O Presidente angolano, João Lourenço, pediu hoje ao novo governador de Luanda, Sérgio Luther Rescova, que “não tenha medo de enfrentar o desafio” de governar a capital, afirmando que as províncias “devem estar mais fortes” com vista à implementação das autarquias.
“O desafio é grande, mas não tenha medo de enfrentar esse desafio, estamos aqui todos para ajudá-lo, a si e a outros governadores. Portanto gostaria de dizer que confiamos nas personalidades que acabamos de nomear e empossar”, disse hoje João Lourenço.
O chefe de Estado angolano falava no Palácio Presidencial, em Luanda, durante a cerimónia de tomada de posse dos novos governadores de Luanda, Sérgio Luther Rescova, do Cuanza Sul, Job Castelo Capapinha, e do Cuanza Norte, Adriano Mendes de Carvalho.
Dirigindo-se aos empossados, João Lourenço assinalou que as províncias são importantes, até porque o país está a preparar a realização das primeiras eleições autárquicas no país, previstas para quando o MPLA tiver a certeza de que as vai ganhar, talvez em 2020, tendo destacado a capital, província com sete milhões de habitantes.
“Sem desprimor pelas outras, queremos destacar Luanda, pelas razões óbvias, é a capital do país, é a maior urbe do país”, acrescentou.
Sérgio Luther Rescova é o líder (primeiro secretário nacional) da Juventude do Movimento Popular de Libertação de Angola (JMPLA), partido no poder desde 1975.
Na ocasião, o novo governador da província angolana do Cuanza Sul, Job Castelo Capapinha, que substitui no cargo Eusébio de Brito Teixeira, assumiu, em declarações aos jornalistas, que pretende fazer uma governação participativa.
Adriano Mendes de Carvalho, que até quarta-feira liderou Luanda, assumiu o cargo de governador da província do Cuanza Norte e garantiu “trabalho para resolução dos problemas sociais” dos habitantes e para “levar a província a um ponto mais alto”.
Nesta cerimónia, João Lourenço empossou igualmente os novos ministros das Pescas e do Mar, Maria Antonieta Batista, da Acção Social, Família e Promoção da Mulher, Faustina Fernandes de Almeida e o novo secretário de Estado da Agricultura e Pecuária, José Carlos Lopes Bettencourt.
Foram ainda empossados hoje os novos membros do Conselho da República, nomeadamente a reverenda Suzete João, e o empresário Carlos Cunha, bem como a vice-presidente do MPLA, Luísa Damião.
De sipaio a chefe do posto
Recorde-se, em abono da paradigmática escolha de João Lourenço, o nível pós-doutorado de Sérgio Luther Rescova, bem visível quando em Novembro de 2014, por exemplo, destacou na cidade do Cuito, os emblemáticos ideais do Presidente da República, José Eduardo dos Santos, na edificação de uma Angola nova e justa para todos. Trata-se, portanto, de um servidor sempre ao dispor de quem estiver no Poder, o que – aliás – é uma das características básicas do ADN dos militantes do MPLA.
Falando após apresentação da peça teatral de exaltação da figura do Presidente da República (José Eduardo dos Santos), realizado sob o lema: Angola “um país da paz, democracia, fraternidade e tolerância” promovido pelo Movimento Nacional Espontâneo, Sérgio Luther Rescova sublinhou que o então Presidente da República (na altura seu patrono e patrão) trabalhava para a consolidação do bem-estar para todos os angolanos, preocupação que o levou a trazer a paz efectiva para Angola, no dia 4 de Abril de 2002.
Consta que já nessa altura João Lourenço viu no rapaz um futuro governador ou até mesmo ministro, percebendo que Rescova era uma espécie de político roscofe pronto a fazer tudo o que o Presidente mandar. Tinha razão. Não há melhor em matéria de bajulação. Ele faz tudo o que o Presidente, seja ele quem for, mandar. Não é defeito. O rapaz é fruto integral do MPLA e, por isso, aprendeu a pensar apenas, só e o mesmo o que o patrão pensa. Foi isso que fez com José Eduardo dos Santos, é isso que fará com João Lourenço.
Com a paz conquistada por Eduardo dos Santos, segundo o Rescova, abriram-se os caminhos para a reconstrução e construção do país, rumo ao desenvolvimento para uma nova Angola, “onde a justiça e a democracia são os principais pilar para a edificação do país”.
Reiterou ainda que, de Cabinda ao Cunene, são visíveis a realidade do progresso social nas famílias, uma vez que o governo liderado por José Eduardo dos Santos colocou à disposição os serviços essenciais aos angolanos, de modo a que vivam melhor. Agora basta-lhe dizer a mesma coisa, apenas substituindo os nomes dos protagonistas.
Relembrou por outro lado, passados na altura 12 anos de paz, que o Presidente Eduardo dos Santos continuava apostado na construção de hospitais modernos, mais abrangência a educação outras infra-estruturas que estão a garantir o desenvolvimento socioeconómico no país.
Para tal, Sérgio Luther Rescova destacou a necessidade do reforço da unidade e reconciliação nacional por forma a se manter a estabilidade e segurança no país, mormente através da promoção do perdão e concórdia.
Considerou ainda o Presidente de Angola, José Eduardo dos Santos, um exemplo na segurança de África, facto que acrescentou vários líderes africanos solicitam a experiência de Angola, quando a resolução de conflitos.
Num texto publicado no Folha 8 no dia 2 de Novembro de 2014, afirmámos ser certo que, com tantos panegíricos de culto ao “querido líder”, o “escolhido de Deus” não iria ser salvo pelas críticas mas assassinado pelos elogios, acrescentando que, tal como Mubarak, Saddam, Kadafi ou Compaoré, Eduardo dos Santos iria ver um dia todos estes bajuladores darem o dito por não dito.
Tínhamos razão. Assim aconteceu. João Lourenço é Presidente, Sérgio Luther Rescova passou José Eduardo dos Santos de bestial para besta. Não é novidade. Na JMPLA, como no próprio MPLA, a lei é essa. E com João Lourenço não vai ser diferente.
O número de lançamento da revista “Juventude”, órgão do secretariado nacional da JMPLA, homenageou José Eduardo dos Santos. Sérgio Luther Rescova disse que a homenagem se justifica pelo que o então Presidente “tem feito pela melhoria das condições de vida dos angolanos e pelo desenvolvimento do país”.
Que a maior parte dos supostos quadros superiores do regime são, afinal, quadros inferiores, todos sabemos. Tal como sabemos que são esses que o MPLA continua a chamar para funções públicas. E chama porque, sabendo eles que nada sabem, se prestam a todos os fretes e fazem da fidelidade canina e do culto ao chefe o seu principal doutoramento.
Folha 8 com Lusa