Uma antiga correspondente da agência France-Presse e da RFI – Rádio França Internacional em Angola, Estelle Maussion, descreve, num livro que será lançado amanhã, quarta-feira, que o antigo Presidente angolano, José Eduardo dos Santos criou “um sistema” que tomou o país e não antecipou “a ruptura” que o seu sucessor iria fazer.
“José Eduardo dos Santos é a personagem principal deste livro. Tem uma trajectória fascinante, chega ao poder aos 36 anos, quando há muitos conflitos, instaurou um sistema político e económico. Para além da conjuntura, ele é alguém muito hábil, discreto. E claro, também teve alguma sorte”, disse Estelle Maussion à agência Lusa, a propósito da sua obra “La dos Santos company – Mainmise sur L’Angola” (“A empresa dos Santos, o controlo de Angola”, em português), editado pela editora Karthala, e que chega esta quarta-feira às livrarias francesas.
O livro conta de forma vivida, às vezes na primeira pessoa, a ascensão da família do antigo Presidente ao poder, contextualizando assim a história recente de Angola.
“Ele instaurou um sistema onde a riqueza é gerida por um pequeno grupo de pessoas, muito próximas do MPLA e isso criou um certo sistema, como a falta de transparência, a corrupção e um certo nepotismo. E o que conto no livro é como é que isso aconteceu e também como este sistema se apoderou do país”, explicou a autora.
Estelle Maussion, jornalista especializada em temas africanos, viveu em Angola entre 2012 e 2015 como correspondente e foi-se apercebendo que o então Presidente “não estava sozinho” no poder, gerindo um pequeno grupo de familiares e amigos à sua volta. “Formavam todos um clã de pessoas muito próximas”, indicou.
Assim, no seu último ano no país e a partir de 2017 – quando João Lourenço chegou ao poder -, a jornalista francesa utilizou o seu trabalho como correspondente, mas também entrevistas com especialistas sobre Angola, membros da UNITA e do MPLA e fontes na Cidade Alta (sede do poder) para traçar a história da ascensão – e posterior queda – da família do antigo governante.
“Queria fazer um livro num formato jornalístico, mas acabou por ser um livro de narrativa não ficcional, baseado na minha investigação, para tornar o livro mais acessível e interessar as pessoas na família e no país. […] É uma saga familiar porque é a família que nos conta a sua história de ascensão ao poder em Angola”, explicou.
Com uma história difícil com França desde o caso ‘Angola Gate’ – processo que envolveu várias figuras de relevo no universo político e dos negócios em França, incluindo o filho do antigo Presidente François Miterrand, sobre a venda de armas a Angola -, Estelle Maussion, chegada a Angola pouco depois dos julgamentos em terras gaulesas, sentiu o “clima negativo” entre os dois países.
“Senti-me como ‘persona non grata’ como correspondente de uma agência francesa de notícias. Ninguém queria muito ver-me”, disse a jornalista, afirmando que a França fez esforços diplomáticos desde aí para melhorar a situação, lembrando que grandes empresas francesas, como a petrolífera Total, detêm investimentos no país.
Quanto à saída de José Eduardo dos Santos do poder, a jornalista considera que foi muito reflectida pelo antigo Presidente. “É um estratega e ele tentou avaliar a melhor solução, mas deparou-se com uma situação complicada. A economia não estava bem, socialmente havia muita contestação e muita contestação dentro do próprio MPLA e o factor que pode ter tido mais peso, mas sobre o qual não temos muita informação, é o seu estado de saúde”, considerou.
Mas o que José Eduardo dos Santos não terá tido em conta foi o desejo de mudança do actual Presidente, João Lourenço. “Ele pensou que era melhor entrar num regime de transição, em que podia controlar, do que ir até ao fim e depois haver uma catástrofe para os seus próximos. Mas não me parece que ele antecipasse até que ponto João Lourenço ia causar uma ruptura”, referiu Estelle Maussion.
