A UNITA, maior partido da oposição que o MPLA ainda permite que exista em Angola, diz que o Orçamento Geral do Estado (OGE) revisto para 2020 “não tem pressupostos” que visam diminuir a trajectória económica negativa que o país regista há cinco anos. Se fosse Jonas Savimbi a fazer a análise diria que a trajectória económica negativa dura há 45 anos.
A economia angolana regista recessão nos últimos anos e no OGE revisto para 2020, aprovado na quinta-feira na generalidade pelo Parlamento angolano onde desde sempre o MPLA tem maiorias qualificadas, o executivo volta a prever um crescimento negativo de 3,6%.
Para o vice-presidente do grupo parlamentar da UNITA, Murilo Luyele, a retoma económica do país “é absolutamente importante”, mas, observou, “do nosso ponto de vista esse OGE não tem acções para essa retoma”. Aliás, o MPLA não está interessado na retoma porque, desde sempre, quem sofre com a crise não são os dirigentes. Esses estão sempre bem. Quanto aos angolanos, vão regressar (se é que alguma vez de lá saíram) ao peixe podre, fuba podre, panos ruins, uns poucos kwanzas e muita porrada se refilarem.
“Mas devia ser o primeiro passo para reverter a situação, de outro modo, não fazia sentido fazer essa revisão, nós só vemos a pertinência da revisão nesta perspectiva de travar a trajectória negativa que a economia está a seguir”, afirma Murilo Luyele.
À margem de um encontro de auscultação com os parceiros sociais, promovido pela UNITA, o deputado disse que a revisão do OGE 2020 deve ter como foco a “diminuição dos efeitos da Covid-19 sobre a economia” angolana.
“Mas tal como foi elaborado o OGE não responde a esses objectivos”, constatou o político angolano. Em bom rigor, qualquer pandemia é um pandemónio apenas para os que, ao longo dos anos, têm de aprender a viver sem comer. Para os outros é sempre uma boa fonte para obter, ou aumentar, riqueza. Como supostamente terá dito Nathan Mayer Rothschild, Barão Rothschild (banqueiro e político do Reino Unido) a melhor altura para comprar bens imóveis é quando há sengue nas ruas.
Segundo Murilo Leyele, a discussão do OGE revisto para o exercício económico de 2020 deveria servir também como ocasião para “ensaios para um orçamento mais participativo junto dos cidadãos” tendo em vista o OGE 2021. Por aqui se vê que a UNITA não conhece esta Angola dominado há 45 anos pelo MPLA. De nada adiantou Jonas Savimbi dizer desde 1966: “Vocês é que estão a dormir… por isso é que o MPLA está a aldrabar-vos”.
O OGE 2020 revisto estima receitas e fixa despesas de 13,4 biliões de kwanzas (20,3 mil milhões de euros) e com um défice de 4%.
A ministra das Finanças, Vera Daves, disse na apresentação do documento que o OGE revisto para 2020 será financiado em 45,5% por receitas fiscais e 54,5% com recurso a financiamento externo, explicando que o OGE 2020 revisto sofreu uma redução de 15,7% comparativamente ao orçamento em vigor.
A governante frisou que o plano de financiamento reflecte a redução significativa das receitas fiscais, que contraíram perto de 30% face ao OGE em vigor.
Desde 2002 o Galo Negro deixou de voar. Consta até que se trata de uma espécie já extinta. O visgo do MPLA manteve-o colado às bissapas. Os angolanos de segunda, que não os dirigentes da UNITA, estão apanhar café às ordens dos novos senhores coloniais do MPLA.
Houve uma altura em que a UNITA resolveu o problema do visgo. Calculou-se então que o Galo iria voar. Ledo engano. O MPLA/Estado tinha-lhe cortado as asas.
De uma forma geral a memória dos angolano, neste caso, é curta. Importa por isso ir relembrando algumas coisas, mesmo quando se sabe que se não fosse o MPLA a cortar as asas ao Galo Negro, alguém da própria UNITA se encarregaria de o fazer.
Com a independência, os camponeses do planalto e sul de Angola sonharam (ainda hoje continuam a sonhar) com o fim do seu recrutamento forçado como escravos para as roças coloniais. A reedição da estratégia colonial por um governo supostamente independente foi um golpe duríssimo na sua ilusória liberdade.
O então líder da UNITA, Jonas Savimbi, agastado com a fraqueza e quase exaustão das forças que conseguiram sobreviver à retira das cidades, em direcção às matas do leste (Jamba), onde reorganizou a luta de resistência, aproveitou esse facto, bem como a presença de estrangeiros, para mobilizar os angolanos.
E agora? Agora (e depois de ter sido assassinado por alguns dos seus próprios militares) os seus discípulos mais ilustres preferem a escravatura de barriga cheia do que a liberdade com ela vazia.
Será que se lembram dos que só foram livres enquanto andaram com uma arma na mão? Há muito que, por obra e graça do MPLA mas – igualmente – por incapacidade dos seus quadros, se prevê o fim da UNITA.
Jonas Savimbi morreu no dia 21 de Fevereiro de 2002, em combate e às mãos de alguns dos seus antigos generais. Foi nesse dia que começou a morrer a UNITA. De morte lenta, é certo, mas igualmente (tanto quanto parece) de forma irreversível.
Talvez pouco adiante continuar a dizer que a vitória seguinte começou com a derrota anterior. Isso faria sentido se o Mais Velho ainda andasse por cá.
Apesar de todas as enormes aldrabices do MPLA, as eleições acabaram sempre por derrotar em todas as frentes não só a estratégia mas a sua execução, elaboradas por alguns dos “generais” da UNITA.
As hecatombes eleitorais, sociais e políticas mostram que a UNITA não estava, como continua a não estar, preparada para ser governo e quer apenas assegurar alguns tachos e continuar a ser o primeiro dos últimos. E, dessa forma, finge que é oposição e ajuda a branquear a ditadura e a cleptocracia do regime.
O sacrificado povo angolano, mesmo sabendo que foi o MPLA que o pôs de barriga vazia, não vê na UNITA a alternativa válida que durante décadas lhe foi prometida, entre muitos outros, por Jonas Savimbi, António Dembo, Paulo Lukamba Gato e Samuel Chiwale.
Terá sido para ver a UNITA a comer e calar, a ser submissa, a ser forte com os fracos e fraquinha com os fortes, que Jonas Savimbi lutou e morreu? Não. Não foi. E é pena que os seus ensinamentos, tal como os seus muitos erros, de nada tenham servido aos que, sem saber como, herdaram o partido e a ribalta da luxuosa e luxuriante elite angolana. É pena que os que sempre tiveram a barriga cheia nada saibam, nem queiram saber, dos que militaram na fome, mas que se alimentaram com o orgulho de ter ao peito o Galo Negro.
Se calhar também é pena que todos aqueles que viram na mandioca um manjar dos deuses estejam, como parece, rendidos à lagosta dos lugares de elite de Luanda. Se calhar o objectivo é esse mesmo…
Folha 8 com Lusa