Um órgão da comunicação online informou que o vice-presidente Bornito de Sousa vai mover acções judiciais contra pessoas que o acusaram de ter participado nos acontecimentos do 27 de Maio. Tudo indica que Bornito de Sousa é muito sensível e necessita dos tribunais para repor a verdade, se for verdade que não cooperou nesse Crime contra a Humanidade praticado por militantes do MPLA, que o MPLA, dono de todos os poderes, decidiu amnistiar, contrariando os mais elementares princípios da justiça e da ética.
Por Domingos Kambunji
Se Bornito de Sousa não é cúmplice bastaria uma explicação para repor a verdade e não optar por um comportamento demasiado infantil de “ir fazer queixinhas para que os mais fortes possam bater nos que lhe bateram ou chamuscaram”.
Se Bornito de Sousa não participou no 27 de Maio a história mostra que ele participou no 28 de Maio. Queremos com isto dizer que foi um dos beneficiários da ditadura repressiva e cleptómana que se seguiu no reinado de José Eduardo dos Santos.
Não consta que Bornito de Sousa tenha protestado contra a tirania e normas de desrespeito dos Direitos Humanos que o MPLA impôs no nosso país durante mais de quatro décadas. Não consta que, no tempo de José Eduardo dos Santos, Bornito de Sousa se tenha manifestados contra a ditadura e a corrupção e em favor da democracia e da liberdade de expressão.
Não consta que Bornito de Sousa tenha ido visitar o Rafael Marques ou os Revús quando estes foram considerados membros de uma organização de malfeitores, traidores à pátria, e condenados a pesadas penas de prisão por defenderem valores democráticos e a desparasitação governamental povoada de corruptos.
Não consta que Bornito de Sousa se tenha manifestado contra o MPLA por ter iniciado uma guerra civil para impor uma ditadura marxista-leninista. Não consta que Bornito de Sousa se tenha manifestado contra o MPLA, depois da queda do muro de Berlim e do fracasso do imperialismo soviético, por o MPLA ter mudado de ideologia e passar a defender aquilo que combatia, hipocritamente, impondo o capitalismo selvagem. Não consta que Bornito de Sousa se tenha manifestado publicamente contra o 27 de Maio durante o reinado do pai da Isabel. Por isso… quem cala consente e é conivente!
Bornito de Sousa agora é muito sensível… Não foi sensível quando participou nas procissões de endeusamento de José Eduardo dos Santos, designado então como o arquitecto da paz quando, na realidade, foi o Arquitecto do Pus. Esta hipocrisia e incoerência subserviente do Bornito de Sousa enoja, dá vontade de vomitar.
O seu passado político e a formação em Ciência Sociais dariam para inspirar um intervenção social mais atenta e construtiva na valorização do planeamento social construtivo. A prática demonstra que Bornito de Sousa se acomodou, e pelo visto muito bem, à ditadura do MPLA que conduziu o país para o lugar 156 a nível mundial em qualidade de vida, entre os países mais atrasados do mundo, de acordo com a classificação do Legatum Institute de Londres.
Esse mesmo Instituto coloca o nosso país no lugar 157 na qualidade do Ensino. Será por ser um doutor de um Sistema de Ensino que não consegue colocar as nossas universidades públicas entre as 100 melhores de África, já não comparando a nível mundial, que o Bornito de Sousa revela uma tão elevada, insegurança, fragilidade, hipersensibilidade e tantos complexos de inferioridade?
É anedótico quando se invoca o processo de união e reconciliação nacional para defender alguém que foi cúmplice e cooperante numa ditadura que, de acordo com os actuais dirigentes do MPLA, foi muitíssimo cleptocrática. É uma aberração chamar democracia ao actual sistema político que copia muitos maus exemplos da ditadura chinesa e da oligarquia cleptómana e déspota de Moscovo. É palermice invocar o respeito pelas instituições em Angola quando, de facto, existe apenas uma instituição, a Presidência da República, que manda em tudo e exonera e nomeia novos kapangas do MPLA dos cargos dos cambalachos mais do que governa.
Bornito de Sousa, se fosse vice-presidente de um país a sério, democrático e com instituições independentes das ordens superiores do presidente, poderia enviar uma nota de esclarecimento a desmentir os que o acusam de ter colaborado no 27 de Maio. Ele deve ter consciência de que grande parte dos comunicados oriundos de dirigentes do MPLA não têm qualquer credibilidade porque o MPLA anda há demasiados anos a mentir aos angolanos.
Seria de esperar um comportamento mais adulto e autoconfiante de Bornito de Sousa, que foi nomeado (não foi eleito) para vice-presidente. Enfim, estamos a assistir a todo esta comédia na “Reipública da Angola do MPLA”, kapangueado pelo partido que fuzilou muitas dezenas de milhares de cidadãos angolanos e agora é tão “altruista” que até vai oferecer, completamente grátis, certidões de óbito aos familiares das vítimas dessa carnificina.
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