Em dois anos Angola regrediu (mesmo) muito

O país não consegue avançar. Infelizmente. É como se a boçalidade politiqueira tivesse estatuto. Será que tem mesmo? As correntes da ditadura implantadas em 1975, pelo MPLA e Agostinho Neto deixaram resquícios sólidos e continuam a fazer morada em todas as instituições que de independentes (figurativamente na Constituição), têm apenas a dependência ao “modus operandi” ideológico.

Por William Tonet

Custa a acreditar, mas já ninguém pode fugir à realidade, tão pouco da besta discriminação, não se coibir de, mesmo em prejuízo do país, carente de quadros com mais-valias, excluir toda e qualquer competência oriunda de bolsas mentais despartidarizadas.

Essa miopia intelectual é não só perversa como criminosa, assassina, por parte de um ente-partidário, ao marginalizar a cidadania, os direitos e garantias fundamentais do homem, quando a sua legitimidade adveio, primeiro da conquista do poder pela força das armas e, depois, através da fraude eleitoral.

É preciso mudar este quadro, porquanto o país não pode continuar atolado a um ringue onde se desenrola, nos últimos dois anos, uma luta para afirmação de egos famintos do que não têm – credibilidade e honra.

Angola é maior e muito mais importante do que as vaidades umbilicais. Por esta razão se exige ao Titular do Poder Executivo, além do refrão sobre o combate à corrupção, uma verdadeira metamorfose do caminho, em busca da competência bastante para alavancar a economia e o emprego.

O Presidente João Lourenço, na minha modesta opinião (ela vale o que vale…), assiste impávido e sereno ao afundar do país, fruto das políticas erradas e de extrema incompetência da equipa económica, apostada em aplicar o neoliberalismo que consiste, no caso angolano, numa política de “entreguismo” a baixo preço (quase de oferta) das riquezas e empresas nacionais ao capital estrangeiro, maioritariamente canibal. Este conceito de subserviência é tão cego que os seus arautos são incapazes de ver os malefícios que estão a causar ao povo, que de tanto sofrimento, está a ser estimulado para eventuais sublevações sociais, para resgate de direitos.

O Titular do Poder Executivo desconseguiu, até hoje, oferecer garantias dignificantes ao cidadão comum, principalmente, aos 20 milhões de pobres, numa clara demonstração da maioria do seu gabinete não ter preparação académica, profissional e política (para não falar de moral e ética) que o momento de crise exige, para se transformar os mais singelos e primários anseios populares em realidade.

Além do desemprego, fecho de empresas e serviços, a equipa económica meteu medo ao dinheiro de tal forma que o empreendedorismo e a rotação do capital deixaram de ser molas do desenvolvimento.

Se do ponto de vista económico é um descalabro, um desastre do ponto de vista político a situação não é melhor nem indicia poder ser melhor. Hoje, o autoritarismo de João Lourenço amedronta-o, pois ao criar tantos anti-corpos no MPLA, no governo, nas FAA, na Polícia, e com a crise económica, que obriga os cidadãos a viver sem comer, a própria sombra mete medo, tantas vezes aterrador. Não havendo coincidências na política, a sua recente presença (18.02) no 80.º aniversário de Francisco Magalhães Paiva Nvunda, não pode ser vista como simples gesto de cordialidade e amizade, mas o estabelecimento de uma ponte, para reabilitar maus entendidos com figuras de proa do MPLA, ostracizados e humilhados com a sua chegada à liderança do partido.

Outro sinal de temor ante a fragilidade das políticas económicas e sociais do consulado foi a mais recente mobilização bajuladora dos militantes do MPLA, no dia 22.02, com custos avaliados em mais de 10 milhões de dólares, só em material de propaganda, que teve um mérito, vestiu muitos pobres, chamados para fazer número e figuração voluntariamente imposta, mas que do partido no poder apenas têm ciência da sua arrogância, autoritarismo e incompetência, que os conduz aos caminhos da miséria.

Só o tempo julgará se ainda existe a possibilidade de apagar os ressentimentos, cunhados no coração de muitos camaradas que lhe emprestaram solidariedade e foram depois “apunhalados”, na lógica de “se queres conhecer, na realidade um homem dá-lhe poder e dinheiro”.

Ninguém sabe ao certo se a mutação de JLo se deve ao atrás citado ou ao seu carácter introvertido, cínico para uns, mas qualquer que seja, o Presidente da República não se pode queixar do tempo, do estado calamitoso que encontrou o país, sob pena de ser chamado de incompetente, pois quem se arroja à mais alta magistratura do país, antes faz dele um diagnóstico, preconizando as formas e acções para, rapidamente, o tirar do lamaçal.

