Luísa Rogério eleita para a Comissão Executiva da FIJ

A jornalista angolana Luísa Rogério foi eleita, em Tunes, membro da Comissão Executiva da Federação Internacional de Jornalistas (FIJ) no decurso do 30º Congresso da instituição que congrega 187 sindicatos de 141 países.

Segundo o secretário-geral do Sindicato dos Jornalistas Angolanos (SJA), Teixeira Cândido, a par de outros 15 membros eleitos na mesma ocasião, Luísa Rogério fará parte do restrito grupo que formula as principais acções executivas da FIJ, que reúne seis mil filiados (jornalistas).

“Para o SJA e para a classe angolana é importante estar presente nos órgãos que tomam as grandes decisões sobre a profissão em todo o mundo, mas também nos compromete a continuar a luta pelo cumprimento dos princípios mais elementares da prática do jornalismo”, disse Teixeira Cândido.

“É também importante, com base nessa projecção internacional dos jornalistas angolanos, que outros saibam que Angola tem um Código de Ética desajustado e uma inexistente Comissão de Carteira, instrumentos básicos de trabalho”, acrescentou, indicando que essa e outras lutas serão travadas dentro da FIJ.

Luísa Rogério, 51 anos, antiga presidente do SJA e actual presidente da Mesa da Assembleia, é jornalista do Jornal de Angola.

É a primeira vez que um jornalista angolano integra a Comissão Executiva da FIJ como titular. Além de Angola, outros dois países de expressão portuguesa, Brasil e Portugal, elegeram igualmente representantes, sendo outro facto inédito na história da organização, fundada em 1962.

“O Congresso de Tunes ficará também na história por assistir pela primeira vez à chegada de um africano ao cargo de presidente da FIJ, o marroquino Younes Mjahed, que durante longos anos exerceu a função de vice-presidente da associação”, sublinhou Teixeira Cândido.

Recordando o que disse Luísa Rogério

Em 2015, a então Secretária-Geral do SJA, Luísa Rogério, afirmou que os jornais “Folha 8” e “O Crime” eram os únicos órgãos de comunicação social independentes.

Luísa Rogério é uma das mais refinadas jornalistas que o país gerou e fez este comentário numa curta conferência de imprensa, realizada no auditório da União dos Escritores de Angola (UEA), no dia 27 de Julho de 2015, onde revelou a recusa de vários jornalistas rejeitarem cobrir as actividades realizadas pelo Sindicato, por orientações dos directores, que a acusavam de fazer pronunciamentos contra o poder político vigente na República de Angola.

Num breve balanço sobre o estado da pena jornalística da tribo indígena, não poderia ser mais incisiva ao afirmar, que “a minha opinião é a menos boa, infelizmente, para não dizer a pior. No passado, a imprensa era mais independente”, disse, adiantando ”estar a maioria dos meios de comunicação social do país, ligados ao poder político, e que apenas os jornais “O Crime” e o “Folha 8” são independentes”, são a excepção.

Luísa Rogério fez tais reflexões numa altura em que com muita tristeza, lamentava o facto de encontrar dificuldades para a realização do Congresso que tinha como objectivo principal a eleição da nova direcção.

No cofre do sindicato, discriminado pelo regime, pela sua independência, repousava apenas a quantia de 200 mil kwanzas, quando os cálculos apontam um valor mínimo de 10 milhões de Kwanzas. Se avançasse um candidato da situação o dinheiro apareceria (aparece sempre desde que essa submissão esteja garantida).

“Nós, inicialmente, para a realização do Congresso, havíamos estabelecido um tecto mínimo de 100 mil dólares, depois baixamos para 50 mil que incluía também as eleições de delegados das assembleias provinciais”, explicou na altura Luísa Rogério.

“Mas desde o dia 2 de Abril até aqui, só arrecadamos quase 500 mil Kwanzas, que serviu para pagar a renda da sede do Sindicato e os salários que tínhamos em atraso com os trabalhadores”, lamentou.

Liberdade de Imprensa. Um dia talvez

Em Angola não há Dia Mundial da Liberdade de Imprensa que nos valha. E não há porque aos jornalistas (pensamos, queremos ainda pensar, que são eles que fazem a informação) restam duas opções: serem domados pelos que continuam a julgar-se donos disto tudo (o MPLA) e, dessa forma, manter o emprego, ou o inverso.

É claro que, no próximo, tal como no anterior, Dia Mundial da Liberdade de Imprensa (repugna-nos comemorar uma coisa que não existe), veremos toda a espécie de gentalha (desde os que trocam jornalistas por fazedores de textos, aos políticos que lhes dão cobertura) dizer que são a favor do direito universal à liberdade de expressão.

Se calhar, com a hipocrisia típica e atávica que caracteriza os donos da verdade em Angola, até veremos alguns dos carrascos a recordar que os jornalistas têm sido assassinados, mutilados, detidos, despedidos e por aí fora por exercerem, em consciência, a liberdade de expressão à qual, em teoria, têm direito.

Aliás, estamos mais uma vez à espera de ver muitos dos malandros do regime que amordaçam os jornalistas aparecerem na ribalta com a bandeira da liberdade de expressão. Se calhar até João Lourenço será visto na ribalta com a bandeira desta causa, se bem que ele tenha uma teoria (já com alguns efeitos práticos, reconheça-se) bem diferente do seu antecessor.

