No governo todos falam
mas poucos… governam!

A ministra das Finanças de Angola, Vera Daves, afirmou, em Davos, que é necessário “respeitar o trabalho dos órgãos judiciais” nos casos de alegada corrupção em Angola, lamentando que “apenas alguns” sejam mediáticos. Ainda mais lamentável é serem todos do… MPLA.

Questionada sobre se as acusações de corrupção relacionadas com os Luanda Leaks, Vera Daves disse, em declarações à Euronews em Davos, na Suíça, que as investigações “estão a acontecer a tantos níveis que é uma pena que apenas parte sejam mediáticas”. Tem razão. Se calhar seria bom descobrir uma outra zungueira que fosse mediática.

“Acho que temos de respeitar o trabalho dos órgãos judiciais e ver os resultados disso chegar à nossa sociedade, com uma normalização da forma como os negócios são geridos, da forma como os serviços públicos são providenciados, e a forma como os bens e serviços são entregues aos nossos cidadãos”, afirmou Vera Daves à Euronews.

A ministra das Finanças, presente no fórum económico mundial de Davos, disse ser “claro” que parte da agenda do governo angolano é o combate à corrupção. Daí, reconheça-se, ainda não ter tido tempo para começar a governar. Tem havido, acrescente-se, uma confusão “linguística” no seio do Executivo. É que os auxiliares do Titular do Poder Executivo (ministros e secretários) ainda não o informaram que, embora rimem, as palavras exonerar e governar têm significados diferentes.

Acresce que, parafraseando o Presidente João Lourenço, se “haver” necessidade podem comprar um dicionário e, mesmo tendo de se descalçar para contar até 12, descobrir as diferenças.

“Claro que parte da nossa agenda é lutar contra a corrupção, para todas as entidades, todas as empresas e para todas as pessoas. Todas as pessoas devem respeitar a lei”, afirmou a ministra, reconhecendo “alguns casos mais mediáticos do que outros”, mas omitindo – legitimamente – que todos (mediáticos ou não) pertencem ao partido que o governa o país há 44 anos, o MPLA.

A ministra manifestou o desejo de que quem actue em Angola, “como gestor público ou investidor privado”, deva “respeitar a lei”. Foi isso mesmo que fez durante décadas João Lourenço, respeitando a lei de José Eduardo dos Santos e, como vice-presidente do MPLA e ministro da Defesa, fazendo-a respeitar.

“Os órgãos judiciais estão a fazer o seu trabalho, assegurando que quem não respeitar a lei pague as consequências de não a respeitar”, disse a ministra. E se a titular da pasta das Finanças fala assim, o que não diria, ou dirá um dia destes, o ministro da Justiça e dos Direitos Humanos?

Vera Daves salientou ainda o objectivo de “manter o foco em criar as condições para a economia de Angola crescer de uma maneira inclusiva”. E se a titular da pasta das Finanças fala assim, o que não diria, ou dirá um dia destes, o ministro da Economia e Planeamento?

“Estamos num caminho de reconstruir a confiança de investidores nacionais e internacionais em Angola, na maneira como fazemos negócios, e na maneira como nos mostramos”, disse a ministra, acrescentando que estar em Davos é uma “oportunidade” para mostrar como Angola pretende “diversificar a economia, num modelo onde o petróleo contribui para se ver mais sectores a contribuir para o crescimento”.

Viajar e exonerar (sem governar) ou exonerar e viajar (sem governar) é há dois anos e meio o grande trunfo do “triunvirato” que comanda o país: Presidente do MPLA, Presidente da República e Titular do Poder Executivo. Como se isso não bastasse, nenhum deles (ou, já agora, os “três”) percebeu que em vez de serem uma solução para o nosso problema são, de facto, um (enorme) problema para a solução.

O Presidente da República colocou – por exemplo – o programa de reestruturação das Forças Armadas como uma prioridade do governo, dotando-as de “meios técnicos e equipamentos modernos” que permitam uma “permanente prontidão operacional”.

