O clima de tensão entre o ex-presidente da República, José Eduardo dos Santos e o actual (por si escolhido, relembre-se), João Lourenço, está ao rubro e nada aponta, para um eventual desanuviamento, nos próximos tempos, tal o capricho e cinismo que ensombra a relação entre ambos.
A forma crua de expressão do atrás vertido, cinge-se no facto de José Eduardo dos Santos ter abdicado de parte das prerrogativas constitucionais, incluídas no art.º 133.º CRA (Constituição da República de Angola), na qualidade de ex-presidente da República, face ao clima de crispação existente com o seu sucessor que após a tomada de posse resolveu, “in continenti”, declarar-lhe guerra, mesma que de forma indirecta, ao alvejar os membros do seu clã familiar e de alguns dos seus mais íntimos colaboradores.
Esta semana José Eduardo dos Santos (conforme o Folha 8 noticiou em primeira-mão) deixará Luanda, não num Gulfstream da Presidência da República, mas em voo comercial de carreira normal, muito provavelmente da companhia aérea de bandeira TAAG, na rota Luanda/Lisboa e desta capital apanhará, outro voo comercial da IBERIA, até à Catalunha, Barcelona, onde fará os competentes exames de revisão médica que, tanto quanto se sabe, já muito deveria ter feito.
Esta decisão cria um dado novo na já tensa relação, principalmente depois de João Lourenço o ter alcunhado, a partir do estrangeiro (Portugal), pejorativamente, como uma espécie de “Marimbondo-Mor”, logo, chefe de quadrilha dos marimbondos, conceito lourenciano que, sem grande dificuldade de interpretação, significa nessa língua vernácula, bando de corruptos, gatunos, larápios invertebrados do erário público, caricatamente, todos do MPLA, que só não levaram o país à falência total graças à chegada ao poder do actual Presidente da República, qual Messias…
Este acumular de tensão é alimentado não só pelas farpas nos discursos presidenciais, onde José Eduardo dos Santos é diabolizado como o único responsável pelo descalabro do país, mas também, com a prisão considerada arbitrária, do filho varão, Zenú dos Santos (ex-presidente do Fundo Soberano), por cerca de seis meses, pese este, antes de ser recolhido à cadeia, por alegada ordem expressa de João Lourenço ao Procurador-Geral da República, general Pitta Grós, ter procedido à devolução integral dos valores envolvidos numa operação (500 milhões de euros, como primeira tranche, de três de igual montante, mais 64 milhões, para procedimentos administrativos e financeiros viabilizadores da transacção), visando, hipoteticamente, a obtenção de um financiamento de 30 mil milhões de euros, que Eduardo dos Santos pretendia brindar como desafogo, o consulado de João Lourenço, para consolidar mais 10 anos de domínio do MPLA.
Mas, rapidamente, o sonho transformou-se em pesadelo ao invés de realidade pacífica e conciliadora, que agora serve para a destruição das bases do próprio regime.
A tal ponto que desde Setembro de 2018, que Eduardo dos Santos não teve nenhum contacto pessoal, telefónico ou escrito, com o Presidente da República, nem mesmo quando o filho definhou nas masmorras da Cadeia de São Paulo de Luanda ou devido ao exílio “forçado” de duas filhas (temendo prisões e humilhações públicas arbitrárias).
E é este passivo, ao que parece, o grande responsável, pela decisão de José Eduardo dos Santos abdicar do apoio do Protocolo de Estado, para viabilizar a sua deslocação ao estrangeiro para tratamento médico.
Ao tomar conhecimento dessa decisão, cujas consequências podem ser imprevisíveis, quer do ponto de vista institucional, como partidário, João Lourenço mandatou o seu gabinete pôr em campo para tentar demover o antigo Presidente da República, na tentativa para ele recuar na decisão de prescindir das ajudas de custo (direito constitucional) e de viajar em avião de carreira.
Mas, uma fonte da Presidência da República disse ao F8 estar duro o “game”, pois José Eduardo dos Santos terá apenas dito que ligaria a marcar o dia para receber os funcionários da Presidência da República, “que poderá ocorrer já com ele em Espanha”.
É o preço da manta de retalho que se transformou o regime do MPLA com os constantes tiros no pé e as humilhações internas, com o carimbo MARIMBONDOS, de João Lourenço direccionado ao seu mentor, como gratidão invertida.
Por isso, cada vez mais e forma cada vez mais assertiva, os angolanos perguntam: Se JLo queria prender e mandar para a sarjeta todo o consulado do MPLA e na República de José Eduardo dos Santos, porque se prestou ao triste papel de o condecorar, como presidente emérito do partido governante? Porque o venerou e idolatrou perante os angolanos e perante o mundo, atá ao exacto momento em que recebeu o cajado de líder do MPLA?
Desta forma João Lourenço poderá estar a destruir as bases, já de si débeis e de desgaste acelerado, da construção de um país, para amesquinhar o “staff” de um homem, José Eduardo dos Santos, condecorado, idolatrado até à exaustão, num cinismo, afinal abjecto, antes da sua saída do palanque. Inclusão e reconciliação é exactamente o oposto de tudo isto. Isto não passa de uma tentativa, bem programada, para provocar a implosão de uma sociedade que, pela mão dos seus políticos, está a “contratar” dentistas e oftalmologista quando sabe que eles não são necessários porque, nesta mais do que provável técnica de olho por olho, dente por dente, vamos ficar todos cegos e desdentados.
Legislando em causa própria, o ditador reservou para si, cinco anos de impermeabilidade judicial, sendo que dois… já voaram!
As cenas dos próximos capítulos condicionarão várias expectativas nesta novela em que o actor principal desconhecia o respeito aos demais. O que irá acontecer ao causador de tanta desgraça, miséria, discriminações, atrasos e vícios juntar-se-á a expectativa do que fará o seu sucessor não apenas em relação a ele mas, muito mais, em relação a uma boa governação.
Tenham calma …………….. o Presidente João Lourenço é um homem sério ; que levará Angola pelo bom caminho – para que o povo Angolano tenha um futuro digno e feliz !!!!!!!!!!!!!
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De apontar um lapso. Barcelona é a capital da Catalunha, região autónoma de Espanha. O País Basco é uma outra região autónoma, diferente de Barcelona ou a Catalunha. Há, pois, manifesto lapso de geografia.