Talvez um dia acerte!

O Presidente da República, João Lourenço, exonerou hoje, quarta-feira, os ministros do Interior, da Agricultura, da Economia e Planeamento, Ângelo de Barros da Veiga Tavares, Marcos Alexandre Nhunga e Pedro Luís da Fonseca. Bem vistas as coisas é uma, mais uma, experiência de aprendizagem por tentativa e erro. Tem sido assim há 44 anos. Ainda não acertaram na sorte grande. Mas a culpa é desta porque é ela que não acerta nos números do Governo.

Em despacho tornado público, o Chefe de Estado exonerou, igualmente, o secretário de Estado para o Planeamento, Manuel Neto da Costa, os governadores de Cabinda, Eugénio Laborinho, e do Cuando Cubango, Pedro Mutinde, bem como o secretário do Presidente da República para os Assuntos Económicos, Alcino dos Prazeres Isata Francisco da Conceição.

Num outro despacho, o Titular do Poder Executivo nomeou Eugénio César Laborinho como ministro do Interior, António Francisco de Assis, no cargo de ministro da Agricultura e Florestas, Manuel Neto da Costa, para ministro da Economia e Planeamento.

Foram igualmente nomeados Marcos Alexandre Nhunga como governador da Província de Cabinda, Júlio Marcelino Vieira Bessa, governador da província do Cuando Cubango, Lopes Paulo, secretário para os Assuntos Económicos do Presidente da República.

O Presidente da República nomeou também Samahina de Sousa da Silva Saúde para secretário de Estado para o Planeamento e Jorge Francisco Silveira para o cargo de director-adjunto do Cerimonial do Presidente da República.

Tentativa e erro é um método de resolução de problemas em que várias tentativas são feitas para chegar a uma solução. O MPLA adoptou essa estratégia há 44 anos e lá vai procurando, sempre com claros benefícios próprios, encontrar a solução para a quadratura do seu círculo de incompetências.

É um método básico de aprendizagem que essencialmente todos os organismos usam para aprender novos comportamentos. Tentativa e erro é tentar um método, observar se ele funciona, e se não funcionar tentar um novo método. Este processo é repetido (exonera, nomeia, exonera, nomeia) até que o sucesso ou uma solução seja alcançada, o que parece estar ainda muito longe de Luanda.

Por exemplo, imaginemos que João Lourenço quer mover um objecto tão grande como um sofá no seu Palácio Presidencial. Primeiro tentou movê-lo pela porta da frente, mas ele não passou. Em seguida, experimentou pela porta de trás mas o resultado foi o mesmo. Foi então que resolveu culpar o marimbondo do anterior inquilino por lá ter posto o sofá. Como nada resultava, exonerou o mordomo angolano contratando para o seu lugar um arquitecto cubano. O sofá continuava impávido e sereno. Sucediam-se as tentativas e os erros.

O Presidente teima em não perguntar à zungueira lá da esquina o que pensa do assunto. Para ele, se os génios do MPLA não encontram uma solução, é porque não há solução. Tivesse a coragem e hombridade de falar com a zungueira e a solução estaria encontrada. Ela diria: não tentem passar o sofá na horizontal mas sim na vertical…

Edward Thorndike , um pesquisador que estudou a teoria da aprendizagem por tentativa e erro usando gatos, fez especialmente uma “caixa quebra-cabeças”, estudou como os gatos aprenderam a escapar da caixa e concluiu que era através de tentativa e erro. Esta foi uma mudança de visão a partir da teoria da aprendizagem que propunha que a resolução de problemas acontece num súbito lampejo de entendimento, em vez de através de tentativa e erro.

Exonerar rima com governar mas não é a mesma coisa

O Presidente João Lourenço, que tal como José Eduardo dos Santos não foi nominalmente eleito (foi-o como cabeça-de-lista do MPLA escolhido por Dos Santos) afastou centenas de governantes, administradores de empresas públicas e altas chefias militares, a um ritmo de uma exoneração a cada dois dias, valendo-lhe a alcunha popular de “exonerador implacável”. Também conseguir mostrar ao mundo que os protagonistas da corrupção, do branqueamento, da roubalheira são todos do MPLA, o seu partido.

O grande filão das exonerações envolve altas patentes das Forças Armadas Angolanas ou das forças de segurança, o que é natural porque ao longo dos últimos 44 anos, para além de criar muitos milionários e milhões de pobres, o MPLA formou uma catrefa de generais de alto gabarito, muitos dos quais têm de se descalçar se quiserem contar até12.

Em paralelo, desde que chegou ao poder, João Lourenço fez cerca de 500 nomeações, as quais, a par das exonerações, permitiram afastar do poder praticamente todos os que tinham sido nomeados, alguns poucos meses antes das eleições de Agosto de 2017, por José Eduardo dos Santos, chefe de Estado desde 1979.

“Exoneração é um acto de governação normal. É evidente que houve muitas exonerações, mas houve tantas quantas necessárias”, respondeu João Lourenço, em Janeiro de 2018, numa conferência de imprensa no palácio presidencial, em Luanda, a primeira iniciativa do género em mais de 40 anos.

A sua quase patológica ânsia de exonerar levou-o mesmo, em Dezembro de 2017, a exonerar uma pessoa que já tinha morrido há dois anos (o engenheiro José Pedro Tonet, falecido a 23 de Dezembro de 2015, na África do Sul, sendo na altura da sua morte administrador não executivo da ENANA EP).

Na altura, multiplicavam-se já os títulos nas redes sociais em Angola sobre João Lourenço, um general na reserva, vice-presidente do MPLA e ministro de José Eduardo dos Santos: “O exonerador implacável” angolano.

Somava pouco mais de três meses de governação, mas já tinha exonerado, em Novembro, Isabel dos Santos, a filha mais velha do ex-chefe de Estado, José Eduardo dos Santos, do cargo de Presidente do Conselho de Administração da petrolífera do regime, a Sonangol.

No mesmo mês, João Lourenço ordenou a retirada da gestão do segundo canal e do canal internacional da Televisão Pública de Angola (TPA) às empresas Semba Comunicação e Westside, de outros dois filhos do ex-chefe do Estado: Welwitshea ‘Tchizé’, também deputada e membro do comité central do MPLA, partido no poder desde 1975, e José Paulino dos Santos ‘Coreon Du’ que, além de empresário, é cantor.

Em Janeiro de 2018 é consumada a ruptura total com os filhos de José Eduardo dos Santos (seu patrono e proponente), avançando para a exoneração de José Filomeno dos Santos do Fundo Soberano de Angola, que gere activos públicos de 5.000 milhões de dólares.

“Eu não mexi em filhos do ex-Presidente, mexi em cidadãos angolanos. São cidadãos angolanos, estão sujeitos, tanto como os outros, às mesmas regras. Não foram exoneradas apenas duas pessoas”, responderia, quatro meses mais tarde, João Lourenço.

Artigos Relacionados

Leave a Comment