Uma grávida ou um bebé morre a cada 11 segundos

Portugal continua a ter das mais baixas taxas de mortalidade de crianças até aos cinco anos, com três mortes em cada mil nascimentos em 2017, contra 12 em 1990. Angola reduziu a mortalidade infantil a um ritmo anual de 3,8% (passando de 126 mil mortes em 1990 para 94 mil em 2018) e a Guiné-Bissau 3,6% (com uma redução de 10 mil para 5 mil mortes durante este período), segundo estimativas da OMS e da UNICEF hoje divulgadas.

Os dados fazem parte das novas estimativas para a mortalidade infantil e materna do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e da Organização Mundial de Saúde (OMS) divulgadas hoje e que revelam que cada vez sobrevivem mais mulheres e recém-nascidos, mas ainda morrem no mundo uma grávida ou um recém-nascido a cada 11 segundos, a maioria por causas evitáveis.

Segundo o relatório Níveis e Tendências na Mortalidade Infantil 2018, Portugal registava, em 1990, 12 mortes de crianças menores de cinco, número que caiu para as três mortes em 2017, o que coloca Portugal entre os 30 países do mundo com melhores taxa de mortalidade neste indicador, num total de 172 países analisados.

O Japão e a Islândia são os países que apresentam a mais baixa taxa de mortalidade, com cinco crianças mortas antes dos cinco anos por mil nascimentos, seguidos da Finlândia, do Mónaco e da Suécia, com seis óbitos de menores de cinco anos por mil nascimentos.

Do lado oposto, encontram-se a Libéria com 174 mortes de menores de cinco anos por mil nascimentos, Moçambique (159) e Serra Leoa (155).

A taxa de mortalidade neonatal em Portugal também registou uma descida, passando de sete mortos por cada mil nados-vivos em 1990 para dois mortos por cada mil nados-vivos em 2017, número que coloca Portugal entre os melhores países do mundo neste indicador.

O Japão, a Estónia, Andorra, Islândia, Eslovénia, Singapura e San Marino são os países que apresentam o melhor resultado neste indicador com um morto por cada mil nados-vivos em oposição ao Paquistão com 44 mortos por cada mil nados-vivos.

Segundo o relatório, desde o ano 2000, a morte de crianças recém-nascidas desceu quase para metade, enquanto a das grávidas foi reduzida em mais de um terço, devido maioritariamente a melhoras no acesso a serviços de saúde de qualidade a preços acessíveis.

As estimativas revelam que 6,2 milhões crianças menores de 15 anos morreram em 2018 e mais de 290.000 mulheres morreram devido a complicações durante a gravidez e ou durante o parto em 2017.

Do total das crianças mortas, 5,3 milhões morreram nos primeiros cinco anos de vida, sendo que quase metade destas faleceram no primeiro mês de vida.

As mulheres e os bebés estão “mais vulneráveis” durante e imediatamente após o parto, estimando-se que 2,8 milhões de grávidas e recém-nascidos tenham morrido no mundo em 2018, ou seja uma morte em cada 11 cada segundos, a maioria por causas evitáveis, referem as novas estimativas.

“Em todo o mundo, o nascimento de uma criança é motivo de celebração. No entanto, a cada 11 segundos, o nascimento de uma criança é uma tragédia familiar”, comentou a directora executiva da UNICEF, Henrietta Fore.

A responsável da UNICEF salientou que “um par de mãos especializadas” pode fazer a diferença entre a vida e a morte, nomeadamente a ajudar as mães durante a gravidez e parto, água limpa, nutrição adequada ou vacinas básicas.

De acordo com o estudo, uma em cada 137 mulheres na África Subsaariana correm o risco de morrer, enquanto na Europa, a estatística indica uma em cada 6.500.

A África Subsaariuana e o Sudeste Asiático representam cerca de 80% das mortes de grávidas e de crianças.

Apesar de tudo, lê-se no documento, registaram-se “progressos substanciais” na redução da morte de mulheres grávidas, de recém-nascidos e de crianças até aos cinco anos.

Desde 1990, houve uma redução de 56% nas mortes de crianças menores de 15 anos, passando de 14,2 milhões para 6,2 milhões em 2018.

Os países do leste e sul da Ásia registaram os maiores avanços na questão, tendo reduzido quase 80% das mortes de crianças com menos de cinco anos.

