Activistas angolanos convocaram para sábado uma manifestação exigindo a demissão do chefe de gabinete do Presidente da República de Angola, Edeltrudes Costa, que terá sido alegadamente favorecido pelo Estado/MPLA em contratos milionários durante a governação de José Eduardo dos Santos e João Lourenço.
No passado sábado Luanda foi também palco de protestos, com uma marcha do desemprego, organizada por jovens, e dos lesados dos projectos habitacionais da empresa Build Angola que alegam ter sido vítimas de burla e reclamam justiça.
Em declarações à Lusa, Benedito Jeremias “Dito Dali”, um dos organizadores, disse que o objectivo “é exigir ao Presidente da República [João Lourenço] que afaste imediatamente Edeltrudes Costa por estar envolvido em negócios ilícitos e alegadas transferências ilícitas de dinheiro para o exterior”.
Enquanto isso, “aos angolanos faltam medicamentos nos hospitais, faltam médicos, faltam empregos para os jovens”, sublinhou “Dito Dali”, notando que o desemprego em Angola “é galopante”.
O activista considerou que Edeltrudes Costa não tem condições para continuar no Governo e deve ser afastado, pedindo responsabilização política e criminal do chefe de gabinete e criticando o silêncio de João Lourenço.
“O Presidente da República continua silencioso. Este silêncio compromete as instituições públicas e a própria imagem do Presidente”, frisou.
O activista adiantou que vão ser recolhidas assinaturas durante a manifestação e que serão depois remetidas à Presidência e Procuradoria-Geral da República, órgão junto do qual pretendem apresentar uma denúncia pública.
O protesto está a ser convocado pelas redes sociais e tem concentração marcada para as 11:00 no Largo da Independência (1.º de Maio).
O caso, que foi noticiado recentemente pela estação televisiva portuguesa TVI, envolve a contratação de uma empresa de consultoria de Edeltrudes Costa num negócio que tinha como objectivo a modernização dos aeroportos angolanos e terá rendido vários milhões de euros em contratos públicos que foram autorizados pelo chefe de Estado angolano.
O dinheiro terá sido usado para comprar casas de luxo em Sintra e Cascais, no distrito de Lisboa.
Na semana passada, o líder da UNITA, o maior partido da oposição que o MPLA ainda permite, mostrou-se preocupado com o envolvimento de “figura relevante” da presidência da República em actos de alegado favorecimento em negócios.
Em causa estão “acusações bastante graves de violação à transparência e à Lei da Probidade Pública, inclusive com a indicação de que estas violações foram possíveis, porque também assinadas pelo Presidente da República”, destacou Adalberto da Costa Júnior.
Em Fevereiro deste ano foi revelado pelo jornal português Expresso que em 2013 foram transferidos milhões de dólares para uma conta de Edeltrudes Costa. A origem? Ninguém sabe. Isabel dos Santos referira-o na altura como importante na sua entrada na Sonangol.
Alguns observadores admitiram na altura que João Lourenço poderia exonerar Edeltrudes Costa. Certo é que se o Presidente começar a exonerar os corruptos (ou suspeitos) que o rodeiam e não aceitar nomear os que o querem rodear, não terá ninguém para ocupar os cargos e o governo terá de declarar… falência.
O actual chefe de gabinete do presidente João Lourenço recebeu a 25 de Julho de 2013 uma soma de 17,6 milhões de dólares na sua conta bancária, quando era ministro de Estado e chefe da Casa Civil do antigo presidente, José Eduardo dos Santos. Ninguém sabe a origem do dinheiro e Edeltrudes Costa “não o explicou ao Expresso”, revelou o semanário português.
Edeltrudes Costa, que tem uma fortuna avaliada em mais de 20 milhões de euros e que em 2013 era ministro de Estado e chefe da Casa Civil do pai de Isabel dos Santos, viu serem-lhe depositados 16,7 milhões de dólares na conta bancária que tinha no BAI – Banco Angolano de Investimento.
Essa não terá sido a única transferência suspeita para contas bancárias do actual chefe de gabinete do presidente João Lourenço. Cerca de um mês depois da transferência mais avultada, foram depositados na sua conta 5 milhões de dólares pelo empresário Domingos Manuel Inglês. “Ao longo” do mesmo mês terá levantado, “em numerário, 1,25 milhões de dólares”, acrescentava o Expresso, citando documentos a que teve acesso.
Ao semanário, o político angolano limitou-se a dizer: “Os recursos que recebi, tanto no exercício de funções públicas como no exercício da minha actividade profissional ou em resultado de investimentos pontualmente realizados, foram atempadamente declarados e sujeitos a escrutínio pelas autoridades angolanas competentes, sendo as minhas fontes de rendimento perfeitamente claras e legais”.
Numa entrevista ao também português jornal Observador, a empresária Isabel dos Santos, cujas contas e participações em empresas foram arrestadas por decisão política rotulada de judicial — é suspeita de ter sido favorecida pelo regime do MPLA em mais de mil milhões de euros, juntamente com o marido —, mencionara o nome de Edeltrudes da Costa.
Isabel dos Santos falava sobre a sua escolha para a administração da empresa pública angolana Sonangol quando lembrou que a “comissão de reestruturação petrolífera” – que supostamente a escolheu para CEO da petrolífera estatal – era “liderada por Edeltrudes”, o “director de gabinete do Presidente João Lourenço”.
A invocação e a referência a Edeltrudes Costa soaram a uma tentativa de dar credibilidade à sua escolha, já que o então líder da comissão petrolífera veio a tornar-se braço-direito de João Lourenço. Isabel dos Santos não referiu, contudo, que Edeltrudes Maurício Fernandes Gaspar da Costa fora antes disso ministro e chefe de Casa Civil do anterior presidente, seu pai.
Foi então que o Expresso revelou que o antigo líder da comissão de reestruturação petrolífera, entidade alegadamente imparcial e que elegera Isabel dos Santos pelos seus méritos empresariais, recebeu 13 milhões quando era ministro de José Eduardo dos Santos.
Folha 8 com Lusa