Uma picada sem saída

O bispo católico da província angolana do Moxico, Jesus Tirso Blanco, manifestou-se preocupado com o aumento da prostituição, alcoolismo e consumo de drogas a nível da juventude local, referindo que a situação “tende a agudizar-se devido à crise”.

É assim em todo o país. Quarenta e quatro anos depois da independência, o MPLA (o único partido que foi, é e será governo) só tem para lhes dar “fuba podre, peixe podre, panos ruins, cinquenta angolares e porrada se refilarem”.

Segundo o bispo, citado hoje pela emissora católica angolana, a situação dos jovens, “em número cada vez maior”, que se entregam ao alcoolismo, às drogas e à prostituição “é realmente muito preocupante”, defendendo políticas públicas específicas e direccionadas ao sector.

“A prostituição é um fenómeno crescente no nosso meio, em parte também motivado por esta crise económica que nos acompanha e tende a agudizar-se e que atinge também as próprias famílias”, afirmou o prelado durante uma missa, no Luena, capital do Moxico.

Para o bispo argentino, ao serviço da Igreja Católica angolana há mais de duas décadas, a preocupante situação dos jovens precisa de uma “resposta urgente”, porque, realçou, diariamente “depara-se com muitos jovens desnorteados pelo efeito desta desgraça” (álcool e drogas).

“Temos que ter um olhar de compaixão, apostando na capacidade deste ser humano de sair desta situação que muitas vezes corresponde ao seu desejo mais profundo mesmo que não o manifeste”, afirmou.

Angola vive desde finais de 2014 (o que significa que antes disso a situação era oposta) uma profunda crise económica, financeira e cambial, fruto da queda do preço do petróleo no mercado internacional, maior e quase exclusivo suporte da economia do país, com inúmeros reflexos na condição socioeconómica dos cidadãos.

Angola conta mais de 28 milhões de habitantes e a população é maioritariamente jovem. A taxa de desemprego no país aumentou para 29%, no segundo trimestre de 2019, registando mais 0,2% face aos 28,8% verificados no período entre Março de 2018 e Fevereiro de 2019, com mais da metade de jovens afectados.

Afinal, “Quem se levanta cedo? Quem vai à tonga? Quem traz pela estrada longa a tipóia ou o cacho de dendém? Quem capina e em paga recebe desdém, fuba podre, peixe podre, panos ruins, cinquenta angolares “porrada se refilares”? – Quem? Quem faz o milho crescer e os laranjais florescer? – Quem? Quem dá dinheiro para o MPLA comprar máquinas, carros, senhoras e cabeças de pretos para os motores? Quem faz os dirigentes do MPLA prosperar, ter barriga grande – ter dinheiro?”

A mensagem é mais importante do que o nome do mensageiro (*)

«E star entre jovens sonhadores é uma das minhas maiores alegrias. Revejo-me no seu espírito empreendedor e na sua paixão por criar algo novo. Assim foi na conferência Empreendedorismo Jovem e Inovação, que decorreu na Universidade de Cabo Verde, no dia 10 de Outubro de 2019. O dia em que perguntei a uma sala cheia “quem amanhã pensa começar o seu negócio e ser empreendedor?”. Para minha felicidade e surpresa, várias mãos se levantaram. Temos um futuro promissor em África.

«Mas é também numa sala cheia de jovens que relembro ser este o momento de maior incerteza na vida de qualquer pessoa. Estão a terminar a faculdade e questionam-se: o que vem depois? Terei dinheiro para comprar uma casa? Para formar uma família? Serei capaz de construir um negócio? Por onde começo?

«Tudo na vida tem a sua fase e tem a sua idade. Quando se termina a faculdade, o meu primeiro conselho seria sempre tentar trabalhar e ter alguma experiência profissional de forma a poderem perceber como é que o mundo empresarial funciona. É preciso ter consciência que fundar uma empresa é um desafio sério. Provavelmente o maior desafio da vossa vida porque tudo é uma novidade e nunca temos certeza de nenhuma decisão que estamos a tomar.

«Por isso, ter noção do mundo empresarial é o primeiro passo: experiência. Para além disso, a grande maioria de jovens empreendedores não têm capital suficiente para iniciar uma empresa. Mas também gostaria de vos fazer lembrar o seguinte: um grande empreendedor não nasceu com uma grande empresa. Nos vossos sonhos e nas vossas ideias, lembrem-se que é preciso começar pequeno. Não vale a pena tentar construir um projecto maior que nós. Temos que construir projectos à nossa dimensão.

«Para se começar uma empresa temos de ter em conta os três pilares principais: ideia, plano e equipa. Em primeiro lugar, é necessário ter uma ideia e que essa ideia seja boa. É reconhecer algo que faz falta, ter vontade de fazer algo diferente e inovador. Ou seja, ser capaz de olhar para a tecnologia que está à nossa volta e aplicá-la dentro do nosso negócio. Esta capacidade de inovar vai tornar o negócio mais competitivo e traduz-se em mais resultados do que o nosso concorrente.

Depois da ideia, vem o plano. Nunca subestimem a importância do plano pois as decisões mais importantes e que garantem o funcionamento da empresa são as decisões financeiras e processuais. Estas, por sua vez, não vivem sem plano. O empreendedor tem de ter capacidade de pensamento prévio e planeamento futuro. Todas as suas ideias devem ser acompanhadas de objectivos, planos de acção, processos.

A ideia e o plano só funcionam com uma equipa. Lembrem-se: ninguém trabalha sozinho. Rodeiem-se de pessoas em quem confiam, com quem partilham a paixão pelo negócio e definam responsabilidades e tarefas.

Durante muitos anos foi-nos contada uma mentira. Foi-nos dito para esperarmos pois viriam pessoas de fora e elas resolveriam os nossos problemas. Gostaria de vos dizer que isto não é verdade. As únicas pessoas que vão resolver os nossos problemas somos nós próprios. Portanto, o empreendedorismo começa em nós. Nós somos efectivamente o poder da mudança. Nós temos o poder de transformar a nossa sociedade. E isso, começar por termos auto-cofiança e por passarmos esses valores. Às novas gerações, aos nossos filhos. Nós, adultos, gestores, colegas de equipa, pais, temos o dever de ensinar que é bom falhar.

«Falhar é realmente positivo pois só na falha podemos reconhecer como melhorar e aperfeiçoar. Eu, enquanto gestores e empreendedora, sou o exemplo de que não podemos aprender e ter sucesso sem falhar. Em mais de 20 anos, tenho muitos mais projectos que fecharam do que aqueles que estão em funcionamento. Mas afirmo com a maior das certezas que todos os meus projectos que não evoluíram, contribuíram para que eu efectivamente conseguisse construir o que construí hoje».

(*) Esta mensagem é digna de registo e o seu conteúdo deveria ser ponderado por quem tem, nesta altura, o nosso destino nas mãos – João Lourenço. Se, eventualmente, o Presidente quiser “matar” o mensageiro para não tomar conhecimento do que diz a mensagem, comete um erro histórico e irreparável. Seja como for, o nome do mensageiro é… Isabel dos Santos.

Folha 8 com Lusa

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