Mas a história do clã dos Santos ainda não terminou, acredita Estelle Maussion, apesar de o filho José Filomeno dos Santos estar à espera de julgamento em Angola, e de a filha Isabel dos Santos ter saído da Sonangol.
“A família não vai ser completamente posta em causa e vão conservar algum poder importante na sociedade angolana, mesmo que estejam em dificuldades”, concluiu.
Eis o que começa por dizer a autora
«Um pai autoritário, uma garota bilionária e um filho preso. José Eduardo dos Santos, que chegou ao poder em 1979, decide tudo sozinho e distribui recursos pela sua família, enquanto a maioria da população vive com menos de dois dólares por dia. Um reino familiar que promete eterno até o novo homem forte, João Lourenço, decidir-se a limpar tudo depois de vencer a eleição de Setembro de 2017.
“Quando estamos juntos, não falamos sobre as nossas actividades profissionais. Compartilhamos notícias, especialmente sobre crianças. Costumamos conversar sobre os bons velhos tempos, os dias em que éramos pequenos”, contou José Filomeno à autora numa tarde de Outubro de 2012 em Luanda.
No alegre barulho causado pelos netos, todos observam a reacção do patriarca, José Eduardo, a encarnação de um punho de ferro em uma luva de veludo. Líder tribal impenetrável, é ele quem decide, separa, promove e castiga. Ele não é apenas irmão, pai, avô, líder ou presidente. Ele é o mestre da sua existência, o “padrinho” de um clã que reina supremo e inescrupuloso sobre Angola.
Sua omnipotência é sentida em nenhum outro lugar melhor do que na Cidade Alta, o distrito que abriga o palácio presidencial. Luanda é uma cidade caótica e barulhenta, com calçadas quebradas ou inexistentes e tráfego de carros anárquicos. A cidade alta é um paraíso de vegetação, silêncio e ordem.
Belas avenidas de palmeiras, ruas perfeitamente asfaltadas, calçadas pavimentadas diariamente, edifícios rosa e brancos que datam da época colonial, decorados com colunatas. Nós ouvimos os pássaros cantando.
Esse cenário idílico quase fazia esquecer que é um bunker. No caminho para lá, soldados de uniforme, armados com metralhadoras, são colocados em cada porta, a cada 100 metros. Qualquer pessoa do lado de fora é imediatamente avistada.
Passando pelo primeiro portão, é preciso andar um pouco antes de ver a entrada do Palácio Presidencial e o seu pórtico de segurança, onde agentes de fato e gravata seguram os telemóveis, proibidos no recinto. Uma vez lá dentro, os visitantes passam por um teste final, uma espera indefinida, confinada em salas de mármore, mas sem janelas. Chefes de Polícia, Ministros, Embaixadores, todos recebem o mesmo tratamento.
Uma ala do Palácio é reservada para recepções de personalidades estrangeiras, cuja data e hora são confirmadas apenas no último minuto. Recebidos com homenagens militares, os chefes de Estado e de Governo são escoltados para um pequeno e acolhedor salão. Todos os gesto são examinados pelos homens do protocolo. Os jornalistas são relegados para os jardins para declarações à imprensa, sempre curtas, muito emoldurados e raramente seguidos de perguntas. É nessa atmosfera que reina José Eduardo dos Santos.
No papel, Angola é uma democracia. Existe uma Constituição que separada os poderes executivo, legislativo e judicial, eleições regulares. De facto, o presidente angolano decide tudo, sozinho. E isso, durante anos, do alto de sua torre de marfim, que é o Palácio Presidencial.
Os conselhos de ministros são realizados no andar superior, em uma enorme sala rectangular. Alguns cachos de flores tentam trazer um pouco de calor para a sala. Em vão. A configuração do local é suficiente para entender quem é o líder. José Eduardo dos Santos preside atrás de uma mesa imponente. Abaixo, os ministros estão sentados, disciplinados, em torno de uma mesa oval.
