UNITA pediu hoje o fim do sigilo nas negociações entre o Governo o FMI. Falar quando deve estar calada e estar calada quando deve falar é a grande estratégia do Galo Negro desde que Jonas Savimbi foi assassinado. E, pelos vistos, assim vai continuar “ad aeternum”.
Provavelmente por ainda acreditar no Pai Natal, o líder da UNITA, maior partido da oposição que o MPLA permite que exista em Angola, manifestou no dia 22 de Dezembro de 2017 disponibilidade do seu partido para uma concertação directa com o MPLA, força política no poder em Angola desde 1975, e o Estado, para a concretização da reconciliação nacional.
Isaías Samakuva, que discursava na cerimónia de cumprimentos de fim de ano, considerou o actual (2017) momento político de Angola uma “oportunidade para os angolanos encontrarem novos caminhos e abordagens para a concretização da reconciliação nacional”.
Para o presidente da UNITA, os princípios orientadores do diálogo poderão incluir o reconhecimento de que são todos culpados, responsáveis e vítimas do passado, que uma guerra civil não tem vencidos nem vencedores e que a história política de Angola deve ser escrita no espírito da reconciliação nacional e da construção da nação.
Na sua proposta, Isaías Samakuva apresentou como pontos a incluir na agenda deste “amplo e decisivo diálogo nacional”, a afirmação da vontade política do Estado para encerrar a era da partidarização do Estado, o fim do período da utilização dos cargos públicos para enriquecimento ilícito, a abordagem da “questão mal resolvida da desmobilização dos ex-militares, antigos combatentes e veteranos da pátria, entre outras questões”.
“Pela complexidade que a reconciliação nacional encerra em Angola, o modelo a seguir e os conteúdos devem revisitar as fórmulas ancestrais, as experiências contemporâneas de vários países que experimentaram o fratricídio e contextualizá-las de forma a criar-se espaço político, económico, social e cultural, onde seja possível viver a verdade, o perdão, a justiça, o reconhecimento e a aceitação recíproca”, referiu.
O dirigente da UNITA considerou que o início de 2018 constituía uma oportunidade ímpar para os angolanos começarem “a partir os muros altos da partidarização do Estado” e darem início à construção dos fundamentos “para a construção de nação, inclusiva, solidária e verdadeiramente reconciliada”.
“Façamos de 2018, o ano da despartidarização do Estado e da reconciliação nacional”, exortou Isaías Samakuva, que continuaria à frente dos destinos do partido até 2019, correspondendo (supostamente) ao desejo dos militantes, apesar de ter manifestado este ano vontade de deixar o cargo.
É mais um exemplo de que a UNITA vive num país que não existe e acredita, eventualmente, que o Pai Natal é angolano. Se é… é do MPLA. Ingenuamente, Isaías Samakuva passa desde sempre a mensagem de que Angola é aquilo que não é: uma democracia e um Estado de Direito.
Num outro Natal (e o Natal é sempre que um homem quiser), Isaías Samakuva defendeu que era “tempo de os angolanos reflectirem sobre a sua história recente”, para dela tirar lições e fazer com que “a paz reine efectivamente em Angola, num ambiente de perfeita harmonia”.
“Os acordos de paz para Angola devem fazer-nos lembrar que pertencemos todos à mesma família e não devemos repetir os mesmos erros do passado”, destacou Samakuva num desses outros natais. Esqueceu-se, o que também é natural, que “pertencemos todos à mesma família”… embora uns pertençam mais do que outros.
Recordemos, por ser verdade e antes que o MPLA os reescreva, os Acordos de Paz de Bicesse, também conhecidos por Acordos de Paz para Angola, que resultaram do primeiro acordo de Paz em Angola, em 1991, entre a UNITA e o MPLA/Governo, no Alto Kauango, e em que os principais protagonistas foram Higino Carneiro, Ben Ben e William Tonet.
Em Janeiro de 1975, foi assinado em Portugal, o Acordo do Alvor, entre o Governo Português e os três Movimentos de Libertação de Angola, FNLA, MPLA e UNITA, que deveria conduzir pacificamente a então colónia de Angola à independência e à consequente democracia multipartidária.
Volvidos apenas três meses, esse Acordo foi ignorado por uma das partes (o MPLA), que no seu propósito de instaurar em Angola um regime decalcado das ditaduras comunistas em voga na Europa de Leste, deu início a uma violenta guerra civil, com forte intervenção estrangeira, quando ainda o nosso País se encontrava sob a tutela colonizadora de Portugal.
Volvidos dezasseis anos de luta armada e como corolário dos esforços da comunidade internacional para se encontrar uma saída pacífica para o conflito, surgiu nova oportunidade para a paz em Angola, primeiro entre os angolanos beligerantes (Alto Kauango ) e depois através dos Acordos de Bicesse (Portugal).
Para a História, fica o facto de que os Acordos de Paz para Angola incluem importantes anexos como os Princípios Fundamentais para o Estabelecimento da Paz em Angola (que engloba o documento relativo à Comissão Militar Mista), os Conceitos para a Resolução de Questões Pendentes entre o Governo da República Popular de Angola e a UNITA e o Protocolo do Estoril.
Estes Acordos de Paz foram assinados pelo Presidente da República Popular de Angola, José Eduardo dos Santos e pelo Presidente da União Nacional para a Independência Total de Angola, Jonas Malheiro Savimbi, a 31 de Maio de 1991, em Lisboa, Portugal.
Após as eleições de 1992, o regresso às armas levou os angolanos a complementar os Acordos de Paz para Angola com o Protocolo de Lusaka e com o Memorando de Entendimento do Luena.
Hoje é tempo de os angolanos reflectirem sobre a sua História recente para que a partir dela consigam tirar lições que façam com que a paz reine efectivamente em Angola num ambiente de perfeita harmonia.