O comprometimento do Governo angolano na melhoria das condições de vida das famílias e o desenvolvimento do país, com prioridade às crianças, foi destacado, nesta quinta-feira, em Luanda, pela ministra de Estado para a Área Social, Carolina Cerqueira. Há 44 anos que o MPLA nos fala da prioridade às crianças. No entanto, elas continuam a ser geradas com fome, a nascer com fome e a morrer… com fome.
Falando na cerimónia de inauguração da Unidade de Cuidados Intensivos e Hemodiálise do Hospital David Bernardino, a governante referiu estarem criados os pressupostos fundamentais para que se possa dar uma assistência adequada aos pacientes com insuficiência renal. Foi uma viagem longa, caso se concretize de facto. 44 anos para criar os… pressupostos fundamentais.
“É um privilégio poder testemunhar este acto que marca o início da actividade da nova unidade de cuidados intensivos e hemodiálise. Com esta unidade, este hospital de referência ganha assim mais valências, que vão contribuir para melhorar a qualidade de vida das crianças, a segurança e a tranquilidade para as famílias”, disse a ministra, acrescentando que o trabalho desenvolvido pelo hospital nos domínios da saúde preventiva, curativa e de reabilitação das crianças com patologias de média e alta complexidade, por meio de uma política de investigação, formação permanente do pessoal, é baseado no uso de tecnologias adequadas.
“Situação que muito contribui para o desenvolvimento dos cuidados da saúde infantil e de assistência médica a nível do país, sendo esta instituição uma referência que deverá ser cada vez mais modernizada e potencializada técnica e humanamente”, reforçou Carolina Cerqueira.
A ministra referiu também que o grande número de crianças doentes admitidas por insuficiência renal, que eram anteriormente transferidas para o Hospital Josina Machel e Clínica Girassol, poderão contar com serviços especializados para a abordagem e tratamento destes casos.
Carolina Cerqueira apontou que a criação da enfermaria pediátrica de hemodiálise a nível nacional nos serviços de cuidados intensivos, com tecnologia moderna, é resultado do investimento crescente do Executivo no sector da saúde, particularmente no atendimento às crianças, que sofrem pela falta de condições assistenciais adequadas nesta especialidade.
A remodelação e apetrechamento em equipamentos de ponta, de alta complexidade desta unidade, adiantou, permite afirmar que será melhorada a assistência às crianças e evitar que sejam transferidas para outras unidades, usufruindo plenamente de uma unidade de referência nacional nos cuidados pediátricos.
Além dos investimentos em equipamentos e obras de melhoria, a ministra frisou ainda a capacitação dos profissionais das mais diversas categorias, visando um atendimento qualificado e sobretudo humanizado.
Ressaltou igualmente que a causa mais frequente de insuficiência renal aguda das crianças é a malária, pelo que recomenda a literacia dos pais e dos responsáveis, o uso de mosquiteiros impregnados com insecticidas.
Carolina Cerqueira apelou aos profissionais de saúde que irão prestar os seus serviços, que façam com amor e carinho redobrado, com espirito de partilha e entrega, para minimizar a dor das crianças, que representam o futuro da Nação e merecem toda atenção uma vez que, são a prioridade da governação, conforme estabelecido no Plano de Desenvolvimento Nacional (PDN), contextualizada na agenda do Executivo, que está comprometido em melhorar as condições da vida das famílias e em particular das crianças, que são o futuro do país.
Só em 2018, o Hospital Pediátrico David Bernardino atendeu 46 crianças com insuficiência renal, que receberam tratamento no Hospital Josina Machel e na Clínica Girassol.
De Janeiro a Julho de 2019, foram internadas, no mesmo hospital infantil, 40 crianças com lesão renal, em diversas especificidades. O serviço de hemodiálise naquela unidade hospitalar surge numa altura em que o país se prepara para iniciar serviços de transplante de tecidos, células e órgãos humanos.
Há um ano no Hospital Pediátrico David Bernardino
Crianças com malária e as doenças respiratórias agudas encheram em Abril de 2018 as consultas do Hospital Pediátrico David Bernardino, que registou uma média de atendimento diária de mais de 400 casos, com três a cinco óbitos.
A informação foi dada no dia 6 de Abril do ano passado pelo director daquela unidade hospitalar de referência da capital angolana, Francisco Domingos, no final de uma visita realizada por deputados da oitava Comissão de Família, Infância e Acção Social da Assembleia Nacional.
Francisco Domingos referiu que aumentou o número de pacientes na altura de chuvas, com casos de malária, mas também doenças respiratórias agudas.
“Nesta altura há uma média de atendimento entre as 300 e 400 crianças, das quais 50 a 60 são internadas. Isto reflecte que as restantes das crianças deveriam ser atendidas nos cuidados primários de saúde, isto é, a nível dos centros de saúde, dos hospitais municipais e só aquelas que tivessem complexidade é que deveriam ser referenciadas para o nosso hospital”, disse.