Acusar sempre o passado dos insucessos do presente pode configurar (quase sempre configura) impreparação e covardia funcional, não abonando o actor.

A campanha enganosa de certa mídia já não é bastante para credibilizar o consulado de ser diferente do anterior, pelo contrário, para muitas pessoas a actual governação é três vezes pior que a anterior. Se assim é, João Lourenço está condenado, quase a ser ditador em dois anos e proibido de hastear a bandeira da democracia. Só isso justifica a forçada nomeação de Manuel da Silva “Manico” para presidente da CNE, importante órgão do sistema eleitoral, como forma de garantir a continuidade da fraude e poder, quem sabe, um dia, vide Edeltrudes da Costa, actual chefe de gabinete do Presidente da República, que pela omissão fraudulenta quando esteve à frente da Comissão Nacional Eleitoral recebeu de uma só sentada 5 milhões de dólares e um lugar de chefe da Casa Civil de Eduardo dos Santos.

Actualmente a sua conta bancária depois de ter, fraudulentamente, recebido em 2013 mais de 17, 6 milhões de dólares, por altos serviços prestados à fraude e à batota. Mas estando próximo do Presidente é corrupto bom e intocável, com direito a defesa, inclusive de alguns arautos da sociedade civil, também eles à procura de apanhar o comboio. Santa hipocrisia!

O país não tem dinheiro para dar comida ao povo, mas tem para viagens milionárias (cada viagem presidencial, segundo dados estatístico está avaliada em cerca de 5 milhões de dólares); os cofres estão vazios, mas o executivo compra armas e meios tecnológico de espionagem ao cidadão; o país não tem dinheiro, mas o Banco Central descredibilizado, gasta dinheiro público, para fazer dinheiro, com um novo rosto, que custa muitos biliões, enquanto os hospitais não têm fármacos primários e os alunos escolas, quadros e carteiras.

Incongruência ou crime? Cada um que julgue…

Os pobres não podem ter emprego, as pensões dos antigos combatentes não podem subir, mas o Titular do Poder Executivo estimula a especulação no ensino primário, secundário e universitário, através do alto valor das propinas, superiores às praticadas nos melhores colégios dos Estados Unidos, Inglaterra, Suíça, França, Portugal, Bélgica, Namíbia, Congo Democrático, África do Sul, entre outros, dizendo claramente para os filhos dos pobres não estudarem ou estarem condenados, pela deficiente formação académica, a ser “ad eternum” escravos dos filhos da elite do poder, que desfilam nas melhores escolas ocidentais.

O povo não tinha razões, por mais que sejam as esfarrapadas justificações da crise, de comprar um saco de arroz a 15 mil kwanzas, o de feijão a 26 mil, a caixa de coxa a 10 mil, e a de carapau a 22 mil, estando o salário mínimo entre 15 à 25 mil Kwanzas ou o mais revoltante, haver cidadãos que trabalham, durante um mês, no Huambo e Bié, auferindo 5 mil Kwanzas, quando em sentido oposto, dirigentes, a maioria grassando incompetência, pelos sectores, para além de auferirem chorudos salários, têm subsídios e mordomias, não especificadas em lei, atirando para o povão as espinhas e sobejos, como se fossem mordomias, mas da fome, da especulação e da inflação.

É criminosa a situação. Resta saber até quando o povo assistirá, das montanhas, a essa nova opressão cuja injustiça tem como paralelo a Coreia do Norte, o Estado Islâmico e o nazismo.

Por esta razão, o Titular do Poder Executivo não pode continuar indiferente ao sofrimento dos povos, nem ter como ídolo político um genocida como António Agostinho Neto. Afirmo-o com letras garrafais: GENOCIDA, pois mandou assassinar em massa, sem direito a defesa, cerca de 80 mil cidadãos inocentes, com a apócrifa expressão: “Não vamos perder tempo com julgamentos!”

Não havendo, à época, na própria Constituição do MPLA, adoptada pela República Popular de Angola a pena de morte, os assassinatos à luz do dia configuram um crime imprescritível e insusceptível de amnistia, logo não prescreve.

Assim, qualquer novo regime ou líder comprometido com a democracia, terá a higiene intelectual de retirar da sua moeda e símbolos mais importantes da República a esfinge de António Agostinho Neto.

Pode ser admitida no antes, como um dos pais da independência, a par de Holden Roberto e Jonas Savimbi, mas na República de Angola, multipartidária e democrática, que respeita a vida e o principio da mais ampla defesa, a sua referência é, no mínimo, indigna.

Pensemos Angola, afastemos da governação as raivas e ódios, purifiquemos e perdoemos ao MPLA, como epicentro da corrupção e, façamos, na humildade e perdão, um verdadeiro PACTO DE REGIME para salvar o país da hecatombe.

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