A voz da experiência

De acordo com a Angop, o ministro da Comunicação Social de Angola, João Melo, desencorajou, em Luanda, actos de extorsão praticados por “pseudo-jornalistas”, que se tornaram – disse – comuns na sociedade angolana. Tem razão. Como jornalista que foi, certamente que a sua própria experiência é fundamental para esta análise, para esta lição de “educação patriótica”.

Por Orlando Castro

“N ão devem ceder à chantagem e à extorsão de pseudo-jornalistas que existem na nossa sociedade. O nosso conselho é não ceder a chantagem, se não ficamos nas mãos dos jornalistas”, alertou o governante, quando dissertava sobre a “comunicação e segurança pública num Estado Democrático e de Direito”, dirigido aos quadros e dirigentes do Ministério do Interior.

É um bom conselho. Pena é que o ministro meta todos os jornalistas no mesmo saco e não tenha a coragem, a honestidade, a verticalidade para pôr os nomes aos bois. Ou será que está apenas a falar dos “pseudo-jornalistas” dos órgãos públicos sob sua tutela? Ou será que já apresentou queixa-crime contra esses indivíduos que fazem “chantagem e extorsão”?

João Melo aconselha que as potenciais vítimas gravem eventuais tentativas de extorsão e chantagem, de modo a encaminhar essas provas para os tribunais. Nada como ouvir os conselhos de quem há muito anda neste meio. Neste e noutros. Presume-se que o ministro não se ofenda se se alargar este aviso aos pseudo-políticos, aos pseudo-empresários, aos pseudo-funcionários púbicos, aos pseudo-dirigentes partidários etc..

O ministro recomendou aos dirigentes para não corromperem os jornalistas. “Na gíria jornalística, diz-se o seguinte: o jornalista quer duas coisas, ou informação ou dinheiro. O problema é quando nos enganamos e vamos dar dinheiro a quem quer informação ou o contrário. Como é difícil saber, o nosso conselho é não ir para essas práticas”.

Esta tese de João Melo é digna, reconhecemos, de um Prémio Pulitzer. Ele fala de cátedra nesta matéria. É mesmo perito dos peritos. Se ele, tarimbado na matéria, diz que o jornalista ou quer informação ou dinheiro, é porque é mesmo assim. Certamente numa próxima oportunidade dirá se esses pseudo-jornalistas são muitos ou poucos, se são a maioria…

Sobre a palestra, o ministro defendeu uma maior abertura dos órgãos de segurança pública à sociedade, antecipando-se sempre na divulgação da informação e, é claro, evitando assim ser chantageados ou extorquidos. Poderão igualmente fazer um acordo, que nada tem a ver com chantagem ou extorsão, para colocar elementos seus nas redacções com a superior e patriótica missão de reproduzirem, ipsis verbis, os “press release” enviados pelos patrões.

O ministro explicou aos dirigentes e quadros do Ministério do Interior (MININT) que a não observância da rapidez e antecipação na divulgação da informação, pode fazer com que os órgãos de segurança pública corram riscos de serem ultrapassados, nessa era da globalização.

João Melo recomendou uma actividade mais pró-activa para se ter sucesso, ou seja, os órgãos de segurança pública devem ser os primeiros a noticiar a sua perspectiva, porque quem sair na dianteira, divulgando o facto sobre a sua perspectiva, sai logo em vantagem e impõe a sua versão.

Lapidar, senhor ministro João Melo. Nada como ser o primeiro a divulgar que, por exemplo, resgataram a obra-prima do Mestre. Essa será a versão que ficará, até porque (é isso, não é?) os jornalistas são matumbos e não vão perceber que, afinal, o que foi resgatado foi a prima do mestre de obras.

Face à complexidade da sociedade cada vez mais informada, João Melo advertiu que os problemas não devem, em princípio, ser escondidos, exemplificando que se a criminalidade está a aumentar, deve-se dizer, porque o cidadão já sabe e vive os tais problemas.

Boa. Em princípio. Isto é, a verdade deve ser revelada desde que seja a nossa verdade. Quando é a verdade dos outros… as coisas piam mais fino. Por exemplo: os jornalistas (se calhar neste caso são, oficialmente, considerados pseudo) teimam em dizer que Angola tem 20 milhões de pobres. Mas esta é uma verdade relativa. Muito relativa. Por isso, sem negar a existência de pobres, as instituições públicas devem esclarecer que, por exemplo, no círculo dos altos dignitários do regime não há… fome.

“Deve-se, às vezes, quando a necessidade obrigar, omitir mas nunca mentir, por não ser uma boa estratégia de comunicação. Dá resultados, mas só a curto prazo e não recomendo”, aferiu, destacando a importância da comunicação na prevenção de crimes.

E quando algum jornalista teimar em não mentir nem omitir, talvez possam arriscar a perguntar-lhe quanto quer para estar calado. E se ele teimar em não estar calado, há sempre o recurso ao aviso (obviamente informativo e pedagógico) de que os jacarés continuam a ser carnívoros e têm uma fome insaciável.

João Melo sugeriu ainda a necessidade de se potenciar os Gabinetes de Comunicação Institucional e Imprensa, planificar as acções de comunicação, recorrer às agências e especialistas, assim como ter gabinete de risco, para se ter sucesso na estratégia de comunicação.

“A comunicação não faz milagre, por mais ágil e brilhante que seja, o determinante é fazer as coisas bem ou demonstrar à sociedade que estamos a esforçar-nos para fazer as coisas bem”, finalizou o ministro emérito da Comunicação Social.

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