1. É uma vergonha o regabofe partidocrata. Vergonha se, convenhamos, os artistas (quase todos fraca qualidade) da nossa praça souberem o que isso significa. Por alguma razão existe um provérbio que nos recorda de que “quem não tem vergonha, todo o mundo é seu”. Mas é pena. Os protagonistas principais deveriam ser os primeiros, à luz da dignidade e da honra de ser servidor público, a dar o exemplo certo. Não o fizeram, não o fazem, não o farão.
Por William Tonet
2. Sou impotente, mas consciente, ao ponto de enxergar, a lama que atola a mente de muitos políticos de pacotilha, chegados aos patamares do executivo, legislativo e judicial, tendo no currículo, apenas o mérito da traição. Juraram fidelidade à nobreza de um projecto, à honorabilidade de princípios de honestidade, à tese de a força da razão estar sempre acima da razão da força. Juraram. Bateram com a mão no peito mas, tão rápido quanto possível mostraram ao que vinham. Ambição pessoal mesquinha.
3. Os cidadãos deixaram de ter referências, quer no partido no poder (a maioria acovarda-se, em defesa das mordomias, atiradas pelo chefe quando, em defesa do país, poderiam criticar, apontar erros e excessos, para um melhor desempenho do chefe bajulado), como nos da oposição, esta, principalmente, prenhe de “comerciantes políticos”, que não se importam de “vender a própria mãe, por 30 dinheiros”. Além disso, esquecem que as coisas cá se fazem, cá se pagam. E ninguém pode aspirar a ser traidor e nunca ser traído.
4. O dinheiro sujo, tal como a ambição desmedida, corrói a mente e a moral, resvalando contra a ética pública e partidária, causando a destruição de projectos e programas de relevância pública. Mas mesmo aí mostram o seu nanismo intelectual, moral e ético. O “saco” tem fundo. De tanto sacar, acabarão por ser, sobretudo individualmente, sacados pelas dívidas que é preciso pagar, pelos compromissos assumidos que terão de honrar junto dos credores. É que não se pode viver em casa alugada sem nunca pagar a renda…
5. Quando falta robustez e higiene intelectual, molas imprescindíveis, na construção de um território ou país, o destino de tão sinuoso afecta a esperança dos cidadãos. Os princípios são alicerces que podem, se forem sólidos, garantir a perenidade de uma casa. Quando não são, limitam-se a untar o umbigo da mesquinha ambição individual, quase sempre coxa e parca em neurónios. Tão coxa que não lhes dará tempo para escaparam aos escombros da derrocada.
6. Na última semana de Fevereiro 2019, o país assistiu, estupefacto, a mais um acto de uma atroz pequenez intelectual, protagonizado por líderes de pequenos partidos políticos (PALMA, PADDA-AP, PNSA, PDP-ANA, PPA) forjados nos POC (Partidos da Oposição Civil), cuja acção partidária limitava-se, à época, aos anexos de uma casa no bairro Maculusso, sem pretensão a acções impactantes, sequer na sala de visitas, capazes de gerarem empatia com os cidadãos eleitores.
Mas, quando a derrocada parecia o destino, desses entes partidários, por falta de recursos e capacidade mobilizadora, eis que surge, em 2012, a mão salvadora de um político, Abel Epalanga Chivukuvuku (saído da UNITA, por contradições e profundas divergências) com ambições ao mais alto caldeirão do país, unido a um exército de seguidores e admiradores, para catapultarem um novo ente-jurídico partidário: a CASA-CE, visando a conquista do poder, nas eleições de 2012.
Se não conseguissem, qualquer que fosse o resultado, lê-se no Acordo de Princípios, assinado entre as formações partidárias e os independentes de Chivukuvuku, a coligação transformar-se-ia em partido político… Está lá para quem sabe ler. E os que dirigentes que não sabem ler podem sempre pedir ajuda.
7. A campanha foi hercúlea e inovadora e só não teve outros voos, devido às limitações da Constituição atípica de Fevereiro de 2010, que impede a eleição nominal de um Presidente da República, arena onde Abel Chivukuvuku poderia ter mais chances de chegar ao poder. Não conseguindo o sonho almejado, nem suplantar o MPLA e a UNITA, inscreveu (em quatro meses de formação: 12 de Maio a Agosto de 2012), em letras garrafais a CASA-CE, com a eleição de oito (8) deputados, tornando-se na terceira força política, ultrapassando a histórica FNLA, PRS e PDP-ANA.
