Cada vez mais íntimos

A Coreia do Sul e Angola são “amigos íntimos” que irão caminhar juntos para um futuro melhor, afirmou, em Luanda, o embaixador do gigante asiático, ChangSik-Kim, durante as comemorações do Dia da Fundação Nacional, que hoje se assinala.

Segundo o diplomata, para que haja mais aproximação e entendimento entre os dois povos, prevê-se a diversificação dos programas de formação e educação, acrescentando que no seu consulado pretende aumentar o número de turistas sul-coreanos em Angola para conhecer as nossas belezas naturais.

O embaixador destacou como paisagens ‘sedutoras’ as sete maravilhas de Angola, com especial atenção para a Serra da Leba, e reafirmou que o intercâmbio cultural continua, tendo para isso lembrado que em Junho foi exibido, em Seul, o filme “Njinga, Rainha de Angola”, e, no final de Outubro, Luanda será palco do Festival do Cinema Coreano.

ChangSik-Kim acredita que esse intercâmbio ampliado entre os dois países irá promover mais investimentos de empresas coreanas em Angola, o que poderá proporcionar a expansão no campo social, cultural, artístico e desportivo.

É sua ambição fortalecer uma parceria duradoura e agradeceu as entidades que contribuíram para o desenvolvimento das relações diplomáticas entre as duas nações, considerando “Angola bom amigo e importante parceiro em África e que tem construído um relacionamento benéfico” com o seu país desde 1992.

Reconheceu que, devido à distância geográfica entre os dois países, não tem havido um intercâmbio suficiente, mas disse que “há ventos a soprarem no horizonte”, fruto das últimas movimentações recíprocas de membros da assembleia nacional e empresários.

A título de exemplo, em Agosto, a selecção angolana de basquetebol sénior masculina disputou um torneio com a similar local e há duas semanas uma delegação da diplomacia participativa Coreia-África, composta por 20 cidadãos comuns, visitou Angola no âmbito da Bienal de Luanda.

Angola e a Coreia do Sul cooperam nos domínios da indústria, pescas, agricultura, educação, ensino, formação profissional e diplomático.

Este país asiático abriu a sua embaixada em Angola em 2007, depois do estabelecimento de relações diplomáticas em 1992 e está entre as dez maiores economias do mundo.

Em Abril último, foi anunciado em Luanda que um acordo sobre promoção e protecção recíproca de investimento entre o Estado angolano e sul-coreano está na forja, numa iniciativa que poderá impulsionar o volume de negócios entre os dois países para cima dos actuais 200 milhões de dólares.

O Dia da Fundação Nacional na Coreia significa “o dia em que o Céu se abriu”. A Coreia foi estabelecida com o espírito nacional de Hongik Ingan, equivalente a “beneficiar amplamente a humanidade”, razão porque o BTS, grupo famoso de pop coreano (K-Pop), recita em temas o conceito “ame-se a si mesmo”.

A bandeira da Coreia do Sul tem fundo branco com o símbolo do Yin e Yang nas cores azul e vermelho ao centro. Pode ser difícil entender a diferença entre o Dia do Movimento (1 de Março), o Dia da Independência (15 de Agosto) e o Dia da Fundação Nacional (3 de Outubro).

Para isso, a história tira as dúvidas: a maioria dos países nasce a partir da independência, mas com a Coreia não foi assim. É uma nação milenar, de 4.349 anos. O Dia da Fundação Nacional, em Outubro, celebra a fundação da nação coreana em 2.333 aC.

O Dia do Movimento (1 de Março) comemora um dos levantamentos mais importantes. Neste dia, também chamado de Dia de Samil, vários nacionalistas coreanos declararam a Coreia independente. No entanto, a luta pela independência continuou por mais 25 anos até que realmente ganhasse a liberdade.

O dia em que a Coreia finalmente saiu do jugo dos japoneses é o Dia da Independência, em 1945, e três anos depois, em 15 de Agosto de 1948, a República da Coreia foi criada oficialmente. O 15 de Agosto é comemorado por muitos países como o dia em que o Japão foi derrotado e a Segunda Guerra Mundial, finalmente, chegou ao fim.

É conhecido como V-J Day, ou o dia da vitória sobre o Japão, este marca o dia em que os nipónicos anunciaram sua rendição. Com isso, a Coreia pôde finalmente ganhar a independência.

Nova central eléctrica na Califórnia (do MPLA)

Recorde-se que o Governo angolano seleccionou um consórcio formado por quatro das maiores empresas sul-coreanas do sector energético para apoiar o processo de construção de uma nova central eléctrica de ciclo combinado a gás, a executar na província de Benguela.

Na pré-campanha eleitoral, em Benguela, João Lourenço afirmou que o governador provincial, Rui Falcão, era obrigado a ‘’transformar a região numa Califórnia em Angola’’, capaz de mexer com a economia e gerar empregos. Isto porque João Lourenço considera que o agro-negócio, a pesca, a indústria e o turismo podem elevar Benguela à categoria de uma região norte-americana, a Califórnia.

A decisão da central eléctrica consta de um despacho assinado pelo Presidente João Lourenço, de 28 de Agosto, que aprova o Memorando de Entendimento envolvendo o Governo angolano e o consórcio, que integra, entre outras, uma empresa do universo do gigante sul-coreano Hyundai e que, directamente, emprega mais de 5.000 trabalhadores.

