Herói há só um, o genocida e mais nenhum

As jornadas alusivas ao Dia do Herói Nacional do MPLA, que se celebra a 17 de Setembro, em alusão ao 98º aniversário do nascimento do primeiro Presidente de Angola, responsável pelo massacre de muitos milhares de angolanos no genocídio de 27 de Maio de 1977, António Agostinho Neto, arrancam no dia 1 de Setembro, em todo o país do MPLA.

Sob o lema “Angola 45 anos: unidade, estabilidade e desenvolvimento”, com actos no país e nas missões diplomáticas e consulares de Angola, da Coreia do Norte à Guiné Equatorial, passando por Cuba. Uma nota de imprensa do Ministério da Administração do Território, que coordena as comemorações das datas nacionais impostas pelo MPLA, refere que o acto central vai decorrer em Luanda, a ser presidido pelo Vice-Presidente da República, Bornito de Sousa.

A máquina ditatorial do MPLA/Governo vai pôr em marcha, mais uma vez, o endeusamento da figura e obra de António Agostinho Neto e reverenciar a sua contribuição na libertação de Angola, de África e de todo o mundo, bem como honrar os esforços que fez para a conquista da paz em todo o território nacional, cujo expoente máximo foi o assassinato de 80 mil angolanos nos massacres de 27 de Maio de 1977. O MPLA/Governo (são há 45 anos uma e a mesma coisa) pretende, igualmente, lembrar o legado político do primeiro Presidente da República do MPLA e Herói Nacional do MPLA.

Durante o período estabelecido para a celebração da efeméride serão, segundo narra o órgão oficial do MPLA (Jornal de Angola) elevados os feitos políticos e culturais (e certamente científicos, militares, filosóficos, messiânicos etc.) protagonizados por António Agostinho Neto, que proclamou a Independência Nacional em Luanda (tal como Jonas Savimbi e Holden Roberto fizeram no Huambo). A nota sublinha que, como primeiro Presidente de Angola, António Agostinho Neto fundou as bases pelas quais se constrói diariamente esta Nação.

“Daí que, em sua homenagem e dos seus feitos em prol dos angolanos, a data do seu nascimento tenha sido consagrada como o Dia do Fundador da Nação e do Herói Nacional, como forma de manter presentes os princípios, os ideais e os ensinamentos deste ilustre filho de Angola”, diz o MPLA/Governo. António Agostinho Neto nasceu em Icolo e Bengo, a 17 de Setembro de 1922 e morreu em Moscovo, Rússia, a 10 de Setembro de 1979.

Foi médico, escritor, primeiro Presidente de Angola, de 1975 a 1979, representante de Deus em Angola e um dos mais paradigmático assassinos africanos e mundiais. O MPLA terá certamente um compreensível orgulho pelo facto de Agostinho Neto ombrear com Adolf Hitler, Joseph Stalin, Pol Pot, Mao Tse-Tung, Kim Jong-il e Jiang Zemin (entre outros).

Agostinho Neto, segundo o MPLA/Governo, fez parte da geração de estudantes africanos que viria a desempenhar um papel decisivo na Independência dos respectivos países. Foi preso pela Polícia Internacional e de Defesa do Estado (PIDE), a polícia política do regime colonial português e deportado para o Tarrafal, uma prisão política em Cabo Verde, sendo-lhe depois fixada residência em Portugal, de onde fugiu para o exílio e dirigir a luta “mundial” para a libertação dos povos.

Em Maio de 1977, não tendo Agostinho Neto conseguido massacrar a humilhação passada no Congresso de Lusaka, o primeiro democrático do MPLA, onde o eleito foi Daniel Júlio Chipenda, Agostinho Neto consumou a grande chacina, para estancar, com o temor, uma série de cisões e problemas que calcorreavam incubados, desde a sua chegada ao MPLA, convidado pela anterior direcção.

Esta demonstração de força, serviu para evidenciar que se o poder fosse posto em causa, a direcção e Agostinho Neto, não teria pejo em sacrificar com a própria vida todos quantos intelectualmente o afrontassem. Foi assim ontem, é assim hoje, infelizmente, como bem sabe João Lourenço.

Numa só palavra, quando este MPLA sente o poder ameaçado, não hesita: humilha, assassina, destrói, elimina, atira aos jacarés. É a sua natureza perversa demonstrando não estar o MPLA preparado para perder o poder e, em democracia, com a força do voto se isso vier a acontecer, a opção pela guerra será o recurso mais natural deste partido, não é general João Lourenço?

Em todos os meses do ano nunca devemos esquecer, por força do sofrimento de milhões e dos assassinatos de muitos milhares, das prisões arbitrárias, da Comissão de Lágrimas, da Comissão de Inquérito, dos fuzilamentos indiscriminados, etc..

Muitos acreditaram, em 1979, que com a ascensão de Eduardo dos Santos ao poder, num eventual reencontro com a verdade e a reconciliação interna, sobre a alegada intentona, que ele próprio sabe nunca ter existido. Infelizmente, não se conseguiu despir da cobardia e cumplicidade, ostentada desde o tempo de Agostinho Neto e da sua clique: Lúcio Lara, Onambwé, Iko Carreira, Costa Andrade “Ndunduma”, Artur Pestana “Pepetela”, entre outros.

Dos Santos mostrou ser um homem que, pelo poder, foi capaz de tudo: violar a Constituição, as leis, humilhar, desonrar e assassinar, todos quantos não o bajulavam. Exemplos para quê, eles estão à mão de semear… nas cadeias, no exílio, nos cemitérios, no estômago dos jacarés. E João Lourenço está a mostrar-se um bom aluno desta cátedra.

“Não vamos perder tempo com julgamentos”, disse no pedestal da sua cadeira-baloiço, um dos maiores genocidas do nacionalismo angolano e da independência nacional, Agostinho Neto. João Lourenço sabe que isto é verdade, mas – apesar disso – enaltece o assassino e enxovalha a memória das vítimas.

Esta posição da lei da força, marcaria para todo o sempre o sistema judicial, judiciário e de investigação policial em Angola, onde a presunção e a defesa de uma ideologia diferente da do partido no poder, são causa bastante para acusação, julgamento, prisão e até mesmo assassinato político, ainda que a pena de morte, não esteja consagrada na Constituição.

Sempre que o regime diz o que agora repete João Lourenço, todos devemos fazer uma viagem de regresso a 1977 para ver como estão as cicatrizes daquele período de barbárie, que levou muitos de nós às fedorentas masmorras da polícia política de Agostinho Neto, ou mesmo aos assassinatos atrozes, como nunca antes o próprio colono português havia praticado contra muitos intelectuais pretos, sendo o próprio Agostinho Neto disso um exemplo.

Desde 1977 que Angola, o Povo, aguarda pela justiça, mas com as mentes caducas no leme do país, essa magnanimidade de retractação mútua, para o sarar de feridas, não será possível, augurar uma Comissão da Verdade e Reconciliação, muito também, por não haver um líder em Angola.

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