De 2000 a 2017, realça o estudo, o rácio da mortalidade materna no mundo diminuiu 38%, contando com o sul asiático, onde a redução atingiu os 60%.

Timor-Leste, Bangladesh, Bielorrússia, Camboja, Cazaquistão, Maláui, Marrocos, Mongólia, Ruanda e Zâmbia são alguns dos países que mostraram “progressos substanciais” na redução da taxa de mortalidade materno-infantil.

Este sucesso, lê-se no estudo, deveu-se sobretudo a uma “vontade política” para melhorar o acesso aos serviços de saúde, com o investimento na área sanitária, introduzindo, entre outras, apoios gratuitos a grávidas e crianças com menos de cinco anos, bem como o desenvolvimento do planeamento familiar.

A nossa martirizada África

Moçambique reduziu a mortalidade infantil em dois terços nas últimas duas décadas, segundo as Nações Unidas, que destacam o país como dos que mais progressos alcançaram na África Subsaariana.

Segundo as novas estatísticas, entre 1990 e 2018, Moçambique registou uma taxa média anual de redução da mortalidade em crianças com menos de 5 anos de 4,3 por cento.

Em 1990, a probabilidade de uma criança morrer antes dos cinco anos era de 241 crianças em cada 1.000 em Moçambique, valor que passou para 79 por 1.000 em 2018. Em números absolutos, as mortes infantis caíram de 129 mil para 79 mil.

O relatório assinala que foram alcançados “grandes progressos” em muitos países, incluindo em “países de baixo rendimento” como a Eritreia, Etiópia, Libéria, Maláui, Moçambique, Nepal, Níger, Ruanda, Uganda e Tanzânia, que conseguiram “pelo menos” reduções de “dois terços” das suas taxas de mortalidade.

As Nações Unidas assinalam ainda conquistas destes países na redução da mortalidade neonatal (menos de 1 ano) durante o mesmo período, concluindo que estes dados demonstram que com “os compromissos certos, esforços concertados e vontade política, é possível alcançar objectivos ambiciosos”.

A generalidade dos países lusófonos fez progressos assinaláveis na redução da mortalidade infantil com as taxas médias de redução no período a variarem entre os 5,3% do Brasil e os 2,7% da Guiné Equatorial, país que regista a pior prestação entre os membros da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP).

Entre os lusófonos africanos, São Tomé e Príncipe registou a melhor taxa de redução da mortalidade infantil (4,4%) seguido de Cabo Verde (4,1%), com registos de mortes abaixo das 500 em 2018.

Angola reduziu a mortalidade infantil a um ritmo anual de 3,8% (passando de 126 mil mortes em 1990 para 94 mil em 2018) e a Guiné-Bissau a 3,6% (com uma redução de 10 mil para 5 mil mortes durante este período).

Um outro estudo, que analisa também os dados da mortalidade materna, assinala as grandes desigualdades entre regiões, apontando que as mulheres e crianças na África Subsaariana enfrentam riscos de morte “substancialmente maiores” do que em outras regiões do mundo.

As taxas de mortalidade materna são 50 vezes maiores para as mulheres africanas e os seus bebés têm 10 vezes mais probabilidades de não sobreviverem no primeiro ano de vida, quando comparadas com os países de alto rendimento, aponta o estudo.

Uma em cada 37 mulheres desta região correm o risco de morrer durante a gravidez ou o parto, quando comparado com uma em cada 6.500 europeias que enfrentam o mesmo risco.

Em 2018, 1 em cada 13 crianças na África Subsaariana morreu antes dos cinco anos, o que representa um risco 15 vezes superior ao que enfrentam as crianças na Europa, onde apenas 1 em cada 196 crianças tem probabilidade de morrer antes de atingir essa idade.

As regiões da África Subsaariana e do sul da Ásia, afectadas por conflitos e crises humanitárias e com sistemas de saúde fracos, registam cerca de 80% das mortes maternas e infantis.

As estimativas revelam ainda que 6,2 milhões de crianças com menos de 15 anos, 5,3 milhões das quais antes dos cinco anos, morreram em 2018 e 290 mil mulheres morreram de complicações durante a gravidez e o parto em 2017.

Folha 8 com Lusa

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