O governo angolano vai lançar, relançar, prometer lançar, garantir lançar, em breve um concurso público internacional para a construção de uma nova refinaria de petróleo no município do Soyo, província do Zaire. O pré-anúncio do ministério dos Recursos Minerais e Petróleos (MIREMPET) refere que o concurso será lançado “no decurso do ano corrente”.
O MIREMPET comunicará “em breve” o calendário para apresentação do projecto e a data de lançamento do concurso, incluindo o programa e o caderno de encargos, adianta o documento.
A nova refinaria de petróleo do Soyo terá uma capacidade de processamento até 100 mil barris de petróleo bruto por dia, segundo uma fonte oficial.
Com a construção de três novas refinarias (Soyo, Cabinda e Lobito ) e a requalificação da instalação de Luanda, que data dos anos 60, para poder triplicar a produção de gasolina, Angola terá capacidade para cobrir a procura interna anual e dos próximos dez a 20 anos, adiantou a mesma fonte.
A construção da refinaria de Cabinda, que deverá ter uma capacidade diária de produção de 60 mil barris de petróleo bruto, foi adjudicada ao consórcio United Shine, com 90% do capital social, em parceria com a Sonangol Refinação – Sonaref (10%).
A refinaria do Lobito, na província de Benguela, num investimento inicial de 10.000 milhões de dólares (8.700 milhões de euros), prevê o processamento diário de cerca de 200 mil barris de crude, criando 10 mil postos de trabalho directos e indirectos.
Façamos, entretanto, um ligeiro exercício de memória para recordarmos a incomensurável lata desta rapaziada. Estávamos a 8 de Julho de 2015. Um consórcio de empresas angolanas e chinesas anuncia em Luanda que ia investir 12,4 mil milhões de euros na construção, a partir de Agosto, de uma refinaria na província do Bengo.
A refinaria, denominada “Prince de Kinkakala”, seria instalada no município do Ambriz e teria capacidade de refinação de 400 mil barris de derivados de petróleo por dia, integrando o consórcio a empresa estatal angolana Sonangol, com uma quota de 40%.
Os restantes 60% do capital social do consórcio promotor eram detidos pela empresa privada angolana do sector petrolífero GPM Internacional Services e por um grupo de empresas chinesas.
De acordo com informação daquela empresa angolana, a construção da refinaria, avaliada em 1,7 biliões de kwanzas (12,4 mil milhões de euros) arrancava a 28 de Agosto, com o lançamento da primeira pedra, e deveria estar concluída no prazo de cinco anos, devendo mobilizar nesta fase 24.000 trabalhadores.
Previa ainda a construção de uma central eléctrica com capacidade para produção de 200 megawatts, uma cidade universitária e um complexo hospitalar de referência, gerando 12.000 postos de trabalho directos.
Este empreendimento obrigaria ainda a deslocar as populações de duas comunidades do município do Ambriz para complexos habitacionais com um total de 1.000 fogos.
Tratava-se da terceira refinaria em construção em Angola – além da única em funcionamento no país, em Luanda, insuficiente para as necessidades nacionais -, que se junta às do Soyo e à do Lobito.
As três novas refinarias angolanas envolvem empresas chinesas e a sua construção permitirá eliminar a necessidade de importação de combustíveis refinados.
É por estas e por outras que, cá no Folha 8, continuamos a cometer o crime contra a segurança do Estado que se chama: Pensar. E, neste caso, pensamos que a colonização chinesa continua a somar pontos.
Um exemplo. Nesse mesmo dia de Julho de 2015, escrevemos: «A Câmara de Comércio Chinesa em Angola, no âmbito da sua estratégia siamesa de unir ou assimilar mais um país irmão, mesmo que à revelia dos seus habitantes, criou em Luanda algo que fazia falta como pão para a boca dos sessenta e tal por cento de angolanos que passam fome: um centro de serviços para assistência legal e apoio logístico às cada vez mais empresas e cidadãos chineses estabelecidos no nosso país. Uma espécie de filial neo-colonial.
“Actualmente há pelo menos 500 empresas chinesas a operar em Angola e mais de 100 mil expatriados chineses que trabalham em projectos de reconstrução do pós-guerra, dando um notável contributo para o desenvolvimento socio-económico do país africano”, afirma a agência noticiosa Nova China. 100 mil? Os chineses não são, nesta matéria, grade coisa. Facturam por cima e pagam por baixo.
A criação do centro de serviços é justificada, como se isso fosse necessário perante a constatação diária de todos nós, pelos “imensos desafios e dificuldades” resultantes da falta de conhecimento da legislação angolana e das “diferenças culturais” entre os dois países, segundo o secretário-geral da Câmara de Comércio, Zhao Hongbing.
