Como a TPA, Palanca TV vira TV MPLA

O Governo do MPLA decidiu transformar a televisão privada Palanca TV, recuperada (confiscada, roubada) pelo Estado por ser “constituída por fundos públicos” (afinal, como tudo em Angola, até mesmo o MPLA), em canal desportivo da Televisão Pública do MPLA (TPA), anunciou o ministro das Telecomunicações, Tecnologias de Informação e Comunicação Social. Confiscar a UNITA poderá ser o próximo passo?

Manuel Homem disse que a decisão saiu na sequência do projecto da TPA de “criação de canais temáticos, depois da recuperação pelo Estado da antiga televisão privada fundada com fundos públicos”. Quererá isso dizer que a TPA, televisão do MPLA, foi fundada com fundos não públicos?

O governante falava hoje, em Luanda, no final de um encontro de trabalho com a ministra da Juventude e Desportos, Ana Paula do Sacramento, em que foi abordada a cooperação entre os dois órgãos ministeriais.

Na ocasião, a ministra da Juventude e Desportos manifestou interesse de ver “retratadas” na TPA questões ligadas ao sector que dirige, nomeadamente o desporto comunitário e o praticado pelas pessoas portadoras de deficiência.

O canal Palanca TV será lançado oficialmente “talvez no princípio de 2021”, segundo o presidente do Conselho de Administração da TPA, Francisco Mendes, também coordenador da comissão de gestão da Palanca TV.

“Os conteúdos serão feitos por jornalistas e técnicos que neste momento fazem parte do quadro de pessoal da Palanca TV e quadros da TPA”, disse Francisco Mendes, em declarações aos jornalistas.

A Palanca TV passou, recentemente, para a esfera do MPLA (Estado, na terminologia do Governo), no âmbito do programa do Governo de recuperação de activos, juntamente com a Rádio Global, até então detidos, supostamente, por um ex-ministro angolano, colega de João Lourenço no Governo de José Eduardo dos Santos, investigado pela Procuradoria-Geral da República.

O Estado/MPLA tem igualmente sob sua gestão a TV Zimbo, a Rádio Mais e uma gráfica, que pertenciam ao grupo privado Media Nova, dos generais “Dino” e “Kopelipa” e do ex-vice-Presidente Manuel Vicente (que foram altos dirigentes do MPLA), “em virtude de terem sido constituídas com o apoio e reforço institucional do Estado”.

Porém, na terça-feira, associações profissionais de jornalistas, emitiram uma declaração pública em que apelavam ao Executivo angolano, liderado pelo Presidente do MPLA, a “respeitar a independência editorial” dos referidos órgãos “abstendo-se de quaisquer interferências directas e indirectas”. Como se fosse possível aos escravos ter a veleidade de sugerir o que quer que seja ao seu dono.

“A hipótese de se transformar a TV Zimbo e a Palanca TV em canais públicos especializados em notícias e desporto agride a pluralidade de informação, sujeita os cidadãos angolanos a um monopólio do Estado disfarçado e representaria um retrocesso grave da liberdade de imprensa no país”, lê-se na declaração. É verdade. Mas por alguma razão o MPLA é Angola e Angola é do MPLA…

Hoje, reagindo ao posicionamento dos jornalistas, Manuel Homem assegurou que a “pluralidade de informação está salvaguardada”, observando que existem em Angola “canais privados de rádio e televisão que funcionam com normalidade”.

“E é importante esclarecer que a Palanca TV e outros órgãos recuperados pelo Estado foram constituídos com fundos públicos e o Estado tem de ter uma estratégia na sua gestão”, sublinhou, quando questionado pelos jornalistas.

Em relação à TV Zimbo, acrescentou que “há uma comissão de gestão do órgão para permitir identificar os problemas que a mesma tem e o trabalho inicial que está a ser feito mostra que o mesmo está com muitas dificuldades”.

“Outros canais temáticos serão geridos pela TPA e a qualquer momento também vamos lançar”, concluiu o ministro angolano. E assim vai o reino de Pyongyang. Ou será de Malabo? Poderia ser, mas é tão somente de Luanda.

No passado dia 19 de Fevereiro, em uníssono, o Presidente da República, do MPLA e Titular do Poder Executivo, João Lourenço, ordenou que a Assembleia Nacional devia dar posse ao presidente da Comissão Nacional Eleitoral (CNE) e que este foi indicado de acordo com a legislação. E assim aconteceu. Para abrilhantar o bordel, recorde-se, dois jornalistas da Palanca TV foram agredidos por agentes da Polícia (do MPLA), em Luanda, enquanto cobriam uma manifestação em protesto contra a tomada de posse do novo presidente da CNE, Manuel Pereira da Silva “Manico”.

Para relembrar a todos que Angola é um Estado de Direito (embora propriedade privada do MPLA), dois jornalistas da Palanca TV queixam-se de terem sido agredidos por agentes da polícia, em Luanda, enquanto cobriam uma manifestação em protesto contra a tomada de posse do novo presidente da CNE.

“Eu, particularmente, fui violentamente agredido por vários agentes, estou neste momento com ferimentos nos braços e no pé em consequência da carga policial, o meu colega da imagem também e inclusive danificaram a câmara”, contou José Kiabolo, da Palanca TV, lamentando a situação.

Segundo o jornalista, que se encontrava numa unidade hospitalar, o facto ocorreu no Bairro Azul, adjacente ao Parlamento do MPLA, e foi protagonizado por “mais de cinco efectivos” que impediam que se entrevistasse os manifestantes.

Naquele local, adiantou o profissional, foram encaminhados, “sob carga policial”, jovens manifestantes, sobretudo afectos à UNITA, partido que contestava a posse o juiz Manuel Pereira da Silva.

“Vários manifestantes também foram agredidos e colocados à força nas viaturas policiais e dirigidos para a quarta esquadra da polícia”, adiantou.

Folha 8 com Lusa

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