8. Com uma forma peculiar de fazer política, indo ao encontro dos cidadãos, Chivukuvuku deu uma lufada de ar fresco na tensa paisagem partidária, dando, também, visibilidade a ilustres desconhecidos, que lhe emprestaram, apenas, o “alvará político” (reconhecido pelo Tribunal Constitucional), tal como fazem muitos dos nossos kotas, aos “Mamaddou”, que trabalham com os seus alvarás empresariais, em troca de uma avença mensal…
9. Não se acautelando, envaidecido pelos elogios, Abel Chivukuvuku deixou-se bajular até à exaustão, numa estratégia sub-reptícia de não só o afastar de fiéis amigos, como de o enfraquecer, quotidianamente. Nessa caminhada cega, ladeado por lugares-tenentes, que o idolatravam como o novo Messias de Angola, não se apercebeu, ingenuamente, estar a alimentar, alguns “judas”, que alcandorados ao poder legislativo, com as mordomias daí inerentes (parece ser o sonho maior, enquanto políticos), terem sido os responsáveis, por pôr a sua cabeça na “guilhotina política”…
10. Há homens, autênticos animais políticos, esculpidos, especializadamente, na arte de espetar punhais, nos dias da semana, sem R (segunda, quinta, sexta, sábado, domingo) fazendo rodízio, com navalha e facão, nos dias com R (terça, quarta), forma masoquista de domar o alvo. A maioria acredita não ter a CASA -CE pernas para andar, tendo no leme, André Mendes de Carvalho “Miau”, um militar (almirante) disciplinado, estudioso, impoluto financeiramente, mas, também, conhecido como o arquitecto dos golpes de Estado, em Angola, quando nos idos dos anos 90, criou a intriga palaciana de que Alexandre Rodrigues Kito, então ministro do Interior e amigo de José Eduardo dos Santos, Presidente da República, pretendia dar um golpe de Estado, apontando como elementos de prova a criação dos “Ninjas” – a PIR (Polícia de Intervenção Rápida) e a compra de um avião para o ministério do Interior. Com estes elementos, sem direito a contraditório, Alexandre Rodrigues Kito atravessou o deserto e nunca mais voltou a ter a mesma amizade com Eduardo dos Santos, que mais tarde, ao aperceber-se do embuste, em que fora colocado, nunca nomeou “Miau” como, alegadamente, ficara acertado, para os cargos de ministro do Interior, da Defesa ou como Chefe de Estado Maior General das FAPLA, o máximo conseguido, foi o cargo de adido militar no Zimbabwe..
11. Ironia do destino, duas décadas depois, na oposição, “Miau” protagonizou a primeira grande rotura de um alto oficial militar, para abraçar a política activa, como candidato a vice-presidente da República de Abel Chivukuvuku, na chapa da CASA-CE, tornando-se num dos mais acérrimos confidentes do líder. Hoje, na esquina das contradições e aberrações da (baixa) política, coube a “Miau” baixar o braço da guilhotina, naquilo que muitos, justa ou injustamente, consideram uma traição inqualificável. Em sua defesa, diz ter aconselhado o “mano” a ser mais tolerante e ouvir os outros e é na condição de “ouvir os outros” (partidos políticos), “sem ambição pessoal”, indiferente à derrocada da CASA-CE, que assumiu o cadeirão de Abel Epalanga Chivukuvuku.
12. Agora resta esperar que, lá onde o vento faz a curva, a história possa, um dia, julgar, desapaixonadamente, os actos de Alexandre Sebastião André, Manuel Fernando, Sikonda Lolendo, Felé António, André Mendes de Carvalho “Miau”, Abel Chivukuvuku, por terem frustrado as esperanças de milhões de angolanos, principalmente, os 20 milhões de pobres, num projecto que tinha tudo para dar certo, mas que a ambição, vaidades e miopia intelectual de uns poucos, a levou de derrota, em derrota até a derrota final. Em 2020 e 2022 os nomes dos “matadores políticos” poderão ser apagado do mapa partidário, se não houver uma estratégia capaz de credibilizar a sua acção, reganhando a confiança dos eleitores.
[…] post De derrota em derrota <br>até à derrota final appeared first on Folha 8 Jornal Angolano Independente | Notícias de […]