O acordo prevê a elaboração de “estudos de viabilidade técnica, económica, financeira ambiental” para a construção e operação da central, com capacidade de produção de 750 megawatts (MW), sendo justificada, lê-se ainda, “considerando a necessidade de se melhorar e aumentar o nível de fornecimento de energia eléctrica” em Angola.

O Memorando de Entendimento envolve em concreto o Ministério da Energia e Águas, pelo Governo angolano, e o consórcio BKB, constituído pelas empresas Busan Korea Biotechnology (BKB), Korea Southern Power (KOSPO), Hyundai Engineering Co (HEC) e BHI, juntamente com a Beltec — Engenharia e Serviços.

Prevê a particularidade de o projecto ser executado na modalidade BOT (Build, Operate and Transfer), regime em que privados financiam, constroem e exploram por um longo período, findo o qual as obras ou infra-estruturas passam para a propriedade do Estado.

Esta modalidade é, de resto, admitida desde o final de 2017 pelo Governo angolano no âmbito da revisão da lei sobre as parcerias público-privadas em Angola.

O projecto para a nova central eléctrica de ciclo combinado a gás surgiu numa altura em que o Governo, através da petrolífera estatal Sonangol, estava a estudar propostas para retomar a construção da refinaria do Lobito.

Angola é o segundo maior produtor de petróleo em África, mas grande parte do gás natural que é produzido por esta actividade é desperdiçado ou reinjectado nos poços, por falta de capacidade de aproveitamento no país.

Contas (mais ou menos) antigas

Em Abril de 2017 0 ministro sul-coreano dos Negócios Estrangeiros, Yun Byung-se, recebeu em Seul o chefe da diplomacia angolana para abordar a “crise de liquidez” provocada pelo atraso num pagamento da Sonangol a um estaleiro naval nacional.

A informação foi avançada pela imprensa da Coreia do Sul, citando fonte da diplomacia do país para confirmar a visita do então ministro das Relações Exteriores de Angola, Georges Chikoti, para abordar o “caso Sonangol” e a dívida de 884,1 milhões de dólares (835 milhões de euros) à Daewoo Shipbuilding and Marine Engineering (DSME), pela construção de dois navios-sonda.

“O encontro com o ministro das Relações Exteriores angolano não foi capaz de resolver o problema de imediato, mas estamos trabalhando em todas as frentes para resolver isso”, disse a mesma fonte.

A petrolífera do regime do MPLA, Sonangol, garantiu em Março de 2017 que os dois navios-sonda encomendados à Coreia do Sul, um negócio global superior a 1.100 milhões de euros, iriam entrar em breve ao serviço, após concluído o novo modelo de negócio para os rentabilizar.

Em causa estava a aquisição destes navios à DSME, cujo pagamento por parte da empresa pública angolana foi sucessivamente atrasado, devido às próprias dificuldades que a Sonangol atravessava. A situação inviabilizava a entrega dos navios e além disso ameaça a sobrevivência daquele estaleiro.

“A Sonangol está a desenvolver com os seus parceiros internacionais um novo modelo de negócio para rentabilizar dois navios-sonda adquiridos pela companhia na Coreia do Sul e que, brevemente, entrarão ao serviço”, afirmou a petrolífera angolana, num comunicado divulgado a 6 de Março de 2018.

Segundo a imprensa local, a DSME enfrenta “uma crise de liquidez” por ainda não ter recebido o pagamento destes navios de perfuração para a actividade petrolífera, e está a avançar com um plano de reestruturação, que pode passar pela entrada de novos investidores no segundo maior construtor naval da Coreia do Sul.

A Sonangol esclareceu anteriormente que necessitava ainda de concluir o “processo de financiamento, selecção final de parceiros tecnológicos e por uma identificação de novas oportunidades de produção”, no âmbito do novo modelo de negócio para os navios.

“Etapas já comunicadas e discutidas com as companhias internacionais do ramo petrolífero que operam em Angola: Esso, Chevron, BP, Eni e Total”, explicava a empresa então dirigida por Isabel dos Santos, que assim pretendia envolver as multinacionais do sector neste processo.

Aquando da contratação destes navios à DSME, em 2013, por 1.240 milhões de dólares (1.170 milhões de euros), a Sonangol pagou 20% do valor como entrada, mas terá falhado as restantes prestações.

Segundo a petrolífera angolana, a entrada em operação dos navios-sonda “far-se-á de acordo com as regras de “compliance” e tendo ainda subjacente um Memorando de Entendimento entre a Sonangol e as companhias operadoras internacionais de forma a estabelecer uma tarifa diária competitiva e sustentável, indexada aos preços médios praticados no mercado internacional”.

A empresa do regime do MPLA entrou em processo de reestruturação, após a posse, em Junho de 2016, de Isabel dos Santos como Presidente do Conselho de Administração, tendo chegado ao final do ano com uma dívida total à volta de 9.000 milhões de euros.

“O processo de transformação que vem sendo implementado desde Julho de 2016, sendo transversal a toda a empresa, possibilita a criação de um ambiente de negócios mais favorável, reduz os custos da produção e facilita o acesso a reservas de menor dimensão. Há assim condições para um melhor aproveitamento dos recursos através de práticas de operação de excelência de acordo com os mais elevados padrões internacionais”, enfatizou na altura a Sonangol.

Folha 8 com Angop

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