O Bureau Político do MPLA recomendou ao Comité Central do MPLA para que, na sua próxima sessão ordinária, aprazada para finais de Novembro, faça uma análise exaustiva sobre a situação da seca no sul de Angola. Importa, presume-se, saber se a seca significa falta de água, se por acaso não será antes ceca (terra distante e indeterminada), se não será obra de marimbondos ou sabotagem colonial, talvez até mesmo uma malandrice de Jonas Savimbi.
Sob a orientação de Lourenço, Presidente do MPLA (mas que se diz presidente de todos os angolanos), o Bureau Político realizou, na sede nacional, em Luanda, a sua 3ª Reunião Ordinária que analisou, essencialmente, questões ligadas à dinâmica da vida interna do partido.
O Comité Central, ao qual foi incumbida tal missão, é o órgão deliberativo máximo do MPLA no intervalo dos congressos, que estabelece a linha de orientação política do Partido (e, concomitantemente do Governo), no quadro das decisões do Congresso.
No âmbito do seu slogan de “melhorar o que está bem e corrigir o que está mal”, o MPLA “anuiu sobre a suspensão da filiação e interrupção do mandato da camarada Victória da Silva Izata, como membro do Comité Central do MPLA”, por ela sido designada… juíza-conselheira do Tribunal Constitucional.
Recorde-se que, segundo o MPLA, “o Programa de Governo, que mereceu, há dois anos, a aprovação da grande maioria dos eleitores nas urnas, tem vindo a ser implementado com resultados positivos”.
Falando para o umbigo, o MPLA considera que “para a mais fácil implementação desse programa, tem sido importante a colaboração construtiva de sectores públicos e privados e da sociedade civil angolana, que voltaram a acreditar que, através dele, os seus direitos e interesses podem ser defendidos e salvaguardados”.
“Estamos a implementar um conjunto de medidas que se inscrevem num plano do Executivo sobre o desenvolvimento de Angola, que assenta em alguns eixos fundamentais, como o desenvolvimento económico sustentável, a boa governação, a integração regional e internacional, o desenvolvimento das infra-estruturas”, afirmou o presidente do MPLA, explicando que “para a sua concretização, torna-se necessário atrair investimento estrangeiro para a nossa economia, a fim de a diversificar, aumentar a nossa produção interna e assegurar assim o aumento das exportações de bens diversos”.
O presidente do partido que institucionalizou a corrupção, afirma também que o “Governo angolano está a tomar medidas enérgicas para combater e inibir a corrupção, para que Angola melhore as suas práticas de governação, no âmbito das normas que vigoram nos Estados democráticos e de direito”.
Diz o líder do MPLA, que por mera coincidência democrática é também Presidente da República e Titular do Poder Executivo, que “está também a trabalhar para implementar novas medidas de combate à lavagem de dinheiro e para recuperar activos, que foram transferidos ilegalmente para países estrangeiros”.
Angola (ou República do MPLA, ou República Agostinho Neto) é, por exemplo, dos nove Estados lusófonos o país com pior cobertura de serviços básicos de Saúde, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) e o Banco Mundial (BM). Será possível? Independente há quase 44 anos, tendo no governo sempre o mesmo partido (o MPLA), estando há 17 anos em paz total, sendo um país rico… algo vai mal (muito mal) no reino.
Será então caso para dar os parabéns a este partido, nomeadamente a Agostinho Neto, José Eduardo dos Santos e João Lourenço, que apesar de ter chegado ao cargo que ocupa há apenas dois anos, fez durante anos, muitos anos, parte da estrutura dirigente do MPLA e do Governo, sendo por isso conivente activo (se foi passivo trata-se de uma cobardia) no desastre deste país. País que, aliás, é líder noutros “rankings”, casos da corrupção e da mortalidade infantil.
Nos serviços básicos, o país do MPLA tem uma taxa de cobertura de apenas 36%. De entre as nações lusófonas, seguem-se a Guiné-Bissau, com 39%, Moçambique (42%), Timor-Leste (47%), São Tomé e Príncipe (54%), Cabo Verde (62%) e Brasil (77%). Portugal é o país lusófono com melhor resultado, tendo mais de 80% da sua população coberta.
Segundo um relatório intitulado “Tracking Universal Health Coverage: 2017 Global Monitoring Report`”, pelo menos metade da população mundial não tem acesso a cuidados essenciais de Saúde. Pois é, justifica o MPLA. Em muitos países que enfermam do mesmo mal os governos não são do MPLA. Tem razão. Mas, reconheçamos, é um triste consolo.
No acesso a água potável canalizada, Cabo Verde surge em terceiro lugar entre os lusófonos (subiu de 78% em 2000 para 86% em 2015), à frente de São Tomé e Príncipe (de 67% para 80% no mesmo período), Timor-Leste (não havia dados disponíveis em 2000, mas em 2015 tinha 70%), Guiné-Bissau (de 53% para 69%) e Moçambique (de 22% para 47%). No mesmo período, Angola subiu de 38% para 41%, enquanto o Brasil passou dos 94% para 97% e Portugal de 99% para 100%.
Com cerca de 30 milhões de habitantes, Angola tem cerca de 20 milhões de pobres. O MPLA não conseguiu gerar riqueza, mas conseguiu gerar ricos. O clã monárquico do partido, na versão mais alargada (acólitos e similares), é o que mais ricos tem por metro quadrado. Ao lado, o país é o que mais pobres tem, também por metro quadrado.
No caso, da corrupção, no seio do MPLA não existe a equipa dos maus corruptos e dos bons corruptos, têm todos o mesmo carimbo, logo, não existem virgens inocentes, nem ídolos impolutos.