É mesmo uma espécie de rabo escondido com gato de fora. Antes que os militares lhe dissessem na cara que ele é que é o problema principal do país, João Lourenço acenou-lhes com mais uns milhões. Mais uma vez os militares vão comer e calar. O Presidente, general e ex-ministro da Defesa, sabe disso.

“Não obstante as limitações com que o país se debate em consequência de factores sobejamente conhecidos, aproveito esta ocasião festiva para reafirmar o propósito do Governo angolano no quadro do Programa de Reestruturação das FAA (Forças Armadas de Angola) em continuar a apetrechá-las com meios técnicos e equipamentos modernos que lhes permitam manter a sua permanente prontidão operacional”, reafirmou João Lourenço, numa mensagem de felicitação (com laivos de bajulação) a todas as patentes da instituição na comemoração dos seus 28 anos de existência.

O líder supremo das Forças Armadas de Angola destacou a formação de especialistas “a todos os níveis” e a melhoria das “condições de vida e de trabalho dos quadros de comando e chefia e das tropas em geral” como outros questões que vão “continuar no centro das prioridades dos órgãos competentes”.

Na mensagem, o chefe de Estado fez um breve resumo das FAA, criadas “nos primórdios da década de noventa [1990]” e que foram capazes “de ultrapassar momentos de crise e de profunda desconfiança entre as partes signatárias dos Acordos de Paz”, reorganizando-se e adaptando-se “às difíceis condições que o país então vivia”. Pena que, neste aspecto, os louros não possam ser atribuídos, como tanto gosta o MPLA, a Agostinho Neto.

João Lourenço destacou que factores como “heroísmo, firmeza e determinação” dos membros da FAA foram essenciais para que a “grande batalha pela paz e o progresso social” fosse vencida… provavelmente como fizeram as FAPLA na batalha do Cuito Cuanavale, não é Presidente João Lourenço?

O Presidente dos angolanos do MPLA advertiu que há “novos desafios” pela frente, resultantes das “transformações ocorridas nos últimos tempos no cenário político regional e internacional”, sendo estes “consubstanciados fundamentalmente nas operações de manutenção da paz e do apoio humanitário às populações carentes, sem desprimor pela garantia da defesa de integridade” de Angola.

João Lourenço concluiu a mensagem com “uma profunda homenagem de respeito, admiração e apreço” pelos militares que, ao serviço das FAA, se sacrificaram pelos “valores mais nobres do povo angolano” e com uma nova nota de felicitação aos “bravos militares e trabalhadores civis das Forças Armadas Angolanas”.

Paralelamente, João Lourenço pediu “mais eficiência” às duas novas ministras, Vera Daves e Ana Tuavanje Elias, que passaram a tutelar as pastas das Finanças e da Educação, nas cerimónias de posse das duas governantes. Mais um atestado de incapacidade aos que foram substituídos, ao estilo de chuinga (pastilha elástica) – mastiga e deita fora.

Após a cerimónia de tomada de posse que decorreu no Palácio Presidencial, João Lourenço afirmou que decidiu fazer aquela remodelação “em áreas-chave” com o objectivo de procurar maior eficiência no desempenho das instituições, “ao serviço do país, da nação e dos cidadãos em geral”.

Será que os anteriores, escolhidos e elogiados por João Lourenço, estavam “ao serviço do país”, estavam ao “serviço da nação e dos cidadãos em geral”? País, nação e cidadãos em geral não são sinónimos?

João Lourenço pediu aos titulares dos novos cargos que tornassem “os departamentos ministeriais que iam dirigir mais eficientes do que foram até à data” procurando as soluções que se impõem, “sem aguardar pelas famosas ordens superiores, salvo se as situações ultrapassarem a vossa competência”.

O também chefe do executivo espera (diz ele destes “eleitos” como disse dos anteriores) encontrar nos membros do governo então empossados a devida “correspondência nesse sentido” e exortou: “Queremos obra feita. Já fizemos muitos discursos e precisamos de fazer coisas em concreto”. Olha quem fala!

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