As tretas de João Lourenço

Em Dezembro de 2017, já como Presidente, João Lourenço disse que o país (estava a falar de Angola) ainda estava a viver os efeitos da crise, acrescentando que só não foram mais graves “porque em tempo oportuno foram tomadas medidas pertinentes para reduzir o seu impacto”. Tempo oportuno sob a égide de José Eduardo dos Santos, tendo como seu vice-presidente (no MPLA) e ministro da Defesa… João Lourenço.

Na sua mensagem de Ano Novo (para 2018), João Lourenço disse que seria necessário dar “com alguma coragem e determinação novos passos em frente, vencendo os constrangimentos ainda existentes e encarando com realismo novos desafios”, para a efectiva diversificação da economia angolana. Repetiu, aliás, o que José Eduardo dos Santos dizia.

“A crise só não foi mais grave, porque em tempo oportuno foram tomadas medidas pertinentes para reduzir o seu impacto, numa demonstração de que, fazendo-se uma leitura correcta da realidade e assumindo colectivamente os sacrifícios necessários, todos os obstáculos são superáveis”, referiu João Lourenço. José Eduardo dos Santos não diria melhor.

O chefe de Estado disse que um trabalho decisivo tem sido feito para a criação de um ambiente adequado ao aumento da produção interna de bens e de serviços, apostando-se no investimento privado nacional e estrangeiro.

Os resultados deste trabalho, segundo João Lourenço, reflectiam-se já (Dezembro de 2017) no interesse manifestado por empresários interessados em investir em Angola, em quase todos os ramos da economia angolana. Na passagem ara 2021 continuamos na mesma onda e à…espera! Obviamente sentados.

“Pelos sinais que recebemos ultimamente, já é visível a mudança da imagem de Angola perante o mundo, sobretudo perante os fazedores de opinião, os media internacionais, os homens de negócios ávidos em investir no nosso país, em praticamente todos os ramos da nossa economia”, salientou então João Lourenço.

O trabalho vai continuar nessa senda, garantiu João Lourenço, “para não deixar morrer esta esperança que se abre”, e permitir que “todos os caminhos venham dar a Angola”. Três anos depois os caminhos arrepiaram… caminho e estão em parte incerta.

“Isso é bom, porque se abrem perspectivas reais de diversificação da nossa economia, de aumento dos produtos de exportação, de aumento da oferta de emprego para os nacionais e para a juventude em particular”, acrescentou João Lourenço. Foi em 2017.

O Presidente disse também que são necessários “passos decisivos para moralizar” a sociedade angolana, com o exemplo das autoridades, “valorizando os bons comportamentos, atitudes e práticas”.

Na mensagem de ano novo, João Lourenço disse esperar que 2018 fosse “um ano melhor para o país, para as empresas, mas sobretudo para as famílias e para os cidadãos em geral”. Três anos depois, os cidadãos em geral (20 milhões de pobres) parabenizam o Presidente porque – dizem – há mais comida nos contentores… do lixo.

O chefe de Estado afirmou que procurou transmitir aos angolanos com “palavras e actos” um sinal claro do rumo que pretendia seguir, sem romper com o passado, mas procurando “despir-se de tudo aquilo que não é bom para a sociedade, para o país”. Pensemos na Lei da Probidade e chegaremos à conclusão de que José Eduardo dos Santos não diria melhor, como ficou provado pelo silêncio concordante do seu ministro João Louenço.

Segundo João Lourenço, a resposta que tem recebido do povo “parece demonstrar que a grande expectativa criada à volta deste executivo, continua a alimentar a esperança há muito esperada, do surgimento de uma verdadeira renovação de mentalidades e de comportamentos no seio da sociedade”.

E para a moralização da sociedade, João Lourenço defendeu o combate à “violação das leis existentes” (feitas por quem?), que “tantos males causam à comunidade e ao bem comum”.

“Não podemos esperar que haja mudanças se continuarmos a trilhar os mesmos caminhos e não formos nós os primeiros a mudar o nosso comportamento e as nossas próprias vidas”, disse João Lourenço.

O Presidente manifestou a sua disponibilidade para manter uma atitude de abertura e de diálogo com toda a sociedade, em relação aos problemas da nação, bem como para prevenir e combater quaisquer condutas que impeçam os cidadãos de usufruírem dos direitos que a Constituição lhes confere. Nada a fazer. José Eduardo dos Santos não diria melhor. E tal como este, João Lourenço continua incentivar o diálogo com todos aqueles que estão sempre de acordo com ele.

“O nosso combate pela legalidade e pelo fim da impunidade de quem a desrespeitar será um combate de todas as horas”, prometeu João Lourenço.

João Lourenço expressou então o seu sério empenho, para que 2018 fosse próspero e melhor para os angolanos, deixando de ser “uma ilusão” e tornando-se “numa realidade”.

“Estamos optimistas que 2018 será um ano melhor para o país, para as empresas, mas sobretudo para as famílias e para os cidadãos em geral”, referiu João Lourenço. O resultado está à vista e nem mesmo a pandemia de Covid-19 consegue branquear tanta incompetência por metro quadrado.

O Presidente apontou ainda mudanças ao nível da governação, salientando que o Orçamento Geral do Estado (OGE) para 2018 já previa acções viradas para a reforma e modernização do Estado, para o reforço da cidadania e para a instauração de uma sociedade cada vez mais participativa.

Segundo o chefe de Estado, o OGE dedicaria uma parte considerável dos recursos disponíveis à expansão do capital humano, à redução das desigualdades, à criação de emprego qualificado e bem remunerado, à redução das assimetrias regionais e à diversificação da economia. Dos 500 mil novos empregos prometidos só faltam, três anos depois, 499.900…

“Continuaremos a zelar pela estrita aplicação do que vem consagrado na nossa Constituição, a que devo a máxima obediência”, frisou. E frisou bem. E é tanta a obediência que a própria Constituição só obedece à Magna Carta do… MPLA.

Se João Lourenço fizesse um esforço maior, ou exigisse que os seus assessores trabalhassem alguma coisa, evitaria dizer o que foi dito várias vezes por José Eduardo dos Santos. Mas, parafraseando um velho e jocoso ditado português, para quem é, farelo basta. Até um dia. É que a barriga vazia é má conselheira e, muitas vezes, tem ligação directa ao dedo que puxa o… gatilho.

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