A petrolífera estatal angolana (do MPLA) Sonangol anunciou que vai construir um centro de investigação científica e inovação para ajudar a identificar projectos estratégicos para a empresa. Então pergunta-se: O que foi feito dos 175 milhões de dólares que a BP e a Cobalt entregaram à Sonangol, em 2011, para a construção de um centro de investigação e tecnologia?
A construção deverá ter início em 2021 e ser concluída em 2022, sendo implantada nas proximidades do Instituto Nacional de Petróleos e do Instituto Superior de Petróleos, na cidade do Sumbe (província do Cuanza-Sul).
O Centro de Investigação (CIITIP) “será um órgão assessor, consultivo e de carácter permanente, para monitorar, avaliar e decidir sobre actividades de investigação e inovação, assim como aferir as condições existentes e os recursos disponibilizados, de forma a garantir a excelência em termos de produtividade científica e aprendizagem”.
A actuação do centro vai estar alinhada com a “potencialização da cadeia de valor da Sonangol e do sector, sobretudo a necessidade de exploração, desenvolvimento, produção, refinação e petroquímica, energias renováveis e desenvolvimento sustentável”.
O espaço vai albergar várias outras instituições de ensino superior, de formação profissional e incubadoras de empresas, como parte de um Polo de Investigação Científica e Tecnológica a ser criado por iniciativa do Ministério dos Petróleos com a colaboração do Agência Nacional de Petróleo e Gás, e operadoras multinacionais, como a norueguesa Equinor.
Em 2015, segundo Joseph Bryant, presidente e Chefe Executivo da Cobalt International Energy, as relações da empresa norte-americana com Angola “eram excelentes e avançam com bastante sucesso” e “a Cobalt tinha a intenção de fortalecê-las cada vez mais, pensando na diversificação da economia angolana para além do petróleo e gás”. Agostinho Tavares, embaixador de Angola nos EUA, subscreveu.
Recorde-se que a Comissão de Títulos e Câmbios dos EUA decidiu não levar a tribunal a companhia petrolífera Cobalt por alegados actos de corrupção em Angola envolvendo destacados dirigentes angolanos.
A investigação teve início em 2011 depois de ter sido noticiado que a Cobalt tinha ganho acesso à exploração de petróleo em Angola, associando-se a uma companhia angolana com o nome de Nazaki.
As alegadas violações envolviam leis contra suborno de entidades estrangeiras e, neste caso, envolviam alegadamente o vice-presidente angolano Manuel Vicente, o General Hélder Manuel Vieira Dias Júnior “Kopelipa” e o General Leopoldino Fragoso do Nascimento.
Após as investigações da Comissão de Títulos e Câmbios, a organização anti-corrupção Global Witness disse que a Cobalt e a BP tinham entregue 175 milhões de dólares à Sonangol para a construção de um centro de investigação e tecnologia que… não existia. As duas companhias planeavam entregar outros 175 milhões para o mesmo fim.
Recorde-se que, na altura, o Governo excluiu a operadora Nazaki da participação em dois blocos de produção de petróleo alegando incumprimento de “compromissos económicos e financeiros”. Perante as acusações de corrupção, e consequente investigação nos EUA, que ligam esta empresa à Cobalt, o Executivo tentou com êxito branquear o processo. A informação da exclusão da Nazaki consta de dois decretos executivos, assinados pelo ministro dos Petróleos de Angola, José Maria Botelho de Vasconcelos.
A empresa Nazaki Oil & Gaz foi constituída pelo então vice-presidente da República e à época administrador da concessionária nacional Sonangol, Manuel Vicente, juntamente com os generais Manuel Helder Vieira Dias Júnior “Kopelipa” e Leopoldino Fragoso do Nascimento “Dino”.
De acordo com os dois decretos (258 e 260/14), a Nazaki era detentora de 15 por cento dos interesses participativos nos consórcios dos blocos 9/09 e 21/09.
Contudo, lê-se nos decretos, a operadora “demostrou não possuir os requisitos legais para ser associada da concessionária nacional”, a Sonangol, nomeadamente “por não ter repetidamente cumprido com os seus compromissos económicos e financeiros relacionados com o pagamento da quota-parte dos custos incorridos pelo consórcio” nos respectivos blocos de produção.
Além da exclusão, esta decisão implica a transmissão das duas participações detidas pela Nazaki para a empresa pública Sonangol Pesquisa e Produção.
