A Xôvernadora

O Nicolau Chateado andava com um aspecto muito desconfiado, depois de ouvir dizer que no Huambo têm uma nova governadora. Soube desta notícia muito tempo depois da senhora ter-se apoderado do cargo. E porque é que o Nicolau Chateado andava com aspecto desconfiado?

Por António Kaquarta

É simples. A senhora tomou posse sem ele ter conhecimento da eleição para governador(a) do Huambo. Foi ao Bairro de São Pedro pedir informações sobre a dia em que decorreu a eleição da governadora do Huambo… mas o São Pedro respondeu-lhe: “Não sei de nada… não ouvi dizer nada! Eu também não participei na votação dessa eleição”!

Foi ao bairro de Benfica para saber o dia em que decorreu a eleição da governadora do Huambo mas ficou mal visto. Um militante do MPLA disse-lhe: “Num és dus tua conta”!

Foi ao bairro do Chiva para tentar saber informações acerca da data em que decorreu a eleição da governadora do Huambo… No bairro do Chiva não conseguiu obter a informação desejada porque estava a chover. No bairro do Chiva chove muito. As pessoas estavam todas fechadas em casa para não se molharem. Não bateu às portas com receio de que as pessoas reagissem violentamente, pensando que o Nicolau Chateado era um daqueles fiscais que anda a tentar receber o dinheiro dos novos impostos.

Foi ao bairro de São João mas o São João disse que não queria falar sobre esse assunto e avisou o Nicolau Chateado, muito rispidamente: “Xê minino eu num fala pulítica”!

Foi ao bairro de São José para tentar obter informações sobre a eleição da governadora do Huambo mas o São José não estava. O São José tinha viajado para Barcelona, em visita privada, com o objectivo de receber tratamento médico.

Foi ao bairro Académico mas não conseguiu encontrar os habitantes deste bairro. Estavam todos nas universidades Agostinho Neto, José Eduardo dos Santos e Kundi paiLama a leccionar ou a aprender a falar kangambês.

Foi ao bairro do Kamilikinhento, vulgarmente conhecido pelo nome de Kamiliquasenada, por a população trabalhar no mercado informal e ganhar quase nada ou viver do salário mínimo nacional. Um dos habitantes, quando o Nicolau Chateado lhe perguntou se sabia do dia em que decorreu a eleição da governadora do Huambo, respondeu: “Eu tamém num sei, istou a viver ouvi pouco tempus nêssê bairro”!

O Nicolau Chateado pensou em desistir da investigação mas, porque é muito teimoso, ainda foi tentar saber quando e quem elegeu a nova governadora do Huambo no bairro da Kalumanda.

Já no bairro da Kalumanda avistou um cidadão que estava a plantar tomateiros, numa pequena horta à porta de casa, e disparou a pergunta:

– Ó Senhor dos tomates, sabe quando e quem elegeu a nova governadora do Huambo?

O homem que estava a plantar tomateiros, deixando de fazer sombra à barriga, levantou o tronco para a vertical e, com um ar irónico, muitíssimo sarcástico, respondeu:

– Os governadores do Huambo não são eleitos. No tempo colonial dos portugueses os governadores do Huambo eram nomeados através de ordens superiores vindas de Lisboa. Agora os governadores do Huambo são nomeados pelos colonos de Luanda.

O Nicolau Chateado tentou disfarçar a sua vontade de rir, às gargalhadas, por se recordar que os noticiários da TPA e da RNA, na noite anterior, não se cansavam de informar que agora a República da Angola do MPLA é um país democrático. Despediu-se do agricultor urbano do bairro da Kalumanda fazendo votos de que a plantação de tomateiros viesse a produzir tomates muito grandes.

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