Angola lançou hoje, 58 anos depois, a primeira fase do primeiro censo agro-pecuário da sua história enquanto país independente, projecto orçado em 24,9 milhões de dólares (21,6 milhões de euros) financiados pelo Banco Mundial (BM), indicou hoje fonte oficial. Na verdade é, pelo menos, um segundo lançamento. O primeiro foi em Novembro e chamava-se Recenseamento Agro-Pecuário e Pescas (RAPP).
A cerimónia de lançamento da primeira fase do censo, virada essencialmente para a formação técnica, foi hoje realizada na província de Benguela pelo director do Instituto Nacional de Estatística (INE) de Angola, Camilo Ceita.
Segundo o chefe de Departamento de Inquéritos e Censos do INE, Paulo Fonseca, o processo, que compreende quatro etapas, começa em Março nas províncias de Benguela, Cunene, Cuanza Sul, Moxico e Uíje.
Paulo Fonseca adiantou que a primeira etapa vai estar virada para a formação de pessoal seleccionado para integrar as comissões provinciais e municipais.
A segunda fase decorrerá em Luanda, também em Março (entre dias 11 e 22) e visa formar os futuros formadores, com a terceira a abranger a formação dos agentes no terreno e a última a recolha de dados.
Por sua vez, o director do INE reconheceu alguns desafios que se vão enfrentar durante o processo, solicitando maior colaboração dos administradores municipais, realçando sobretudo as dívidas às autoridades tradicionais ainda por pagar e referentes ao Censo Geral da População, realizado em 2014.
“Eu reconheço que temos uma dívida com as autoridades tradicionais (cerca de seis mil sobas), com os quais trabalhamos durante o Censo Geral da População (2014), mas dificuldades financeiras que se colocaram a partir de Junho de 2014 levaram a essa situação, que espero que seja resolvida tão logo haja recursos”, referiu Camilo Ceita, citado pela agência noticiosa angolana, Angop.
O censo agro-pecuário centra-se na recolha estatística, processamento e divulgação sobre a estrutura da agricultura, pecuária e pescas em todo o país.
O primeiro censo agro-pecuário foi realizado em Angola em 1961, na era colonial portuguesa.
Nasceu duas vezes… pelo menos
Mesmo que não seja para valer, convém ir dando a imagem de que Angola é mesmo um Estado a sério e sério. Recorde-se que o Recenseamento Agro-Pecuário e Pescas (RAPP) 2018-2019 (ou censo) em 28 de Novembro de 2018, em Luanda, para ajudar o Governo a obter dados actualizados e a definir as novas políticas de actuação nestes dois sectores.
O director do Instituto Nacional de Estatística (INE), obviamente Camilo Ceita, que discursou no lançamento, considerou o RAPP uma operação “estatística exaustiva”, diferente do Censo Populacional, dada a especificidade no que concerne ao número de unidades agro-pecuárias e a sua disposição geográfica, tipo de propriedade, uso e aproveitamento da terra, posse e uso de meios de produção e tecnologia empregue.
“O RAPP é um dos recenseamentos mais complicados de se fazer, sobretudo para um país com uma extensão territorial como o nosso e questões como quantas cabeças de gado o país tem, a nossa capacidade de gestão de culturas e a dimensão de terras aráveis: estas e outras questões fazem parte do questionário que teremos de fazer nos próximos 12 meses”, declarou.
Camilo Ceita explicou que o RAPP vai incidir também em outros aspectos como características sociodemográficas de cada região (identificadas no seio dos agregados familiares) das explorações, agrícolas, pecuárias, agro-pecuárias ou piscatórias, acesso aos insumos, recursos humanos, maquinaria, posse e uso de terra, irrigação, culturas anuais e permanentes, efectivo pecuário e acesso aos serviços veterinários.
O programa do RAPP, segundo o Jornal de Angola, prevê consultas públicas em várias regiões do país.
No dia 28 de Novembro do ano passado foi realizado um encontro com as direcções nacionais e provinciais da Agricultura e Pescas, associações empresariais, sociedade civil, engenheiros agrónomos e investigadores científicos da região norte que compreende as províncias de Luanda, Uíge, Cabinda, Zaire, Bengo e Cuanza-Norte.
De 16 a 18 de Dezembro, segundo Camilo Ceita, as consultas seriam feitas em duas regiões em simultâneo, Centro-Sul e Leste. A ideia, disse Camilo Ceita, é recolher contribuições destas instituições para o reforço do programa do RAPP. O INE prevê apresentar os dados do RAPP no último trimestre de 2019.
O RAPP 2018-2019 foi aprovado pelo Decreto Presidencial nº 189/18, de 7 de Agosto, que estabelece as normas para a sua realização, e o Decreto nº 194/18, de 20 de Agosto.
No projecto está envolvido o INE, ministérios da Agricultura e Florestas e das Pescas e do Mar, bem como o Fundo das Nações Unidas para a Alimentação (FAO).