Eis, na íntegra, a Mensagem (comentada) de Ano Novo endereçada ao país, nesta segunda-feira, pelo Presidente da República de Angola (não nominalmente eleito), João Lourenço. Presume-se que o Presidente do MPLA (partido no Poder há 44 anos), João Lourenço, bem como o Titular do Poder Executivo, João Lourenço, subscrevam a mesma mensagem…
Por Orlando Castro
«Estamos próximos do fim de mais um ano, durante o qual voltámos a enfrentar e superar situações difíceis, derivadas de uma conjuntura interna e internacional de contornos críticos».
É só meia verdade. As situações são difíceis, não foram superadas, derivam da conjuntura internacional mas, sobretudo, da criminosa incompetência do único partido (o MPLA) que está no Poder desde 1975.
«As decisões que temos vindo a tomar inserem-se numa perspectiva de mudança que vai dando lentamente os seus frutos, contrariando a visão pessimista de quem ainda duvidava de que Angola vive novos tempos».
A perspectiva de mudança é algo que todos os angolanos querem. No entanto não passam disso – perspectivas. E os frutos ainda não se notam porque, novamente, as árvores que poderiam dar os frutos são plantadas (pelo MPLA) com as raízes viradas para cima.
«Tem sido fundamental o apoio que temos recebido dos mais variados sectores da sociedade angolana, do sector empresarial público e privado, das associações cívicas e culturais, das igrejas e da sociedade civil em geral».
De facto, não é por falta de apoio que o ex-vice-presidente do MPLA no tempo de José Eduardo dos Santos, seu ministro da Defesa e por ele escolhido para ser dono disto tudo, João Lourenço, que Angola – por exemplo – caiu duas posições no “ranking” global do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) em 2018, estando agora na posição 149 entre 189 nações.
«Esse apoio demonstra-nos que a via escolhida para a implementação de um novo paradigma de governação do país foi a mais correcta e responde às expectativas da grande maioria do nosso povo, que voltou a acreditar que o progresso e desenvolvimento de um país e a felicidade de seu povo assentam numa sociedade que valoriza o trabalho, a disciplina, a prestação de contas».
João Lourenço “plagiou” de forma obtusa o balanço de países como a Noruega, Suíça, Irlanda e Alemanha que ocupam as quatro posições mais altas no Índice de Desenvolvimento Humano 2019. Era mais simples dizer que os angolanos são matumbos…
«O Governo continua comprometido e empenhado em criar as condições para proporcionar à maioria da população melhores condições de vida».
Se fosse verdade Angola não teria centenas de crianças a morrer de fome, não teria 20 milhões de pobres, não teria os seus filhos a serem gerados com fome, a nascer com fome e a morrer pouco depois com fome.
«Atenção particular vem sendo prestada pelo Executivo ao sector social, com vista a melhor servir as populações na educação, na saúde, na energia, no saneamento básico e na água potável».
Como é hábito, João Lourenço ou não sabe o que diz… ou diz o que não sabe. Se o estado do país é resultado de uma “atenção particular” do Governo, melhor mesmo era que ele estivesse desatento.
«Apesar de ainda serem muitas as dificuldades sentidas, o país conhece progressos no campo da defesa dos direitos fundamentais do cidadão, da exigência de maior rigor na gestão dos recursos públicos, do combate ao nepotismo e à impunidade e da luta contra a corrupção».
Bem que os conselheiros de João Lourenço o poderiam demover de, nesta altura, fazer uma mensagem ao reino que mais não é do que uma (embora boa) candidatura ao anedotário nacional e até, quiçá, internacional.
«Temos consciência de que muitos dos avanços registados ainda não se reflectem de forma directa na vida da população, que se vê confrontada com o agravamento do preço dos produtos da cesta básica por força da especulação de alguns comerciantes desonestos e da baixa oferta de bens essenciais de produção nacional».
Por outras palavras, João Lourenço reconhece implicitamente que a sua governação é incompetente e criminosa, nem sequer conseguindo controlar o que é mais elementar para o Povo: os preços da cesta básica.
«Com vista a corrigir esta situação, o Executivo vem tomando todo tipo de medidas de fomento e incentivo ao aumento da produção interna de bens e de serviços, do aumento das exportações e da oferta do emprego. Para isso contamos com o investimento do sector empresarial privado nacional e estrangeiro, que tem neste domínio um papel de destaque a desempenhar».
Mentira. Há 44 anos (muitos dos quais com a conivência de João Lourenço), que a diversificação económica é prometida pelo MPLA. No entanto, ontem como hoje, e amanhã também, o Governo está apenas preocupado em trabalhar para os poucos que têm milhões, esquecendo os milhões que têm pouco ou… nada.
«Nesta data, mais do que nunca, importa cultivar os valores da paz, da fraternidade e da solidariedade, num momento em que a nossa sociedade voltou a ser abalada recentemente por alguns actos de criminalidade violenta, incluindo a violência doméstica contra a mulher, a criança e os velhos e que não podemos tolerar. As autoridades competentes vêm tomando as medidas mais adequadas no combate à criminalidade violenta, no sentido de proteger a vida e a dignidade humana, e a propriedade pública e privada».
É mais uma anedota. Como não acreditamos que João Lourenço esteja a tomar psicotrópicos ou a fumar substâncias alucinogénias, só pode mesmo estar a gozar à farta com a nossa chipala. Só pode.
«Nesta quadra festiva, quero aproveitar esta oportunidade para estender uma palavra de conforto às vítimas da seca severa que assolou o sul do país, ao mesmo tempo que realço e agradeço a todos aqueles que se juntaram à onda de solidariedade que se formou e que contribuiu para minimizar o sofrimento dos nossos concidadãos afectados».
É um agradecimento merecido. Sobretudo porque a dita sociedade civil (em “lato sensu”) fez aquilo que deveria ser o Governo a fazer. Mas, se como diz João Lourenço, não existe forme em Angola… estamos conversados.
«Termino esta mensagem exortando a todos os angolanos e angolanas a continuarem a praticar gestos humanitários e solidários em relação àqueles que se encontrem em situações mais precárias e vulneráveis».
E terminou bem. Mais uma vez pedindo que sejam os outros a fazer o que cabe ao Presidente da República, ou ao Presidente do MPLA, ou ao Titular do Poder Executivo…