Quando o presidente entra a atmosfera é tensa. Os rostos fecham-se. Prendem a respiração. Então, impassível, ele escuta por horas os relatórios de seus subordinados antes de finalmente anunciar suas decisões. “Raros são os atrevidos a falar espontaneamente, a maioria dos ministros espera que isso ocorra rezando para não sere solicitados”, conta alguém assíduo nessas reuniões. Quando o presidente não pode impor as suas opiniões tão directamente, ele faz uma consulta ao Conselho da República, órgão que reúne as forças do país (magistrados, partidos políticos, líderes religiosos e associações), antes de tomar uma decisão importante como a data das eleições.
A sessão começa como qualquer outra. Ele deixa os protagonistas falarem por um longo tempo sem nunca falar ou mostrar qualquer reacção. Parece uma esfinge. Todo mundo fica agradavelmente surpreso e tem a impressão de ser ouvido. Até ao final da sessão, José Eduardo dos Santos anuncia a data de sua escolha, para retomar o exemplo das eleições, observando que ela foi escolhida de comum acordo…
Se o presidente se comporta dessa maneira, é porque “considera o país como sua propriedade privada”, resume, depois de garantir a ausência de ouvidos indiscretos, uma jornalista angolana. E por uma boa razão, José Eduardo dos Santos não administra um estado, ele governa uma empresa familiar.
Desde a sua chegada ao chefe de Angola em 1979 teve o cuidado de distribuir riqueza nacional e posições de responsabilidade pela sua família. Se o seu filho, José Filomeno, foi bem servido com o Fundo Soberano, sua filha mais velha, Isabel, recebeu a maior fatia do bolo com posições na indústria de diamantes, nos bancos, telecomunicações, imóveis e comércio.
Os dois herdeiros seguintes, a deputada Welwitschia, conhecida como Tchizé, e o artista José Paulino, de seu nome artístico Coréon Dú, não devem ter pena. Eles são omnipresentes nos campos de transmissão cultural e pública. Um ex-parceiro do presidente por muito tempo liderou a agência que supervisionava os investimentos estrangeiros no país.
Quanto à primeira dama, Ana Paula, ela faz negócios nos sectores aéreo e da moda. Com os três filhos de seu casamento com José Eduardo, jovens de vinte e poucos anos, eles são os orgulhosos proprietários de um salão de beleza de luxo em Luanda (o Deana Day Spa).
Os membros da família presidencial também estão presentes em todas as grandes empresas: a companhia nacional de petróleo Sonangol, a operadora de diamantes Endiama, a companhia aérea TAAG , as empresas de gestão de água e electricidade.
A Fundação José Eduardo dos Santos e a Fundação Primeira Dama centralizam actividades de caridade. Isabel, por sua vez, brilha como líder da Cruz Vermelha, levando a diva americana Mariah Carey a Luanda para uma gala de caridade.
Isabel é a estrela da família e seu rosto atraente no exterior. Se ela é apelidada de princesa, é porque a sua vida tem tudo, como num conto de fadas. Ela é rica (fortuna estimada em três bilhões de dólares), inteligente (engenheira poliglota) e bonita.
Nascida da união entre José Eduardo dos Santos e uma russa, é casada com um príncipe charmoso, congolês Sindika Dokolo , coleccionador de arte e filho de um banqueiro que fez fortuna no Zaire de Mobutu. Cosmopolita e extrovertida, Isabel sabe receber, como aconteceu numa sumptuosa festa de aniversário realizada num palácio em Marrakech, mas também se diverte no mundo do jet-set durante o festival de Cannes.
Não se pense que ela fica em casa a cuidar das crianças. A filha mais velha de José Eduardo dos Santos é uma empresária formidável, que se tornou a primeira bilionária africana em 2013. Um dia, ela cruzou o caminho com o grupo espanhol CaixaBank para assumir o controle do banco BPI em Lisboa. No dia seguinte, ela juntou-se a uma delegação de 200 líderes empresariais angolanos numa visita oficial à China.
No dia seguinte, participou num fórum do BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) em Joanesburgo. Como chefe da Unitel, a principal operadora de telefonia de Angola, ela participa numa mesa redonda com outras figuras africanas, incluindo Johann Rupert, o homem mais rico da África do Sul, e o bilionário Mo Ibrahim, campeão anglo-sudanês de boa governança.
