A quase patológica ânsia de mandar em toda a gente e esperar que toda a gente obedeça servil e bajuladoramente, levou – recorde-se – João Lourenço a exonerar, em Dezembro de 2017, uma pessoa que já tinha morrido dois anos antes (o engenheiro José Pedro Tonet, falecido a 23 de Dezembro de 2015, na África do Sul, sendo na altura da sua morte administrador não executivo da ENANA EP).
Mas João Lourenço continua a mostrar que, se calhar, não são só os seus colaboradores que têm o cérebro no intestino (grosso). Agora, Elsa Maria Pires Lopes dos Santos Lourenço, recém nomeada Secretária de Estado para a Família e Promoção da Mulher, não aceitou participar na tomada de posse porque foi nomeada sem ter sido consultada. António Rodrigues Afonso Paulo, em Setembro de 2017, também não tomou posse como Ministro da Administração Pública, Trabalho e Segurança Social, por não ter sido previamente consultado sobre a sua nomeação.
O MPLA, no poder em Angola desde 1975 e apostado em lá ficar por mais umas dezenas de anos, informou no dia 10 de Fevereiro de 2017 que a campanha eleitoral do partido para as eleições desse ano seria inteiramente conduzida pelo então vice-presidente e candidato a Presidente da República, bem como ministro da Defesa, João Lourenço.
A informação constava de um comunicado do Comité Central do MPLA, indicando que “a condução da acção externa da campanha eleitoral do MPLA vai ser feita sob o comando do vice-presidente do partido”, o também ministro da Defesa que, obviamente, conduziria com toda a imparcialidade os cargos oficiais que ocupava.
Será difícil saber-se onde, em campanha, terminava o ministro da Defesa e começava o dirigente partidário, e vice-versa. Mas, em Angola, isso é completamente irrelevante. Ou não fosse verdade que nenhum dos três presidentes que Angola teve foi nominalmente eleito.
João Lourenço foi aprovado a 2 de Dezembro de 2016 como cabeça-de-lista do partido às próximas “eleições” gerais em Angola, mas o anúncio oficial só teve lugar a 3 de Fevereiro, pela voz do presidente do MPLA e chefe de Estado angolano, José Eduardo dos Santos, seu mentor.
“O MPLA tem as condições criadas para continuar a mobilizar o povo angolano, de Cabinda ao Cunene, e para participar e assegurar a sua vitória convincente nesse pleito eleitoral e continuará a fazer tudo o que estiver ao seu alcance para prosseguir com os esforços para a melhoria da situação económica e social do país”, afirmou o partido, no mesmo comunicado.
Como é óbvio. É, aliás, previsível que o MPLA venha daqui a uns anos a ser o único partido no mundo que esteve 100 anos no poder. Já leva 45 e pela andar da carruagem não será problemático por lá ficar mais 55 anos.
O general João Lourenço afirmou a 3 de Fevereiro de 2017 que a única prioridade que tinha nesse momento, enquanto candidato ao cargo de Presidente da República, era mesmo “vencer as eleições”.. Quem diria, senhor general? É coisa inédita.
“Estou preparado para aceitar este desafio (…). Tudo farei para honrar a confiança que em mim foi depositada”, disse João Lourenço, então vice-presidente do MPLA, após a reunião do Comité Central, em Luanda, em que José Eduardo dos Santos, líder do partido, Titular do Poder Executivo e chefe de Estado desde 1979, oficializou a candidatura do seu ministro da Defesa como cabeça-de-lista às eleições gerais.
“A minha única prioridade neste momento é trabalhar para vencer as eleições e depois veremos”, disse, questionado pelos jornalistas. Estamos a ver senhor general. Ah. Vemos que Angola é o MPLA e que o MPLA é Angola. Vemos que, afinal, o regime é o mesmo, que os jacarés continuam a ser carnívoros.
Relembre-se que na lista do MPLA candidata às eufemisticamente chamadas “eleições gerais”, submetida à aprovação do Comité Central, João Lourenço foi o cabeça-de-lista e candidato a Presidente da República e Bornito de Sousa, também general na reserva e ministro da Administração do Território (com total domínio da máquina eleitoral), foi o número dois e candidato a vice-Presidente.
“Eu venho sendo preparado e venho-me preparando para esta função, de há algum tempo para cá, na medida em que o que aconteceu hoje foi apenas a confirmação de algo que internamente, a nível do partido, pelo menos a nível da direcção do partido, já era praticamente um dado adquirido”, disse João Lourenço aos jornalistas no dia 3 de Fevereiro, na sua primeira declaração como candidato e após vários meses de especulações destinadas a propagandear a falsa ideia de que o MPLA, como o país, praticam a democracia.
De facto, João Lourenço “doutorou-se” nesta matéria num curso intensivo e de elite de “educação patriótica”, ministro em aulas individuais pelo mestre dos mestres, o seu mentor José Eduardo dos Santos.
Sobre a campanha eleitoral, João Lourenço afirmou que ia “jogar com as mesmas armas que os outros [candidatos] jogarem”, ao falar sobre a possibilidade de debates. Ora! Ora! Debates? E então a cobertura das acções de campanha por parte dos órgãos públicos? Bom. Isso ver-se-ia depois das eleições… à boa maneira do regime.
“É um desafio grande, mas eu acredito que, embora difícil, não é impossível. Temos optimismo suficiente para pensar que vamos conseguir e quem vai conseguir não é o cidadão João Lourenço, o militante João Lourenço. Quem vai conseguir é o próprio MPLA, que é uma verdadeira máquina e eu sinto-me suficientemente respaldado para poder fazer frente a este desafio”, rematou.
Quem diria! O respaldo de que falava João Lourenço era de facto, todos o reconhecemos, uma máquina não do MPLA mas do Estado. E como o Estado tem tudo na mão (inclusive a máquina eleitoral), não era preciso grande esforço para vencer algo que já estava vencido à partida.