Luísa Damião, vice-presidente do MPLA e séria concorrente em matéria de debilidade intelectual de João Pinto e Luvualu de Carvalho, disse hoje que não há perseguição política à empresária Isabel dos Santos, por causa do caso Luanda Leaks, e também que não há justiça selectiva em Angola. Patrão mandou, sipaio repetiu.
“Pensamos que não há perseguição política e nem há justiça selectiva, porque a prática mostra todos os dias que nós estamos a combater vários focos de corrupção, não só no topo da pirâmide, mas também na base”, disse Luísa Damião.
A dirigente do partido no poder em Angola há 44 anos, que antes idolatrava José Eduardo dos Santos e agora não só venera João Lourenço como enxovalha o seu anterior patrono, falava na cidade da Praia, após um encontro com a presidente do Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV), Janira Hopffer Almada, partido da mesma família política, que no fim de semana realiza o seu XVI Congresso ordinário.
Para sustentar a peregrina e coxa ideia de que não há perseguição política nem justiça selectiva em Angola, a vice-presidente do MPLA lembrou que alguns administradores que estão a ser acusados de peculato foram detidos há dias.
“É uma prova evidente que a justiça está a fazer o seu trabalho e não há nenhuma justiça selectiva como se quer fazer crer”, reforçou.
Luísa Damião referiu que o MPLA, liderado pelo Presidente João Lourenço, assumiu como bandeira para tapar o insucesso, ou descalabro, económico e social o combate à corrupção, e pediu colaboração da sociedade, das famílias, escola e igrejas, “no sentido de moralizar toda a sociedade contra as más práticas”. Os nossos 20 milhões de pobres já estão a fazer uma recolha de fundos para rumarem todos a Luanda para dizer: Presente.
“Esta é uma prova evidente que o nosso programa está a ser colocado em marcha. Em Angola temos o poder legislativo, o poder executivo e o poder judicial, no âmbito da separação de poderes, e o poder judicial está a fazer o seu papel no âmbito do combate à corrupção, e este processo enquadra-se precisamente neste sentido”, salientou a vice-presidente do MPLA, repetindo com voz mais melodiosa, reconheça-se, as ordens superiores do seu novo “arquitecto da luta contra a corrupção”.
Questionada sobre um alegado mal-estar no seio do partido por causa deste caso, a vice-presidente rejeitou essa ideia, reafirmando que o programa de combate à corrupção foi aprovado pelo próprio partido, porque se deu conta que havia males a combater. Importa, aliás, recordar em abono das teses da Luisinha que ainda há pouco 99,6% dos membros do MPLA apoiaram… José Eduardo dos Santos.
“Aliás, o lema do nosso partido neste momento é melhorar o que está bem e corrigir o que está mal e a corrupção é um dos erros que nós queremos corrigir. Só um partido como o MPLA é que é capaz de fazer uma introspecção e dar-se conta que cometemos alguns erros, que devem ser combatidos. Portando, não deve existir este mal-estar porque este programa foi sufragado pelos próprios militantes do MPLA”, afirmou.
Brilhante. Brilhante Luisinha. É lapidar e digna de figurar no epitáfio do partido que nos governa há 44 anos a frase: “Só um partido como o MPLA é que é capaz de fazer uma introspecção e dar-se conta que cometemos alguns erros, que devem ser combatidos”. Só mesmo o MPLA pode combater a corrupção porque só há corruptos no MPLA, porque o MPLA é o maior partido do mundo com mais corruptos por metro quadrado.
Além da corrupção, Luísa Damião apontou ainda a impunidade e o nepotismo como outras más práticas que devem ser banidas de Angola. Mais uma vez o MPLA é o pai e a mãe da impunidade e do nepotismo. E assim sendo a Luisinha tem toda a razão.
A Procuradoria-Geral da República do MPLA constituiu Isabel dos Santos arguida por alegada má gestão e desvio de fundos durante a passagem de 18 meses pela petrolífera estatal (do MPLA) Sonangol.
O procurador-geral, general Heldér Pitta Grós, afirmou que o processo de inquérito aberto na sequência de uma denúncia do presidente do conselho de administração da petrolífera, Carlos Saturnino, entretanto exonerado por João Lourenço, certamente pelos mais relevantes serviços prestados ao partido, já foi transformado em processo-crime.
O Consórcio Internacional de Jornalismo de Leitores de Documentos revelou em 19 de Janeiro mais de 715 mil ficheiros, sob o nome de Luanda Leaks, que detalham esquemas financeiros de Isabel dos Santos e do marido, Sindika Dokolo, que terão permitido retirar dinheiro do erário público angolano, utilizando paraísos fiscais.
De acordo com a investigação desse consórcio, do qual fazem parte os portugueses Expresso e a SIC, Isabel dos Santos terá montado um esquema de ocultação que lhe permitiu desviar mais de 100 milhões de dólares (90 milhões de euros) para uma empresa sediada no Dubai e que tinha como única accionista declarada Paula Oliveira.
A empresária, filha do ex-Presidente angolano, José Eduardo dos Santos, disse que está a ser vítima de perseguição política e anunciou que vai processar o consórcio de jornalistas.
Folha 8 com Lusa