Direito à indignação não
é propriedade do MPLA

Em primeiro lugar pretendo manifestar a minha consternação pela limitada capacidade de processamento mental do autor/a do comunicado emitido pelo Departamento de Informação e Propaganda do Bureau Político do MPLA (DIP), acerca de uma publicação crítica da minha autoria, devidamente assinada, publicada na edição online do jornal Folha 8.

Por José Filipe Rodrigues
Terapeuta em Pediatria (natural do Huambo e a residir nos EUA)

A minha intervenção critica a atitude oportunística da vice-presidente do MPLA, na sequência do fuzilamento de uma zungueira. Quem não é capaz de interpretar um texto, agarrando-se como um náufrago a um título e esquecendo o conteúdo, não tem autoridade intelectual e moral para o criticar.

Não faço, nem nunca fiz, parte de qualquer instituição dedicada à propaganda (demagógica) e nunca fui pago para tentar impor sofismas e vulgarizar falácias.

Em segundo lugar pretendo esclarecer que “não se deve confundir a árvore com a floresta”. O autor desse protesto de repulsa tem um nome, sou eu, e é demasiado oportunismo demagógico (apesar de habitual) um ataque generalizado ao Folha 8.

O meu objectivo foi criticar uma atitude fotografada e propagandeada que considero vergonhosa. As “Falsas Virgens” do DIP do MPLA ficariam mais conformadas se eu, em vez de utilizar o adjectivo “nojenta”, classificasse essa atitude como repugnante, asquerosa, oportunística, saprófita, parasitária, necrófila, ou usasse outras palavras com o mesmo sentido para protestar contra a falta de ética da vice-presidente do MPLA?

A zungueira Juliana Cafrique foi fuzilada pela polícia ao serviço do MPLA. De acordo com relatos publicados, a vice-presidente do MPLA, que nunca se preocupou com a situação de pobreza em que vivia a Juliana Cafrique, foi muito atrapalhadamente apressada prestar apoio à família “como mãe e mulher” e aproveitou a oportunidade para se deixar fotografar com um menor, órfão, ao colo. Esta é uma enorme falácia, uma exagerada hipocrisia. Esta vulgarização da fotografia revela uma doentia falta de ética e desrespeito pelos direitos (universalmente consagrados) da criança.

A nossa prática profissional diz-nos que nestas situações a confidencialidade dos menores deve ser respeitada até ao máximo pormenor e o apoio aos órfãos e à família em geral deve ser efectuado, com o maior respeito e confidencialidade, por técnicos especializados em psicoterapia de situações traumáticas.

Não consta que a vice-presidente do MPLA seja especialista em psicologia para poder ser terapeuta de acidentes traumáticos.

Assim sendo, essas visitas apressadas e atrapalhadas só demonstram uma enorme falta de honestidade e de respeito pelos mais elementares valores humanos, nomeadamente das crianças.

O anquilosamento mental e a falta de capacidade interpretativa de um texto por parte do autor/a do comunicado do DIP do MPLA é de tal modo alarmante que ele/ela chega ao cúmulo de acusar o meu texto de protesto de ofensa a todas as mulheres de Angola. É necessário um enorme analfabetismo sistémico para exprimir tanta estupidez.

Angola tem muitíssimos exemplos de mulheres de elevado valor profissional e humanitário e quase todas elas exercem a sua actividade altruista no anonimato. A vice-presidente do MPLA, que não é psicoterapeuta de situações traumáticas, pelos vistos, parece querer parecer ser mais do que aquilo que realmente é.

A jovem adulta Sita Valles foi torturada e fuzilada pelo MPLA, nos acontecimentos do 27 de Maio de 77, e deixou uma criança órfã. Não consta que durante a adolescência ou já na idade adulta a vice-presidente do MPLA, como adolescente/adulta/mãe/mulher tivesse ido prestar solidariedade à família da Sita.

A jovem adulta Laurinda Gouveia foi brutalmente espancada numa esquadra da polícia do MPLA de Luanda, por pertencer aos Revus, defensores da implantação da democracia em Angola. Não consta que a vice-presidente do MPLA, que aparece em diversas fotografias “mascarada” de militante da OMA, antes de ocupar este cargo ou depois de ter tomado posse, tivesse sido fotografada a prestar solidariedade à Laurinda pelo desrespeito dos direitos da mulher e de ser humano em geral, e classificasse como “nojenta” a selvajaria brutal da polícia ao serviço do MPLA.

São por demais conhecido os relatos do Rafael Marques acerca dos “Pelotões da Morte” em Luanda e noutras províncias. Nunca vimos fotografias da vice-presidente do MPLA a prestar solidariedade, como mãe e mulher, às mães e famílias do jovens assassinados.

Há vários relatos de assassinatos nas Lundas devido ao uso abusivo da autoridade por parte da polícia ao serviço do MPLA, para proteger os interesses dos Senhores da Guerra, sobrealimentados, a residirem em Luanda e a viajarem pelo estrangeiro para pavonearem ostentação. Nunca vimos reportagens fotográficas da vice-presidente do MPLA a prestar solidariedade às mães e outros familiares dos cidadãos assassinados.

Também nunca lemos qualquer protesto publicado pela vice-presidente do MPLA ou pelo DIP do MPLA criticando a NOJENTA atitude de indemnizar essas famílias com um caixão, sacos de fuba e de feijão, garrafões de óleo vegetal… Nos países civilizados a vida humana tem muitíssimo mais valor e, pelas indemnizações atribuídas pelo MPLA, em Angola está terrivelmente subvalorizada para quem não for dirigente do MPLA.

É demasiado palerma e atabalhoada a atitude falsamente feminista adoptada pelo autor/a do comunicado do DIP do MPLA, sabendo que a sociedade angolana é fundamentalmente machista.

Considerar uma critica à atitude apressada e atrapalhadamente oportunista da vice-presidente do MPLA como violação dos princípios éticos e deontológicos que regem o jornalismo responsável é uma completa demonstração do que é não saber o que é Liberdade de Opinião.

Não é de admirar que isso aconteça no DIP do MPLA porque, ainda recentemente, jovens adultos angolanos foram considerados criminosos e condenados a pesadas penas de cadeia por estarem a ler um livro, sendo esse acto considerado tentativa de golpe de estado para derrubar o presidente.

A terminar queremos reafirmar que não recebemos lições sobre Direitos da Criança do DIP do MPLA. Esse ensinamentos, que pomos em prática na actividade profissional diária, foram-nos facilitados por professores universitários de elevada competência profissional, em universidades onde o Ensino é de qualidade reconhecida a nível mundial, há muitos anos, e são-nos ministrados, em acções de formação profissional continua, no local de trabalho.

Haja respeito pelo Direitos das Crianças, pela confidencialidade e pelo luto, o que a vice-presidente do MPLA não demonstrou ter pelo órfão e pela Juliana Cafrique, zungueira fuzilada pela polícia ao serviço do MPLA!

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