E se durante muito tempo o principal barómetro da liberdade de Imprensa era o número de jornalistas mortos no cumprimento do dever, hoje junta-se-lhe uma outra variante para a qual Angola dá um notório e inédito contributo: os jornalistas mercadoria, caninamente mostruário das directrizes de uma coisa que se chama Departamento de Informação e Propaganda do Comité Central do MPLA.

E até veremos alguns dos algozes da liberdade de expressão (desde os donos dos jornalistas aos donos dos donos dos jornalistas) citar o artigo 19 da Declaração Universal dos Direitos Humanos: “Toda pessoa tem direito à liberdade de opinião e expressão; este direito inclui a liberdade de, sem interferência, ter opiniões e de procurar, receber e transmitir informações e ideias por quaisquer meios e independentemente de fronteiras”.

Há alguns anos, o então secretário-geral da ONU defendeu uma tese que se tornou suicida no caso angolano. Kofi Annan disse que os jornalistas “deveriam ser agentes da mudança”. E o mais aterrador é que, por sinal, até acreditamos que João Lourenço está de acordo com esta tese.

Nós, os jornalistas, tentamos, continuaremos a tentar, o que aliás sempre fizemos, mudar a sociedade para melhor. Acontece que o seu conceito de sociedade melhor não é igual ao do MPLA, embora seja – estranhamente – similar ao propalado pelo Presidente do… MPLA.

E a resposta não se faz esperar: Jornalista bom é jornalista no desempregado ou amputado da coluna vertebral e, por isso, tapete do Poder. É isso que o Departamento de Informação e Propaganda do Comité Central do MPLA quer e, pelos vistos, é isso que alguns supostos jornalistas querem que aconteça.

Um regime, quando por ter maioria parlamentar, aprova leis sem respaldo das demais forças legislativas e da maioria da classe jornalística, ou se permite usar os seus meios particulares de comunicação (que, em teoria, deveriam ser públicos e, por isso, de todos) para intimidar, ameaçar e pôr em causa o sagrado e universal direito à liberdade de opinião, está claramente a mostrar o seu ADN totalitário.

O Parlamento do MPLA, é assim que os deputados deste partido o consideram, pretende ser igual ao que sempre foi (nem João Lourenço parece capaz de alterar esta matriz), ou seja, transformar os jornalistas em zungueiras e que, como estas, se controlem com a lei da bala (se possível certeira).

Desde os primórdios da transição e após a proclamação da independência de Angola, que a comunicação social pública, parida das entranhas do socialismo, que é sectária, divisionista, discriminatória e guerreira, pois sempre estimulou o conflito entre quem pensava diferente.

A solidariedade, a cidadania, a ética, a liberdade, o jornalismo tem sido uma luta de afirmação ao longo destes quase 44 anos de independência e o que nós fazemos aqui no Folha 8 não é fruto da liberdade de imprensa, mas da resistência a favor da liberdade de imprensa, enquanto direito fundamental.

E a luta é a melhor forma de continuarmos a ser jornalistas. Por isso abominamos os mudos, aqueles que sendo detentores de dois instrumentos; o saber e o conhecimento se refugiam na pequenez egoísta e umbilical, nada fazendo para que a notícia percorra o caminho da Liberdade.

O papel que todos podemos desempenhar neste mundo cada vez mais global só depende de nós e não do corporativismo político. Não depende e não podemos, mesmo com tribunas oficiais a fazer o jogo daqueles que ontem, traindo a imparcialidade e a cidadania irmã, lançaram achas da divisão entre os angolanos, com um jornalismo panfletário e discriminador, em nome do povo, mas reduzido aos caprichos de um núcleo detentor do poder.

É verdade que a maioria das pessoas quando liga a rádio, a TV, abre o jornal ou outra plataforma comunicacional espera a imparcialidade da notícia, mas desiludam-se, a imparcialidade como tal não existe. Reside na utopia, porque o jornalista tem os seus valores morais e éticos, assente no seu direito subjectivo de interpretar os fenómenos e muitas vezes não consegue separar informação de opinião. O jornalista totalmente imparcial ainda não existe.

Mas aqui surge uma pergunta se não há imparcialidade como informar a sociedade? Eis o mastro: a isenção, um instituto enquanto objectivo, por não ser estática, pode ser sempre perseguida, pelo jornalista.

A isenção é o respeito pelo contraditório, conceito tão arredio da nossa realidade comunicacional. No entanto, a nobreza do jornalismo e dos órgãos de comunicação social reside, precisamente na magistratura de conferir tratamento igual às partes retratadas na notícia. Esta é a protecção dos inocentes, dos mais fracos e desprotegidos, dos que não têm voz.

A isenção leva-nos a não privilegiar a apresentação da cara dos menos favorecidos na televisão ou jornais, em detrimento dos poderosos que, regra geral mesmo roubando ou praticando a corrupção institucional em grande escala, beneficiam da benevolência, por ser “o senhor do colarinho branco”. A isenção, diferente da imparcialidade pode jogar um papel acalentador na sociedade, principalmente, quando o jornalista ou o órgão não se deixa subjugar pela lei do mais forte.

Folha 8 com Lusa

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