Em matéria de “diferenças culturais”, pelo andar da carruagem “made in China” tudo leva a crer que não tardará muito e os angolanos já estarão assimilados e prontos a ombrear com os seus camaradas da pátria de Mao Tsé-Tung, bem como a ler “O Livro Vermelho” na versão em mplaês.
A nova estrutura, que cooperará com a Embaixada da China em Luanda, ajuda as empresas e cidadãos chineses na obtenção e renovação de vistos, registo de negócios e arbitragem em disputas comerciais. Por outras palavras, vai ajudar a acelerar a colonização chinesa, tal como é desejo de Pequim e perante a permissividade do nosso regime, parte dele formatado pelos mesmos ideais chineses.
“Vai ainda, entre outros aspectos, garantir assistência aos expatriados chineses com dificuldades financeiras”, acrescenta a organização. De facto, o proletariado chinês também precisa de ajuda, sabido que é que funciona como carne para canhão dos grandes interesses do capitalismo comunista chinês.
Angola, assinala a agência noticiosa Nova China, “expulsa anualmente milhares de imigrantes ilegais, na sua maioria provenientes dos países vizinhos e que vêm à procura de oportunidades de emprego”. É verdade. Mas, convenhamos, os chineses não vêm à procura de emprego, pelo contrário. Tiram é o emprego que deveria ser dos nossos cidadãos, mas essa é também uma história conhecida que não tira o sono às autoridades angolanas.
Os dois países estabeleceram em 2010 uma parceria estratégica, que começou na passagem à prática do princípio “oil for money” (petróleo por dinheiro), em que às linhas de crédito chinesas correspondem as exportações de petróleo angolano. Um bom negócio para as duas partes, diz o governo. Mau, afirmam os autóctones que, contudo, nada contam para as contas do regime.
Por alguma razão a China é actualmente, e assim continuará por muitos anos, destino de cerca de metade das exportações de crude angolano.
Os efeitos desta parceria estratégica são evidenciados pelo enorme crescimento das trocas comerciais bilaterais, que aumentaram mais de dois mil por cento entre 2002 e 2012, tornando Angola no segundo país lusófono com relações comerciais mais intensas com a China.
A China concedeu a Angola, com o fim da guerra civil em 2002, apoio financeiro para a reconstrução do país, destruído por um conflito fratricida de cerca de quatro décadas, compensando assim a falhada intenção do Governo angolano de realizar uma conferência internacional de doadores.
Inicialmente baseada em empréstimos monetários, pagos com o petróleo angolano, a cooperação bilateral entre os dois países ficou rapidamente marcada pela presença em Angola de várias empresas chinesas, a investirem nos projectos de reconstrução e de desenvolvimento, sobretudo no sector da construção de edifícios, estradas, pontes, escolas, instalação de fábricas e em outros sectores sociais e económicos.
Apesar do número avançado pela China relativamente a cidadãos chineses ser apenas de 100 mil, as autoridades estimam que residam em Angola, na realidade, cerca de 260 mil chineses, maioritariamente trabalhadores de empresas chinesas da construção civil.»
Instituto geológico deve fazer mais e melhor
Entretanto o ministro dos Recursos Naturais e do Petróleo, Diamantino Pedro Azevedo, disse hoje que a economia “necessita de um contributo maior do sector geológico e da actividade mineira”, apelando ao “maior dinamismo” do Instituto Geológico de Angola (IGEO).
O ministro, que deu hoje posse ao novo conselho de administração do IGEO constituído por Canga Xiaquivuila (presidente do Conselho de Administração) e os administradores José Manuel e Elizabeth Cristina Gomes Botelho de Carvalho destacou que “a nova faceta” do instituto pretende dar seguimento à legislação em vigor e permitir “maior dinamismo”
“O momento da nossa economia necessita do contributo ainda maior do sector geológico e da actividade mineira e, devido ao grau ainda incipiente da geologia do nosso país, cabe ao IGEO uma tarefa árdua de contribuir para a melhoria desse conhecimento geológico”, realçou o governante.
Entre as principais tarefas que o IGEO tem pela frente, o ministrou apontou a conclusão do Plano Nacional de Geologia “que necessita de um impulso maior “para que o país possa começar a beneficiar dos investimentos que fez neste plano, bem como dinamizar outras actividades.
Ao IGEO está atribuída “a investigação geológica para vários fins, não só para a promoção da actividade mineira, mas também para todas as outras acções governativas que necessitam do conhecimento geológico”, acrescentou.
Diamantino Pedro Azevedo instou ainda o IGEO a colaborar e pedir apoio de outras instituições como a Agência Nacional dos Petróleos, a ENDIAMA (companhia de diamantes) e a Sonangol, bem como congéneres internacionais , sublinhando que a relevância da instituição será medida em função dos resultados e “contributo para a resolução dos problemas do país”.
Folha 8 com Lusa