O movimento independentista FLEC/FAC reivindicou este sábado ter emboscado uma patrulha das Forças Armadas Angolanas (FAA) em Cabinda, tendo morto três soldados e um polícia, enquanto as suas tropas perderam dois militares. “É tudo mentira” dirá em breve o Governo, certamente pela voz do Ministro da Propaganda.
Por Orlando Castro (*)
Se, como se espera, for João Melo a desmentir, já se sabe qual é a justificação. É mentira porque a FLEC/FAC não existe e, sobretudo, porque ao contrário da tese dos cabindas, nem sequer existe… Cabinda.
João Melo faz lembrar Mohammed Saeed Al-Sahhaf, o ministro iraquiano da informação que, na mesma altura em que os jornalistas já viam da sala onde falavam com ele os tanques da coligação internacional dentro de Bagdade, garantia a pés juntos que as tropas norte-americanas estavam longe da capital e a levar porrada a torto e a direito.
Num “comunicado de guerra”, Che Tchitcha Bica Bankulu, comandante da região do Massabi da Frente de Libertação do Estado de Cabinda – Forças Armadas de Cabinda (FLEC/FAC) explicou que a emboscada ocorreu na tarde de quarta-feira na aldeia de Lico, na região de Dinge, no enclave angolano.
“O nosso objectivo é atacar as forças de ocupação ilegal em Cabinda, não matar estrangeiros. No entanto, estes devem ter consciência de que a guerra continua em Cabinda”, lê-se no comunicado, que deixa dúvidas sobre se, além dos “estrangeiros angolanos”, o aviso diz também respeito a cidadãos de outras nacionalidades.
A FLEC, através do seu “braço armado”, as FAC, luta pela independência do território alegando que, à luz do Direito Internacional, o enclave era um protectorado português, tal como ficou estabelecido no Tratado de Simulambuco, assinado em 1885, e não parte integrante do território angolano.
Para os que não sabem e para os que sabem… mas não querem saber, importa dizer mais alguma coisa sobre Cabinda, até porque aqui se faz jornalismo com memória.
“Toda a gente sabe que no plano internacional Cabinda faz parte de Angola e a ONU reconheceu como parte integrante de Angola e mesmo ao nível europeu esse ponto de vista está definitivamente aceite”.
Quem terá sido o energúmeno que disse esta barbaridade? Só podia ter sido um português, um amigo do MPLA, um vassalo do MPLA, um político que não vive para servir mas, antes, para se servir.
Pois o autor dessa aberração e desse atentado à inteligência e à memória dá pelo nome de José Manuel Durão Barroso.
Relembre-se que o então primeiro-ministro das ocidentais praias lusitanas a norte, embora cada vez mais a sul, de Marrocos, Durão Barroso, foi convidado de honra do casamento de uma das filhas do então Presidente Angola, José Eduardo dos Santos, e também, na altura, grande amigo de José Sócrates e Cavaco Silva.
Continuemos no âmbito dessa coisa que o poder julga que os cidadãos deixaram de ter: memória. Cabe, por isso, perguntar se Cabinda é o que diz Durão Barroso, porque razão dirigentes da Resistência de Cabinda foram recebidos pelo então líder da Oposição… Durão Barroso?
Como os portugueses já perceberam, são muitos os Josés que têm a memória tão curta e que, cada vez mais, até a acham desnecessária. Desnecessária, acrescente-se, quando não é em benefício próprio.
Por alguma razão, quando visitou Angola, o MPLA fartou-se de dizer por todos os cantos e esquinas: “vem aí o camarada Durão”. Se calhar também não se inibiu de outras coisas típicas dos opacos areópagos da política petrolífera.
Seja como for, aqui fica algum contributo para o esclarecimento do “camarada Durão” e restantes similares (hoje António Costa, Marcelo Rebelo de Sousa e António Guterres), até porque uma mentira dita muitas vezes nunca significará sequer uma meia verdade.
Sabemos que é teimosia (ou até fanatismo) estar sempre a, parafraseando um dos mais sublimes e inefáveis donos da verdade em Portugal (Augusto Santos Silva), a malhar neste assunto. Mas é preciso ir dando voz a quem a não tem, como é o caso do Povo de Cabinda.
Além disso, importa também dizer que muitos dos que ouvimos falar em voz alta não são mais do que reprodutores das vozes dos outros. Reprodutores bem pagos, acrescente-se.
(*) Com Lusa