O responsável referiu que nessa altura chegaram a falecer, por dia, entre três a cinco crianças. Mais de 50 por cento destes casos morreram nas primeiras 48 horas após entrada no hospital.
“Isso significa que chegam num estado avançado ou grave da sua patologia”, disse Francisco Domingos, salientando que, apesar da procura, aquela unidade hospitalar possui um serviço eficiente de triagem e atendimento das crianças que têm situação de urgência e de emergência.
“Nós fazemos o esforço de pôr uma equipa que faz a consulta de urgência, que não é o nosso foco, nós somos um hospital terciário, escola, deveríamos receber referenciadas daqueles níveis, mas as crianças vêm directamente para nós e claro que arranjamos uma metodologia e procedimento para atendê-las, não dizemos para regressarem para suas casas”, salientou.
Segundo Francisco Domingos, “é muito desconfortável dizer a um pai que vem de Viana, Cacuaco ou Ramiros, que tem que regressar para a sua casa, então são essas [as crianças] que esperam, se não estiverem graves”.
O hospital tinha na altura uma equipa constituída por 88 médicos e 334 enfermeiros, que correspondiam apenas a dois terços das necessidades.
“De médicos até não temos grandes deficiências, temos mais a nível dos enfermeiros, que é a base do atendimento na saúde, o que está próximo do doente e a nível dos enfermeiros, nós temos dois terços das necessidades”, disse.
Além da malária, doenças respiratórias agudas, o corpo de médicos vê-se a braços para atender casos de infecção do recém-nascido, malnutrição e algumas doenças que poderiam ser prevenidas por vacinação, nomeadamente o tétano, meningite e tétano neonatal.
Em declarações à imprensa, a vice-presidente da oitava comissão da Assembleia Nacional, Ruth Mendes, disse que a visita permitiu concluir-se que o hospital pediátrico ainda apresenta algumas dificuldades, limitações que têm a ver com a falta de meios e medicamentos. No entanto, é grande o esforço que o quadro clínico e os trabalhadores fazem para toda a criança que se dirige àquele hospital não saia sem atendimento, acrescentou.
“Isso para nós é muito importante, considero que a equipa de trabalhadores desde médicos, enfermeiros, técnicos de diagnóstico e de base são de facto uns verdadeiros heróis por aquilo que nós podemos ver do trabalho que conseguem fazer, tendo em conta o número de pacientes que acorre a esta unidade hospitalar”, sustentou.
Março de 2016. Encontrem-se as diferenças…
A directora clínica do Hospital Pediátrico de Luanda David Bernardino classificou no dia 16 de Março de 2016 como preocupante a situação naquela unidade sanitária, que estava a observar uma média diária de mais de 500 crianças e mais de 100 internamentos.
Elsa Gomes disse que na altura tinha aumentado a afluência de pacientes àquela unidade hospitalar, devido a várias doenças, maioritariamente malária, acompanhada de anemia severa, que está a causar uma média por dia de 15 óbitos.
“Não sabemos bem o que é que se passa na rede periférica, nós em média observamos uma média de 500 e tal crianças por dia e estamos a internar mais de 100. O que nos dizem é que já foram a vários hospitais e que não encontraram médicos e por isso vêm a esta instituição, não sei qual é a veracidade da situação, mas a verdade é que nós temos uma quantidade muito grande de pacientes”, disse Elsa Gomes.
Segundo a responsável, o hospital tinha também um número exíguo de enfermeiros para atender à procura.
“Nós temos um número muito limitado de enfermeiros, isso é de conhecimento de toda a gente que já há uns anos que não há concurso público, saíram principalmente enfermeiros por transferência, porque chegou a altura das pessoas pedirem aposentadoria e nós temos um número muito exíguo de enfermeiros e daí a grande dificuldade que nós temos em atender todos os doentes que nos chegam”, salientou a médica.
Elsa Gomes sublinhou que para a alteração do actual quadro, só uma melhoria na rede do saneamento básico poderá fazer mudar as estatísticas daquela unidade sanitária.
Também em declarações à imprensa no mesmo dia, o presidente da Associação de pediatria de Angola, César Freitas, admitiu que são “elevadíssimos” os números de crianças doentes e de óbitos em todo o país.
“É uma situação que é difícil de gerir neste momento, temos muitas crianças, muitos óbitos, na realidade estas situações são previsíveis. Todos os anos, no princípio do ano, já sabemos que isso vai acontecer, porque é cíclico, é preciso que as autoridades possam ver, que os profissionais possam sentar, para ver e analisar o que se está a passar, porque mesmo nos anos anteriores é um período de muitos óbitos, mas este ano é demais”, disse o médico.
O Ministério da Saúde reconheceu que a situação era preocupante e estava a tomar medidas para alterar o quadro, tendo já cedido ao hospital pelo menos mais 30 camas, material descartável e medicamentos.
A situação é bem antiga, quase tão antiga como a negligência do regime.
Legenda: A ministra de Estado para a Área Social, Carolina Cerqueira inaugura Unidade de Cuidados Intensivos e Hemodiálise do Hospital David Bernardino
Folha 8 com Angop