de crédito a atribuir pela China a Angola, para obras e projectos já em 2016 e 2017, atingiria os seis mil milhões de dólares, mereceu a observação dos empresários angolanos, que pretendiam “cooperar e contribuir” neste processo.

“Para que haja, de facto, uma maior participação das empresas angolanas no fornecimento ao Estado”, assumem as associações angolanas representativas dos vários sectores privados, dando como exemplo os projectos a contratar com o investimento chinês.

…Entretanto a missa de sétimo dia será anunciada em breve.

Folha 8 com Lusa

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