Um terceiro decreto, idêntico, aplicava-se à empresa Falcon Oil Holding Angola, detentora de 5% do consórcio que explora o bloco 18/06, posição que transita igualmente para a Sonangol Pesquisa e Produção.
Esta decisão surgiu poucos dias depois de ter sido conhecido que o regulador dos mercados financeiros norte-americano estava a preparar, como o Folha 8 revelou, um processo judicial relacionado com alegadas práticas de corrupção da petrolífera Cobalt em Angola num consórcio formado precisamente com a Nazaki Oil & Gaz.
Sobre este assunto, de acordo com um dos principais responsáveis da companhia petrolífera norte-americana Cobalt, e uma das maiores que operava em Angola, a intenção do regulador norte-americano de iniciar a constituição de um caso judicial, depois de três anos de investigações, era “errada”, uma vez que a companhia “sempre cooperou com o regulador nesta matéria e tenciona continuar a cooperar”.
“A administração da Cobalt diz que não fazia ideia do envolvimento da Nazaki e acrescenta que foi o Governo angolano, através da companhia petrolífera estatal Sonangol, que nomeou a Nazaki como parceiro, e que não soube nada do envolvimento destas figuras do Governo até 2010”, escreveu a revista Forbes num texto assinado pela jornalista Frances Coppola.
A Sonangol, por causa da lei angolana, fica sempre com uma parte do consórcio de exploração de petróleo, podendo, ou não, delegar a sua participação noutra empresa angolana, sendo vários os casos em que, directa ou indirectamente, escolhe ou aponta fornecedores e parceiros que as petrolíferas estrangeiras têm de contratar.
Manuel Vicente e o General Kopelipa reconheceram que eram accionistas na companhia Nazaki mas disseram ter agido de acordo com a lei angolana e negaram qualquer envolvimento em acções de tráfico de influência para obterem vantagens ilícitas como accionistas da empresa.
Em 2012 os escritórios da Nazaki em Luanda eram no mesmo edifício dos escritórios da Cobalt, e a Nazaki era uma companhia que “só existia no papel” antes de se associar à Cobalt que, no início do processo, chegou a negar publicamente que a Nazaki fosse propriedade de figuras influentes no governo angolano.
Com sede em Houston, nos EUA, a Cobalt é uma das maiores petrolíferas mundiais e está envolvida em processos de exploração de petróleo no Golfo do México e em Angola.
Recorde-se que, por exemplo, a Sonangol e a Total assinaram em Dezembro de 2017 vários acordos de cooperação, entre os quais uma “joint-venture” para a importação e distribuição em Angola de produtos refinados do petróleo. O CEO da Total, Patrick Pauyanné, tinha nessa altura elogiado o desempenho de Isabel dos Santos na liderança da Sonangol…
Os acordos foram assinados em Luanda pelo então Presidente do Conselho de Administração da Sociedade Nacional de Combustíveis de Angola (Sonangol), Carlos Saturnino, e pelo presidente director-geral da Total, Patrick Pauyanné.
Na altura, Carlos Saturnino disse que os acordos servem para o relançamento da cooperação entre as duas petrolíferas, para alavancar também as actividades da indústria petrolífera de forma global, “tanto do ‘upstream’ (cadeia produtiva) como do ‘downstream’ (transporte e distribuição) e também algumas acções que terão impacto no ‘midstream’ (transformação), mais directamente relacionadas com a utilização do gás”.
Um segundo acordo teve a ver com relançamento da exploração petrolífera em Angola, através do bloco 48, tendo Carlos Saturnino recordado que os últimos blocos que o país lançou para exploração foram concluídos em Dezembro de 2011.
“Ou seja, estamos há seis anos a trabalhar com os mesmos blocos e nos últimos anos não temos exploração. De maneira que relançar a exploração em Angola é extremamente importante, porque é a partir daí que a gente vai assegurar o futuro, enquanto companhia petrolífera”, disse.
Segundo Carlos Saturnino, estavam em curso também outras actividades do ‘upstream’ no bloco 17, com vista a desenvolver-se e colocar-se em produção alguns activos que já foram identificados e descobertos há alguns anos, nomeadamente aos blocos Acácia e Zínia, mas também Zínia na fase número dois.
A formação de quadros foi igualmente acordada entre as duas companhias, no sentido do reforço e aprofundamento de conhecimento e capacidades do capital humano.
Carlos Saturnino frisou a existência de um compromisso antigo com a indústria petrolífera, de 2011, que é o centro de investigação e tecnologia do grupo Sonangol, que fazia parte das licitações concluídas há seis anos.
Folha 8 com Lusa