O seu discurso, em inglês perfeito, dura apenas três minutos. Sorrindo, ela se presta às perguntas da sala, sem nunca manter a palavra por muito tempo. Como incentivar o investimento em telecomunicações? Quais são os motores do crescimento africano? Qual o papel das mulheres no desenvolvimento?
Fácil, esses são os seus temas favoritos. Ela é está como um peixe na água. “Isabel não é apenas um exemplo para as mulheres do continente, mas para todos os africanos”, afirmou, entusiasmado, o moderador do debate, Donald Kaberuka, presidente do Banco Africano de Desenvolvimento na época. A sala está conquistada. Os aplausos são disparados. Tudo sob os olhos do marido, sentado na primeira fila da plateia. Isabel tem um sucesso modesto, agradece à assembleia sobriamente.»
Folha 8 com Agências
Angola é um tema complicado…
Tudo é complicado, mas é uma complicação organizada.
“Vamos só orar irmãos, tudo passa.”
Frase habitual dos habitantes de Angola, sejam nacionais como estrangeiros residentes (que também já se habituarama cultura e costumes do mesmo).
Quem está de fora, vê muito problema, pessoas sem condições, de tudo um pouco o que é mau.
Mas já se questionaram porque a muita falta de meios para evoluir?
Não falo neste momento da parte do poder.
Eu falo de baixo para cima.
Um angolano que ganhe 80.000 akz, entra em casa 20 ou 25.000 akz.
O resto, bebida, mulheres e amigos.
A mulher e os filhos em casa tem de se orientar de qualquer forma.
Agora pergunto:
Isto é vida?
A minha resposta:
O próprio Angolano não quer evoluir, melhorar,.
A desculpa é sempre a mesma, “a guerra”.
Que já aconteceu nos anos 80/90.
Isso vem incutido na mentalidade de pai para filho.
Muitos angolanos conseguiram com sacrifício de familiares e afins, formarem se e melhorar a sua vida, tanto profissional como pessoal.
Mas tiveram uma educação diferente do que mais de 50% do resto.
Vemos miúdas “novinhas – termo angolano” a entrar por caminhos fáceis para ganhar dinheiro e ter boa vida.
Temos os “Kunangas” que só vivem de chular o próximo.
Manda se trabalhar, ui… sacrifício…
Chega a sexta-feira, ansiosos pela boa vida…
Álcool, mulheres e boa vida.
É a vida atual em Angola.
Agora vem falar do poder?
Amigos, Angola é como é, nada nem ninguém que venha de fora conseguirá mudar aquele país, que apesar de desorganizado, é uma desorganização organizada e todos se entendem dessa forma.
Abraço a todos.
Ass: NM.
A culpa de tudo isso também é do luisiadas e de um lírico a quem deram tanta atenção ; vamos por esta perspectiva;aquelas criaturas que um dia se puseram ao mar para irem buscar especiarias á Índia poderiam na mesma faze lo serem contarem com um intruso lírico nas suas viagens que não veio acrescentar nada aos objetivos das viagens ; imaginemos essas criaturas sem os camões e sem os luisiadas … teriam sido mais objectivos… porque os luisiadas foi interessante para quem o escreveu mas se o tivessem debaixo de uma bananeira a ler os seus líricos poemas ou tivessem no deixado entregue a um grupo de indígenas era o mesmo…ele iria falar dos adamastor dos indígenas e por aí e seguinte …e a história teria sido outra com mais benefícios para aqueles que se lançaram ao mar nem mais nem menos…e há os agradecidos porquanto andavam entretidos com os luisiadas apareceram outros que ficaram piratas e muitas das vezes com os tesouros…eu preferia os destes em vez dos outros…ora em Angola haver um tipo que achou que Angola era o seu quintal…era mais um alienado por os luisiadas …mas as pessoas não comem folhas de livros….comem alimentos